Baterista, pediatra, alergista e atleta olímpico. Poderíamos estar escrevendo sobre pessoas diferentes, mas o médico e ex-arqueiro Jorge Azevedo abraça todas essas profissões.
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Aos 74 anos, gosta de estudar, ler e tem em sua rotina como palavra-chave organização, para que possa envolver lazer, trabalho e áreas pelas quais têm interesse em se aprofundar. Para ele, os dias deveriam ter mais horas. “É preciso viver a vida ao máximo”, relata.
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Com os Jogos Olímpicos de Paris em andamento, relembra os seus tempos de treinamentos no tiro com arco. Jorge é um dos seis brasileiros homens que representou o País na competição.
Trajetória
Em seu currículo esportivo, o morador de Canela há mais de 30 anos tem centenas de medalhas e troféus. Começou cedo no esporte, ainda no Rio de Janeiro, de onde é natural. Aos 11 anos, iniciou em um projeto social no Clube Vasco da Gama. “Não tinha dinheiro para pagar, ofereceram de forma gratuita”, conta.
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Mas se engana quem pensa que foi como arqueiro que iniciou sua trajetória. Foi na natação. Ainda, depois, foi chamado para fazer parte de projeto de salto ornamental. “Me viram pulando num trampolim de brincadeira e me convidaram. A minha altura não impactava no esporte. Saltei uns 10 anos, fui campeão carioca”, afirma.
Desistiu do esporte quando passou no vestibular de medicina, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Não consegui conciliar as duas coisas, até tentei mudar de clube, mas o treino era muito intenso”, justifica.
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Em um show de Acqua Loucos, que mesclava os saltos com comédia, em uma inauguração, conheceu um atleta de ginástica olímpica, que também praticava o tiro com arco. O ano era 1975. “Ainda estava na faculdade. Mas como eu tinha um preparo físico bom, em um ano e meio entrei na equipe brasileira”, salienta.
Destaque
Logo Jorge começou a brilhar em competições. Foi campeão brasileiro cinco vezes e vice-campeão seis. Bateu recordes brasileiros e igualou o mundial na categoria 30 metros, no Pan-Americano de Indianópolis. O seu feito durou dez anos até ser batido.
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“Comecei a competir internacionalmente, foram dois Pans, quatro mundiais, uma Olimpíada e vários campeonatos das américas, que são as mesmas equipes do Pan, mas que reúnem apenas o tiro com arco. Fui campeão também latino-americano”, celebra.
Eram quatro horas dedicadas por dia aos treinos, carregando o equipamento que pesa até 1,5 quilo. “Enquanto meus colegas de trabalho faziam consultório, tiravam plantão e mais alguma coisa, eu estava apenas nos plantões. Não ganhava, mas conheci muitos países, mais de 20”, afirma, contando sobre histórias que viveu na Colômbia, Argentina, Coreia do Sul, Estados Unidos, Austrália, Itália, Alemanha, e por aí vai.
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Relação com a região
Em 1988, participou de um campeonato brasileiro no Sesi, em Canela. “Conheci a região e gostei muito. E disse ‘um dia ainda vou morar nesse lugar'”. O lugar o premiou com a medalha de ouro no individual e por equipes.
Foi após os Jogos Olímpicos na Coreia que pediu transferência do emprego federal para o município canelense. Ele era servidor do Ministério da Saúde. Foi na cidade que foi deixando o esporte, para se dedicar à profissão.
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“Era muito diferente de hoje, não tinha apoio nenhum para treinamento. Tu quem tinha que comprar teu material, tuas flechas. Quando tu ficava muito bom no nível de competir internacional, o comitê olímpico pagava passagem, alimentação e hospedagem. Fora dali, era contigo. E aí tu para e pensa que não vai ser atleta de alto rendimento a vida toda”, pontua sobre sua aposentadoria esportiva, na época com 42 anos.
“Ali é uma reunião de campeões”
Azevedo participou dos Jogos Olímpicos de 1988, em Seul, na Coreia do Sul. “Foi inesquecível, de 120 fiquei em 60. O Brasil, na época, não tinha participação internacional, eu e Renato Emílio que fomos os primeiros homens a aparecer no tiro com arco internacional. Muitas vezes o europeu nos olhava com admiração, por estarmos ali. É uma experiência única.”
Para ele, todo mundo se torna amigo, pois são profissionais com quem já convivem em outras competições. “A rivalidade muitas vezes não existe como é mostrada, o cara vai lá para fazer o que sabe e as vezes é suficiente para vencer. Ali é uma reunião de campeões. Porque, pelo menos, tu é um campeão nacional, todo mundo domina a técnica, tem um perfil psicológico parecido. O que varia é a qualidade de treino, conforme o País e o apoio que recebe.”
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No complexo montado, lembra do refeitório, do esquema de segurança rígido para entrar mesmo com credencial e de mais de uma dezena de prédios, que abrigavam 50 mil pessoas, entre atletas, jornalistas e equipes. “Era uma cidade, tinha até banco, correio. A portaria era como uma entrada de aeroporto. Tínhamos o horário para treinar, saíamos com o ônibus e ele não parava em lugar nenhum”, explica.
Entre as visitas ilustres que pôde presenciar, estiveram a rainha Elizabeth II e o príncipe de Mônaco. De lembrança, tem placas, pelúcia do mascote da edição e as medalhas de participação. Até mesmo o número de inscrição é guardado com muito carinho pelo ex-arqueiro.
Momento de superação
Para Jorge, uma experiência que o marcou e que se tornou seu maior desafio diz respeito à um episódio em que não teve a oportunidade de participar da Olimpíada de Moscou, em 1980. “Eu era campeão brasileiro, recordista brasileiro, fui campeão latino-americano na Venezuela, e tudo no ano da Olimpíada. Mas outra pessoa quem foi para os jogos. Por questão política”, lamenta.
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Para ele, o ato o marcou mais, pois poderia ter grandes chances de ser, inclusive, campeão. “Nos jogos de Moscou, os Estados Unidos, que dominavam o esporte na época, boicotaram. E quem venceu foi um finlandês, com a pontuação de 1234. Foi exatamente o mesmo número de pontos que fiz na Venezuela. Não sei se as condições de temperatura e vento eram as mesmas. Mas fiquei muito chateado e fui velejar”, diz, que também competiu por dois anos nessa modalidade.
Já a competição que tem um lugar especial no coração do arqueiro foi um Campeonato das Américas, na Venezuela. “No final da competição por equipes apareceu Estados Unidos em primeiro, Cuba em segundo e Brasil em terceiro. Daqui a pouco veio uma conferência e viram que tínhamos empatado com os cubanos e fomos para o desempate. Já estávamos até desmontando o arco. E aí nisso massacramos Cuba, fizemos um dos melhores resultados da equipe brasileira em um campeonato internacional e ficamos com a prata”, emociona-se.
Alergista e pediatra
Jorge primeiro fez a especialização em pediatria. Era algo que já tinha desejo desde o andamento do curso de medicina, no estado carioca. Ao trabalhar em uma clínica de urgência infantil, conheceu um alergista famoso, que o estimulou a fazer residência na área, e se tornar um pediatra alergista. Foram dois anos e meio de curso.
“Quando vim para cá, só fazia alergia pediátrica, mas não tinha alergista e começou a aparecer adultos também. Como eu também tinha experiência em alergia de pele, pois trabalhei num serviço de dermatologia na Santa Casa, aí não atendi só crianças”, conta.
O médico ainda atendeu além do consultório, nos postos de saúde e foi assessor na Secretaria de Saúde. Com isso, fez mestrado em Epidemiologia.
Aventuras pela bateria
Azevedo era apaixonado pela música desde quando morava no Rio de Janeiro. “Não tinha acesso a professor, também era pobre, não tinha como comprar instrumento. Quando tinha dinheiro, já não tinha mais tempo. A gente perdia muito tempo em engarrafamento lá. E quando viemos para cá, como não tinha, começou a me sobrar tempo livre e estudar música de novo”, diz.
Ele estudou com Kiko Freitas, baterista do músico João Bosco.
A banda, chamada The Doctles, tem cerca de 13 anos e já está em sua segunda formação. O nome mescla Doctors (em inglês, médicos) com Beatles. Praticamente todos os membros são médicos. O que dificulta, também, os ensaios, devido aos plantões. “Até em doação de sangue a gente já tocou”, frisa.
Mas Jorge também faz trabalhos individuais e com outros artistas. São mais de 200 músicas, entre rock antigo, brasileira, MPB, entre outras, que possui em seu repertório.