A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) fez nesta terça-feira (19) seu balanço anual e revelou as perspectivas do setor para 2024. “Nem tudo são flores. Foi um ano de enormes desafios”, disse o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, ao abrir evento, em Porto Alegre.
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, repassou 2023 e projetou os cenários que o agronegócio gaúcho pode enfrentar no próximo ano. “Em 2023 devemos ter um crescimento do PIB puxado pelo agro. Nossa produção [do Rio Grande do Sul] de grãos deve aumentar 8,1%. Parece que está bem, mas não está. É uma comparação de um ano ruim com um ano péssimo”, disse.
Para Antônio da Luz, “o maior problema do agro no momento” é a defasagem de preços dos produtos. Citou a soja como exemplo: o valor caiu 26% em um período de três meses a partir do início da colheita em 2023.
De acordo com o economista, o principal gargalo se encontra na logística. “Precisamos evoluir na logística. O agro está colocando dinheiro no lixo. 35% do que se exportou no porto de Rio Grande veio de outros Estados. Não temos mais infra-estrutura”, adverte.
O economista listou ainda três pontos que estão distantes da lavoura mas podem representar riscos aos produtores gaúchos em 2024. O primeiro deles seria uma eventual recessão global. “Não sabemos se vai ter, mas não podemos negar a possibilidade disso ocorrer”. O impacto incluiria uma forte queda no preço das commodities, redução significativa na demanda por algodão e carnes, aumento do custo do dinheiro e escassez de crédito e tendência de redução do preço do petróleo.
As outras duas ameaças listadas por Antônio da Luz são a elevação dos juros e uma eventual quebra do setor imobiliário chinês. Com a alta dos juros, ocorreria uma escassez de recursos, a dificuldade de manter a trajetória de queda da taxa Selic e menor crescimento econômico.
No caso de uma crise imobiliária na China, haveria uma queda significativa na demanda por commodities. A orientação geral do economista para se prevenir diante de tais ameaças é o corte de custos, o fortalecimento da liquidez e a máxima preservação do caixa.
Presidente da Farsul destaca insegurança jurídica e questões ambientais
Em seu pronunciamento, o presidente da Farsul destacou a participação da entidade nas principais discussões ambientais do momento, entre elas a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no início de dezembro.
“Lá se apresentou a grande questão do momento”, disse Gedeão, referindo-se ao questionamento de como garantir o abastecimento mundial atendendo as exigências de segurança alimentar, segurança energética e de segurança ambiental.
O presidente destacou ainda o que considera a causa de maior apreensão no agronegócio. “Temos uma profunda preocupação. O campo não funciona com insegurança jurídica”, afirmou, listando as pressões enfrentadas pelo setor no campo ambiental, os conflitos decorrentes de invasões de terras e os embates com públicos como quilombolas e indígenas. “Discutimos qualquer coisa. Mais seca ou menos seca, maior preço ou menor preço, mas nosso calcanhar de Aquiles é a insegurança jurídica sobre o direito de propriedade.”
O diretor vice-presidente e coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Farsul, Domingos Lopes, enfatizou o destaque do Rio Grande do Sul no campo ambiental. “O Estado é o maior exemplo de sustentabilidade do mundo. Não é a Farsul que diz isso, mas organismos como a FAO (sigla em inglês para Food and Agriculture Organization, ou Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura)”.
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