NEGÓCIOS

SETOR CALÇADISTA: O que explica as mais de 7 mil demissões na indústria entre janeiro e novembro?

Redução é de quase 7% em relação ao mesmo período de 2022; representante do setor diz que "momento é conturbado"

Publicado em: 04/01/2024 20:42
Última atualização: 04/01/2024 20:43

Balanço parcial com números dos 11 primeiros meses de 2023 aponta que a indústria calçadista brasileira fechou 7,6 mil postos formais de trabalho no período. A redução chega a quase 7% na comparação com o mesmo período do ano anterior.


Indústria calçadista é um dos motores da economia do RS Foto: Adriano Furlanetto/Prefeitura de Três Coroas

Levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) revela que somente em novembro passado foram 5,8 mil demissões, praticamente dois terços do total do ano. O setor chegou a dezembro com 288,65 mil empregados em todo o País.

O Rio Grande do Sul é o Estado que mais emprega: 85,1 mil pessoas. Ainda assim, o número dos 11 primeiros meses de 2023 é 5,6% menor que em igual período de 2022. De janeiro a novembro foram quase 2 mil cortes nas indústrias calçadistas gaúchas.

Segundo empregador da atividade no Brasil, o Ceará viu sua indústria perder 2,47 mil postos entre janeiro e novembro. Somente em novembro foram 1,62 mil demissões. Com isso, a indústria calçadista cearense encerrou o penúltimo mês do ano empregando 65,9 mil pessoas, 6,2% menos do que no mesmo mês de 2022.

O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, avalia que a indústria calçadista nacional passa por um momento bastante conturbado, tanto no mercado interno quanto externo.

"Ao longo do ano, até novembro, vimos o mercado doméstico encolher 6% e o internacional mais de 14% em volume. É um período ainda muito complicado para o setor calçadista e, claro, o fato é refletido no emprego", ressalta o dirigente.

Taxa de importação

Segundo ele, a indústria tem sentido também a concorrência desleal com calçados importados sem qualquer tributação, via plataformas internacionais de e-commerce. "Desde agosto, os calçados estrangeiros vendidos via essas grandes plataformas passaram a não pagar tributos de importação. É uma concorrência desleal diante de uma indústria nacional que paga seus impostos em cascata, como a nossa", alerta.

Desoneração da folha

Em comunicado emitido nesta quinta-feira (4) a Abicalçados diz que aguarda com preocupação o desfecho da novela da continuidade ou não da desoneração da folha de pagamento. O calçadista é um dos 17 setores da economia com o benefício que começa a ser cortado pelo governo em abril.

No apagar das luzes de 2023 o Congresso Nacional derrubou, por ampla maioria, veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao fim da desoneração e prorrogou o benefício até 2027. No entanto, o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) editou medida provisória desfazendo aquilo que o Congresso havia aprovado.

O assunto é polêmico e opõe governo e Congresso. Na semana que vem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), vai reunir os líderes dos principais partidos na Casa para avaliar o assunto. A tendência é que, na volta do recesso, o Congresso derrube a MP de Haddad, mantendo a desoneração.

O dirigente da Abicalçados alerta que, caso a medida provisória do governo seja mantida, com efeitos a partir de abril, o setor calçadista deverá sofrer uma forte onda de demissões ao longo de 2024. "O que está ruim pode piorar com uma carga extra de R$ 720 milhões por ano somente para a indústria de calçados", afirma.

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