Balanço parcial com números dos 11 primeiros meses de 2023 aponta que a indústria calçadista brasileira fechou 7,6 mil postos formais de trabalho no período. A redução chega a quase 7% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) revela que somente em novembro passado foram 5,8 mil demissões, praticamente dois terços do total do ano. O setor chegou a dezembro com 288,65 mil empregados em todo o País.
O Rio Grande do Sul é o Estado que mais emprega: 85,1 mil pessoas. Ainda assim, o número dos 11 primeiros meses de 2023 é 5,6% menor que em igual período de 2022. De janeiro a novembro foram quase 2 mil cortes nas indústrias calçadistas gaúchas.
Segundo empregador da atividade no Brasil, o Ceará viu sua indústria perder 2,47 mil postos entre janeiro e novembro. Somente em novembro foram 1,62 mil demissões. Com isso, a indústria calçadista cearense encerrou o penúltimo mês do ano empregando 65,9 mil pessoas, 6,2% menos do que no mesmo mês de 2022.
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, avalia que a indústria calçadista nacional passa por um momento bastante conturbado, tanto no mercado interno quanto externo.
“Ao longo do ano, até novembro, vimos o mercado doméstico encolher 6% e o internacional mais de 14% em volume. É um período ainda muito complicado para o setor calçadista e, claro, o fato é refletido no emprego”, ressalta o dirigente.
Taxa de importação
Segundo ele, a indústria tem sentido também a concorrência desleal com calçados importados sem qualquer tributação, via plataformas internacionais de e-commerce. “Desde agosto, os calçados estrangeiros vendidos via essas grandes plataformas passaram a não pagar tributos de importação. É uma concorrência desleal diante de uma indústria nacional que paga seus impostos em cascata, como a nossa”, alerta.
Desoneração da folha
Em comunicado emitido nesta quinta-feira (4) a Abicalçados diz que aguarda com preocupação o desfecho da novela da continuidade ou não da desoneração da folha de pagamento. O calçadista é um dos 17 setores da economia com o benefício que começa a ser cortado pelo governo em abril.
No apagar das luzes de 2023 o Congresso Nacional derrubou, por ampla maioria, veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao fim da desoneração e prorrogou o benefício até 2027. No entanto, o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) editou medida provisória desfazendo aquilo que o Congresso havia aprovado.
O assunto é polêmico e opõe governo e Congresso. Na semana que vem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), vai reunir os líderes dos principais partidos na Casa para avaliar o assunto. A tendência é que, na volta do recesso, o Congresso derrube a MP de Haddad, mantendo a desoneração.
O dirigente da Abicalçados alerta que, caso a medida provisória do governo seja mantida, com efeitos a partir de abril, o setor calçadista deverá sofrer uma forte onda de demissões ao longo de 2024. “O que está ruim pode piorar com uma carga extra de R$ 720 milhões por ano somente para a indústria de calçados”, afirma.
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