A indústria calçadista brasileira vive um momento de incertezas frente ao mercado internacional e questões nacionais, como a desoneração da folha de pagamento que ainda é pauta de votação no STF. Apesar de algumas indefinições, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) divulgou na manhã desta terça-feira (30), projeções positivas para a produção calçadista brasileira.
A partir da pesquisa apresentada no Análise de Cenários, a entidade informou que a produção calçadista no País deve ter incremento em 2024 entre 0,9% e 2,2%, uma média de 1,6%. No ano passado, a produção registrou queda de 2,3%. Analisando apenas os dois primeiros meses do ano o crescimento foi de 8,8%, em relação ao mesmo período de 2023.
“Não são taxas muito significativas, mas é um cenário de reversão da queda. Ancorado muito mais no mercado doméstico do que nas exportações. Mas o retorno ao pré-pandemia deve ser em 2025”, ressalta a coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, que apresentou os dados juntamente com o doutor em Economia e consultor setorial Marcos Lélis.
Entre os estados com maior ganho de participação em produção, levando em consideração a variação anual, estão Rio Grande do Sul, Ceará, Paraná e Bahia. E entre os estados que mais perdeu participação está a Paraíba.
Em relação aos materiais produzidos, registrando variação anual da produção e participação das unidades da Federação (pares), a principal queda registrada é em calçados com materiais plásticos/borracha, justamente um dos mais produzidos na Paraíba. Em contrapartida, houve aumento na produção de laminados e sintéticos.
Exportações em queda
Enquanto a recuperação na produção dos pares é esperada, as exportações devem seguir em ritmo de desaceleração. As exportações devem fechar o ano com queda entre 5% e 9,7%, conforme a pesquisa realizada pela Abicalçados. A “invasão” de produtos asiáticos segue sendo um dos motivos.
“Isso também muito associado ao que acontecerá com os Estados Unidos, se houver desaceleração vai refletir nos calçados”, destaca Lélis.
Já no consumo aparente a projeção é de ficar entre 2,4% e 3,8%. “É um crescimento maior do que o esperado pra produção, mostra o aumento no peso do mercado interno na destinação da nossa produção”, explica Priscila.
Remessa Conforme e desoneração
A análise levou em conta o cenário verificado no Brasil no início de 2024. Mas, algumas interferências poderão modificar os dados, como o fim da desoneração da folha de pagamento, que afeta diretamente a indústria do calçado e a isenção da taxa de importação para compras em plataformas digitais de até 50 dólares, através do programa do governo federal Remessa Conforme.
“Sobre a isenção da taxa para estes produtos importados via plataformas digitais, não temos nitidamente um impacto mensurado. Mas, sabemos que no ano passado tivemos um efeito negativo sobre a base de empregos, registrando queda no estoque de emprego do setor. O que a indústria e o varejo defendem são condições igualitárias. Sobre a desoneração, o que podemos ter, caso a medida seja suspensa, é a reversão deste cenário”, destaca a coordenadora Inteligência de Mercado da Abicalçados.
Cenário econômico
De acordo com o doutor em economia, a principal “pedra no caminho” que poderá interferir na trajetória de crescimento na economia brasileira é a taxa de juros.
“Já falamos no ano passado e hoje é mais evidente. O principal desafio na economia brasileira é a questão dos juros, não sabemos qual será a velocidade da queda da taxa de juros. Temos também a questão da inflação. A inflação de alimentos voltou um pouco no começo do ano e isso dificulta o movimento de queda de juros no Brasil. E tem a questão fiscal, saber se o governo vai conseguir chegar a meta de 0% de déficit primário”, avalia.
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Lélis também lembra da importância do mercado americano. “O investidor vê juros do Brasil e EUA e vê onde é melhor investir. Se os juros americanos caem flexibilizamos muitas coisas. O que vemos em termos de crescimento nos EUA, anualizado, é uma aceleração, mas ocorrendo de forma rápida, o que acende uma ‘luz amarela ‘”, diz o consultor setorial.