O ano de 2024 começou com expectativa positiva no cenário econômico no Rio Grande do Sul com projeções de crescimento de pelo menos 4%. No entanto, as enchentes que assolaram quase a totalidade dos municípios gaúchos em maio mudou completamente o panorama. Então, como fica a situação neste segundo semestre?
Segundo a economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, tudo vai depender do ritmo de retomada e de incentivos do governo federal.
“Era um ano pronto para ser muito bom. Um ano de safra cheia depois de dois anos seguidos de seca. A gente tinha uma expectativa muito positiva. Quando chega a enchente, que não é homogênea, tem alagamentos na região de Porto Alegre, desmoronamentos na Serra, enxurradas nos vales, ela vem e detona nosso segundo trimestre do ano. E o que acontece no segundo semestre? Depende do nosso ritmo de retomada, depende muito da fruição dos valores que serão enviados para o Estado. O que vimos até agora é que veio dinheiro para famílias, em parte mas veio, mas ainda falta muito dinheiro para socorrer as empresas. Quanto mais se demora para fazer o processo de recuperação acontecer, mais você prejudica a retomada plena”, avalia.
A economista observa que as medidas anunciadas pelo governo federal até o momento tem sido consideradas insuficientes pelos empresários gaúchos.
“Os empresários se sentem abandonados. A gente já viveu calamidade como foi a pandemia, mas tínhamos instrumentos para usar como o BEm – Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda. Agora, diferente da pandemia, falamos em destruição da capacidade produtiva. O crédito para as empresas é insuficiente e em alguns casos inexistente. Tivemos até agora a liberação do Pronampe – Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – que em em vigor libera no máximo R$ 150 mil. Mas o que se faz com este valor? Tem gente ainda pagando a pandemia. Qual a pior coisa que pode acontecer em economia? Criar incentivos errados”, diz.
Comércio varejista e empregos
Um dos segmentos econômicos afetados no Estado é o comércio varejista. E conforme a economista-chefe da Fecomércio-RS, assim como o setor de serviços, ele tem a característica de ser permeado por pequenas empresas.
“Do ponto de vista financeiro são as menos saudáveis, as mais frágeis. Muitas vezes são empresas com um caixa super curto e sufocadas com o uso de crédito disponível. Precisamos de recursos a fundo perdido – não reembolsável e gerenciados por agências de fomento- e estamos falando disso para todas as empresas, mas principalmente as menores.”
A economista também falou sobre a queda no índice de empregabilidade. “Tivemos 22 mil postos de trabalho destruídos em maio. Isso é absurdo. O Rio Grande do Sul é o único estado do Brasil que destruiu empresas em maio. E não se pode falar em sazonalidade, que isso já acontecia, porque estamos falando de todos os setores. Porto Alegre não colhe maçã e destruiu quantos postos? Canoas a mesma coisa.”
Expectativa
Apesar da situação atual a economista ainda acredita que pode haver estabilidade e até mesmo crescimento no Estado.
“Apesar de toda esta situação ainda teremos uma safra muito boa, tivemos um primeiro trimestre muito bom. Tudo depende da recuperação. Tudo aconteceu em maio e estamos em julho e ainda esperamos dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Se as coisas andarem podemos até crescer um pouco este ano, mas mais pela safra. Vamos lembrar que a região metropolitana, Serra e vales não dependem do agro, então temos que ver como o setor de serviços vai responder. Temos potencial para terminar com crescimento econômico, porém tudo depende da dinâmica e eficiência. Uma coisa temos que aprender como sociedade: situações extraordinárias pedem soluções extraordinárias. Precisamos de rapidez. E em que frentes? Todas as frentes”, ressalta Patrícia.
Como ficam os negócios?
Negócios de diferentes portes foram diretamente impactados pelas cheias. O que é mais viável de se fazer neste momento? Patrícia aconselha os empreendedores a olharem para sua realidade.
“As pessoas precisam ver o que é possível e viável de fazer agora. Muita gente vai tentar repor o que tinha anteriormente e muitas vezes não se faz em curto prazo com custo do dinheiro q está agora. É hora de olhar para o negócio e focar no que tem rentabilidade e gerava caixa e deixar de lado com coisas que eram apostas. Depois de uma tragédia como essa só se recomeça um negócio que funcionava antes, não dá para pensar que vão ressurgir como uma fênix. Se tem um negócio que não estava legal é hora de pensar em outra coisa. Não pegue recursos no mercado para tentar reviver um business. É o momento de fazer escolhas”, observa a economista.
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