As queimadas que afetam vários Estados brasileiros devem refletir no preço da carne em setembro e outubro. Especialistas do setor frigorífico e economistas apontam que a baixa nos valores sobre 2023, registrada até agosto deste ano, tende a ter uma guinada no valor das vendas ao consumidor final.
Presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ladislau Boes estima que entre setembro e outubro os preços ao consumidor poderão ficar mais altos, uma realidade diferente até agosto. Nos oito primeiros meses de 2024, sobre o mesmo período de 2023, informa, o valor da carne caiu 12% no Estado.
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“Não tem como calcular quanto será mais caro, mas sei que os frigoríficos gaúchos estavam mantendo os preços, porque ainda a nossa carne de boi é mais cara que do Centro-Oeste brasileiro.” No entanto, explica, o fornecimento de carne de Estados atingidos pelas queimadas no Centro-Oeste do País está menor.
“Há uma diminuição na entrada de carnes baratas de fora do Estado, o que vai trazer uma nova realidade no preço ofertados nas gôndolas. Será mais alto do que anteriormente, porque vai ter muito pouco desse produto. Mesmo com a baixa no preço do boi e da carne, resultante dos abates do Rio Grande do Sul, ainda assim nossos preços são maiores com relação ao Centro-Oeste do Brasil”, acrescenta.
Atualmente, 51% do fornecimento de carnes desossadas no Rio Grande do Sul são de outros estados. Diante desse cenário, aponta, existe a tendência da indústria frigorífica gaúcha intensificar os abates para fazer o abastecimento do mercado interno. “O Estado, até julho, estava com apenas 50% da capacidade da indústria frigorífica, devido às carnes vindas de fora”, frisa.
Reajuste ainda não chegou
Em supermercado de Novo Hamburgo, o preço do quilo da carne ainda não teve alteração em relação aos meses anteriores. O gerente Jair Lima de Souza conta que sobre o ano passado houve queda nos valores, principalmente da carne de primeira. “Em setembro continuam os preços pequenos. Só há alteração quando o fornecedor repassa, mas ainda não temos informação de aumento para outubro”, acrescenta, diante do açougueiro Antoni Eric Rodrigues.
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Café deve sofrer
Outro item da cesta de alimentos que deve sofrer por conta das queimadas é o café. Professor da Universidade Feevale, o economista José Antônio Ribeiro de Moura detalha que os eventos climáticos de 2023 e 2024 elevaram em 35% o valor do quilo do produto nos últimos meses na ponta final de consumo. “Há uma tendência, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café, que é aumentar de 10% a 15% nos próximos 40 ou 60 dias. Essas questões climáticas vêm assolando essa cultura.”
“As queimadas vão tirando o espaço da criação”, observa economista
Moura explica que a seca e as queimadas na região Centro-Oeste afetaram alguns itens da cesta de alimentos e com a carne não deve ser diferente. “A carne tem um agravante porque no primeiro semestre houve um abate muito grande de bovinos e, agora, com as queimadas, vai diminuir o espaço no pasto, refletindo na demanda.”
Ele estima que esse item de alimentação deve resultar em um crescimento de 0,2% a 0,3% no valor da cesta básica de setembro. “Acredito que em setembro, ele começa a aparecer no Imposto Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na inflação, porém o que os produtores estão fazendo é segurar um pouco o preço, mas não vai ter jeito porque houve já um aumento do preço futuro. Isso vai se refletir logo mais”, acredita.
Em outubro, estima, tende a aumentar. “As queimadas vão tirando o espaço da criação, o espaço da plantação. E isso resulta em menor oferta e vai encarecendo os preços dos produtos que vão chegando na mesa do trabalhador. A queimada afetou bastante o Centro-Oeste, que é um grande produtor de carnes para o Rio Grande do Sul”, pondera.
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