Um estudo preliminar realizado pela Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) aponta que os 336 municípios atingidos pelas chuvas, conforme o decreto nº 57.603, de 5 de maio (calamidade pública), correspondem a mais de 80% da atividade econômica do Estado.
A prioridade segue sendo o resgate e o atendimento aos moradores diretamente afetados pela catástrofe. Em paralelo, a indústria gaúcha calcula os prejuízos em sua produção, bem como as consequências para as exportações.
“As perdas econômicas são inestimáveis no momento. Uma infinidade de empresas teve suas dependências completamente comprometidas. Além dos danos gigantescos de capital, os problemas logísticos devem afetar de forma significativa todas as cadeias econômicas do Estado”, afirmou nesta quarta-feira (8), o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Arildo Bennech Oliveira.
Segundo o levantamento da UEE, os municípios afetados representam 80,3% do Valor Adicionado Bruto (VAB), 78,2% do VAB industrial, 86,4% dos estabelecimentos industriais, 87,2% dos empregos do setor, 89,1% das exportações da Indústria de Transformação e 83,3% da arrecadação de ICMS com atividades industriais.
Oliveira chama atenção para os graves problemas de infraestrutura a serem enfrentados, destacando que, em boa parte dos casos, não será apenas necessário realizar o trabalho de desobstrução, mas de reconstrução de estradas, pontes, vias férreas e até mesmo o principal aeroporto do Estado está com suas instalações comprometidas. Como consequência, prevê que postos de trabalho deverão ser fechados caso medidas excepcionais não forem implementadas pelos governantes.
Regiões afetadas
Os locais mais atingidos incluem alguns dos principais polos industriais do Rio Grande do Sul, impactando segmentos significativos para a economia. No Vale dos Sinos, são 160 mil industriários, tendo como base a produção de calçados.
Na Região da Serra, que emprega 115 mil pessoas na indústria, destaca-se a produção nos segmentos metalmecânico (veículos, máquinas, produtos de metal) e móveis. Já na Região Metropolitana, com 127 mil empregados no setor, estão os segmentos metalmecânico (veículos, autopeças, máquinas), derivados do petróleo e alimentos. No Vale do Rio Pardo, a força está em alimentos (carnes, massas) e tabaco, enquanto no Vale do Taquari, alimentos (carnes), calçados e químicos.
No Vale do Sinos, o vice-presidente de Indústria da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha e Dois Irmãos (ACI-NH/CB/EV/DI), César Ramos, reforça que já há perdas significativas.
“Várias empresas estão impossibilitadas de trabalhar, maioria em São Leopoldo e Novo Hamburgo. Ou porque foi diretamente alagada, as que estão mais na volta do Rio do Rinos, outras que não foram atingidas diretamente, mas estão com defasagem grande de funcionários que foram afetados e outras estão tendo a sensibilidade de liberar os colaboradores para o auxílio de familiares e amigos. E por fim, algumas podem trabalhar, mas não há transporte para receber matérias-primas e insumos e embarcar pedidos, é o caso em Campo, não estamos conseguimos enviar mercadorias para Serra e Santa Catarina. Nesta semana já registramos uma perda significativa na produção”, avalia.
Medidas
Em audiência esta semana por vídeo com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, entidades como Fiergs e Fecomércio solicitaram a adoção de medidas emergenciais de apoio a indústrias e trabalhadores atingidos. Entre outras sugestões, as entidades pedem redução da jornada de trabalho e salário, suspensão temporária do contrato de trabalho, antecipação de férias individuais, concessão de férias coletivas e suspensão da exigibilidade dos recolhimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Reconstrução do RS
Empresários e representantes de entidades gaúchas participaram de uma reunião com o governador Eduardo Leite na última terça-feira (7), para debater os impactos das enchentes e a reconstrução do Rio Grande do Sul. Entre os participantes estava a Fiergs e a ACI.
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No encontro, foram apresentadas as ações em andamento, o apoio à Força Nacional de Segurança, a necessidade de mais recursos e agilidade na liberação de verbas pelo governo federal, avaliação da manutenção das eleições municipais para este ano, os desafios para a reconstrução dos municípios atingidos e propostas para evitar ou minimizar os efeitos de catástrofes.