O terceiro trimestre de 2024 foi marcado por uma queda geral de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul em relação ao trimestre anterior. Os números, apresentados nesta quinta-feira (2) se referem ao período pós-enchente, entre julho e setembro, que abalou fortemente alguns setores da economia gaúcha.
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Em razão da situação trágica vivida no Estado no ano passado, os pesquisadores do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento (DEE) classificaram o resultado como algo positivo. “Apesar da queda na margem, causada pela retração da agropecuária típica deste período, o PIB do Estado mostrou sinais de recuperação após os impactos mais severos das enchentes”, destacou o pesquisador em Economia do DEE, Martinho Lazzari.
Na comparação com o trimestre anterior, a agropecuária teve uma queda de 30,6%, enquanto a indústria registrou uma leve alta de 1,1%. Mas foram os setores de comércio e serviços, que cresceram respectivamente 3,9% e 2,3% na comparação com o segundo trimestre de 2024.
Já no setor industrial gaúcho os destaques foram as indústrias de extração mineral, com crescimento de 3%, e construção, com alta de 6%, em ambos os casos, acima dos resultados nacionais. “Tanto a indústria quanto os serviços tiveram crescimento no terceiro trimestre em relação ao segundo, com destaque para os bons resultados da indústria de transformação e do comércio”, ressaltou Lazzari.
Agronegócio e indústria
Contudo, quando se olha para o quadro geral em comparação com o terceiro trimestre de 2023, a economia do Rio Grande do Sul se mostra ainda extremamente dependente do agronegócio. Os analistas apontam que a redução da atividade agropecuária seguiu apenas a tendência do período, já que os meses entre julho e setembro com o fim da safra de algumas das principais culturas produzidas no estado.
Na comparação com os resultados do terceiro trimestre de 2023, o Rio Grande do Sul se mostrou em um caminho contrário ao tomado pelo país. Enquanto a nível nacional a agropecuária caiu 0,8%, no estado o setor teve alta de 7,9%.
Já a indústria gaúcha registrou uma queda de 1,3% no mesmo período, enquanto o Brasil viu o setor crescer 3,6%. De acordo como o DEE, foi justamente a queda na atividade agropecuária no país impactou diretamente na indústria gaúcha. “A indústria de máquinas e equipamentos vende para todo país, a demanda interna (gaúcha) é pequena, então ela depende mais das vendas para o país”, explica Lazzari.
Como agrícola vive baixas sazonais, especialmente na troca de maquinário, a demanda nacional por máquinas e implementos caiu durante o terceiro trimestre de 2024. Mesmo em um cenário bastante dependente dos resultados obtidos no campo, o DEE não considera que o Estado vive um cenário de desindustrialização justamente devido a capacidade produtiva de maquinário para o campo. “O Rio Grande do Sul produz cerca de 50% das máquinas agrícolas do país. Este ano com queda de produção está afetando a compra de máquinas”, explica Lazzari.
Economia pós-crise
Muito do crescimento nos setores de comércio e serviço durante o terceiro trimestre do ano se deve ao crescimento da atividade econômica na recuperação dos estragos causados pelas enchentes, que contaram com o aporte financeiro dos governos federal e estadual.
“É inquestionável que quando se coloca R$ 66 bilhões na economia isso acaba puxando o PIB para cima”, destacou Pedro Zuanazzi, Diretor do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE-SPGG).
Contudo, Zuanazzi destaca que apesar dessa injeção de consumo inicial, a sequência após uma tragédia se mostra negativa na economia, tanto do Estado quanto do cidadão. “Para o PIB isto até é bom, a economia está andando. Mas quando a gente pensa na riqueza, aquela pessoa teve um prejuízo.”
Para 2025, a expectativa é de que a reconstrução do Estado possa reverter em ativos econômicos, mas desta vez menos ligados ao consumo, destinado à recuperação das famílias, mas em ações mais robustas dos governos e empresas.
“A gente viu que em 2024 as pessoas utilizaram seus recursos e benefícios para comprar produtos de primeira necessidade. O que a gente pensa que pode acontecer em 2025 é uma redução desse impulso, sendo substituído por um aumento de investimentos com obras contra cheias que indiretamente poderão impactar no aumento da renda”, projeta Lazzari.
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