AGÊNCIA LUPA

AGÊNCIA LUPA: É falso que água que chega às torneiras no RS esteja imprópria para consumo

Publicado em: 10/05/2024 18:49
Última atualização: 10/05/2024 18:50

Circula nas redes sociais uma mensagem afirmando que o lago Guaíba estaria “cheio de corpos e restos cadavéricos” e que, após o retorno do abastecimento, a água estaria imprópria para consumo por pelo menos 15 dias. É falso.


Mensagem circula nas redes sociais Foto: Reprodução/Agência Lupa

Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

“ATENÇÃO!!! Assim que a água voltar não tome, não dê para as crianças, não use para cozinhar, pois infelizmente o Guaíba está cheio de corpos e restos cadavéricos, é indicado que espere no mínimo de 15 a 20 dias para fazer o consumo da água, mesmo a água passando pelo tratamento ocorre um grande risco de contaminação. REPASSEM A MENSAGEM!!!”

– Mensagem circula nas redes sociais
Falso.

Em contato com o governo do Rio Grande do Sul, a assessoria de imprensa negou que existam corpos no Guaíba neste momento. “É falsa a informação que circula nas redes sociais sobre corpos e restos de cadáveres boiando no Guaíba”, disse em nota encaminhada à Lupa.

A assessoria reforçou também que, para chegar às torneiras das residências, a água é tratada e passa por um “rigoroso controle de qualidade nas estações” da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento).
“Neste momento de grande dificuldade pelo qual o Rio Grande do Sul passa, reafirmamos o nosso compromisso de atender as comunidades e recomendamos o uso consciente do recurso”, disse a Corsan.

O Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos), que é responsável pelo saneamento de Porto Alegre, capital do estado, afirmou nas redes sociais que a água liberada pelas estações passou pelo tratamento devido e está própria para consumo. “O Dmae informa que a água que está sendo distribuída nas nossas redes está dentro dos parâmetros de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde e não possui riscos à população”, diz o comunicado.

A Lupa contatou a engenheira química Letícia Nolasco para entender se os processos que envolvem o tratamento da água podem ser afetados por momentos de crise, como as enchentes que estão ocorrendo no Rio Grande do Sul

“A empresa não pode distribuir água fora dos padrões de potabilidade [condição própria para ingestão humana]. Geralmente, o abastecimento é interrompido ao menor sinal de não conformidade”, afirmou a engenheira química formada pela Universidade Federal de São João del-Rei, em Minas Gerais.

Letícia Nolasco explica que o processo das estações de tratamento de água (ETA) é complexo, envolvendo diversas etapas. “Na chegada da água, já ocorre uma dosagem de dois produtos químicos: um coagulante e um floculante. A função deles é retirar todo material particulado que fica dissolvido na água, então ele forma flocos densos mais fáceis de decantar”, explica sobre as etapas iniciais.

“Posteriormente, essa água vai para o que chamamos de decantadores, que fazem a separação desse flocos de sujeira, deixando passar somente a água já clarificada. Depois, passa por um filtro que tem camadas de carvão ativado e antracito que farão a remoção final das partículas”, descreve.
“Por fim, com a água já clarificada, ela passa pelo tanque de contato, onde é feita a desinfecção com cloro em excesso e também é dosado o flúor”, diz.

“Esse cloro precisa ser dosado em excesso para que faça a desinfecção, não somente na saída, mas também durante todo o percurso até os reservatórios e casas. É muito difícil uma água que passou por desinfecção estar contaminada”.

Segundo Nolasco, o maior problema é que questões secundárias podem estar associadas ao tratamento e fazer com que o abastecimento demore a ser restabelecido para as residências. “Águas muito turvas são complicadas de tratar. O cloro tem um tempo de contato para agir e é dosado em excesso para garantir que não chegarão microrganismos na casa das pessoas”, afirmou.

“As bombas e painéis devem ter sofrido algum dano também. Esse caso em específico tem muitas variáveis que podem estar impedindo a distribuição, mas com certeza o tratamento é crucial”, completou Letícia Nolasco.

Ademais, conforme pontuou a engenheira química, as empresas que administram o saneamento dos municípios seguem normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. “Hoje, no Brasil, a gente tem em vigor a portaria 888 do Ministério da Saúde que dispõe dos parâmetros de qualidade da água tratada bem como a frequência dessas análises”, afirmou.

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