abc+

AGÊNCIA LUPA

AGÊNCIA LUPA: É falso que abertura de 5 comportas de barragens causou enchente em fazenda no RS

Publicado em: 17/06/2024 às 15h:19 Última atualização: 17/06/2024 às 15h:20
Publicidade

Homem diz em vídeo, gravado em 18 de maio, que comportas de cinco barragens foram abertas no Rio Grande do Sul, o que provocou uma inundação em sua propriedade no início de maio. Ele ainda alega que as enchentes estão relacionadas à chegada de caixões da Fema no Brasil. É falso.
Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

Vídeo que circula nas redes sociais | abc+



Vídeo que circula nas redes sociais

Foto: Reprodução/Redes sociais

Não é verdade que as comportas de cinco barragens foram abertas no Rio Grande do Sul, provocando as enchentes. O homem desconsidera o volume das chuvas que provocaram a inundação no município de Arroio dos Ratos (lugar onde o vídeo foi gravado), localizado a 61 quilômetros de distância de Porto Alegre. A média de chuvas tanto para o mês de abril quanto para maio, em Arroio dos Ratos, é de 100 milímetros por mês.

Dados do Aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha, indicam que choveu 310 milímetros na região apenas entre os dias 28 de abril e 1º de maio deste ano – ou seja, em quatro dias.
Em vídeos anteriores, postados em 1º de maio, o homem da gravação checada pela Lupa mostrou como se abrigou em um morro, atrás de sua propriedade, enquanto a água subia. No mesmo dia, a prefeitura de Arroio dos Ratos publicou o Decreto Municipal nº 17/2024, no qual reconheceu a situação de emergência no município em decorrência das chuvas intensas, citando o Rincão dos Américos (parágrafo único do artigo 1º), local onde o vídeo foi gravado, como uma das “áreas comprovadamente afetadas pelo desastre”.

A inundação registrada pelo homem em sua propriedade no vídeo viral, gravado em 1º de maio, não foi provocada por abertura de comportas em usinas hidrelétricas. Naquela semana, na região de Arroio dos Ratos, não havia nenhuma barragem em monitoramento tanto pela Defesa Civil do Estado quanto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) com risco de provocar alguma inundação.

Relatório do ONS sobre a Avaliação das condições hidrológicas e de armazenamento dos reservatórios das bacias dos rios Jacuí/Taquari-Antas e Uruguai (os córregos presentes no município de Arroio dos Ratos desaguam no Rio Jacuí) indica que apenas no dia 5 de maio duas comportas da Usina 14 de Julho foram abertas em complementação ao vertimento feito por soleira livre. No dia 2 de maio, a unidade havia registrado um rompimento parcial (página 12). Tudo isso, contudo, ocorreu após a gravação do vídeo.

Mesmo se a Usina 14 de Julho tivesse se rompido completamente, o município de Arroio dos Ratos não seria afetado. De acordo com a assessoria de imprensa da Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), a ruptura da barragem provocaria uma inundação em regiões de nove municípios: Cotiporã, Bento Gonçalves, São Valentim do Sul, Doutor Ricardo, Encantado, Monte Belo do Sul, Santa Tereza, Roca Sales e Muçum, atingindo potencialmente 768 pessoas.

No vídeo, o homem não diz onde realizou a gravação. Porém, a Lupa conseguiu encontrar o local exato do registro após localizar seu perfil no TikTok e no Instagram. Em uma publicação, ele divulgou o número de sua chave Pix, que era seu próprio CPF. Com essa informação, no CruzaGrafos (ferramenta que permite pesquisar relações entre empresas e pessoas), foi possível descobrir que ele possui uma microempresa de construção civil localizada na Estrada Rincão dos Américos, em Arroio dos Ratos. O local pode ser observado pelo Google Maps.

. | abc+



.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Casa, porteira e galpão observados no vídeo também são vistos nas imagens do Google | abc+



Casa, porteira e galpão observados no vídeo também são vistos nas imagens do Google

Foto: Reprodução/Redes sociais

Uma imagem aérea, do Google Maps, mostra que a localidade está a poucos metros do córrego Arroio dos Ratos, que deságua no Rio Jacuí (integra a Bacia Hidrográfica do Baixo Jacuí). A enchente no arroio e na Sanga do Ipiranga, também localizada no município, fizeram com que 1,8 mil pessoas ficassem desalojadas e outras 60, desabrigadas. Ainda foram registrados dez feridos.

Entrada da propriedade está a menos de 200 metros do Arroio dos Ratos | abc+



Entrada da propriedade está a menos de 200 metros do Arroio dos Ratos

Foto: Reprodução/Redes sociais

A Prefeitura de Arroio dos Ratos criou uma página na internet sobre a inundação, onde destaca que uma calamidade natural de proporções históricas atingiu o município. “Uma enchente avassaladora, desencadeada pelas intensas chuvas dos últimos dias, deixou a comunidade à beira do limite. Ruas se transformaram em rios, casas foram alagadas e a população enfrentou um cenário de desespero e destruição”, diz a página referindo-se a situação em 1º de maio. O poder Executivo ainda listou 29 vias que sofreram inundação, incluindo a Estrada Rincão dos Américos.

(…) Vamos pesquisar sobre os caixões da Fema, chegou no Brasil pouco tempo antes da enchente, estava aqui no Brasil já. O caixão da Fema é um caixão preto feito de carbono que serve o corpo de quatro homens adultos dentro. Estranho né? Chegou do Brasil antes da enchente e agora temos centenas de mortes”
Fala em vídeo que circula nas redes sociais
Falso.

Não existe nenhum indício de que a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências dos Estados Unidos (Fema, na sigla em inglês) tenha enviado caixões para o Brasil. Nenhum veículo de imprensa noticiou o assunto, o que indica que a informação é inventada. Além disso, o objeto citado pelo homem não é um caixão, mas um sepulcro. Eles são produzidos por empresas privadas, nos Estados Unidos, com intuito de proteger o caixão enterrado contra elementos externos, como água ou pressão do solo.

Em 2014, o Snopes já havia verificado como falso um post alegando que o governo do então presidente Barack Obama havia encomendado um bilhão de dólares em “caixões descartáveis” para utilização nos “campos da Fema”. O boato surgiu porque uma empresa estocava os sepulcros em um grande campo externo, já que eles eram resistentes e não havia necessidade de armazená-los em ambientes fechados.

A Fema tem por missão ajudar as pessoas antes, durante e depois dos desastres. A Lupa entrou em contato com a agência e questionou se ocorreu alguma venda de caixões para o Brasil, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

Esse conteúdo também foi verificado pelo Comprova.

Publicidade

Matérias Relacionadas

Publicidade
Publicidade