O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta semana, pela quinta vez no ano, para debater os rumos da taxa básica de juros do Brasil, a taxa Selic. A expectativa é que o anúncio da redução dessa taxa, atualmente em 13,75% ao ano, seja feito nesta quarta-feira (2).
Alvo de duras críticas do governo federal e, até mesmo, por parte de setores empresariais, o atual índice não sofreu qualquer mudança até agora, abrindo um embate público. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e mesmo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), mandam recados diretos e indiretos ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que insiste no modelo de juro alto como medida de contenção à inflação.
Nesta entrevista, o economista, professor e pesquisador na Universidade La Salle Moisés Waismann avalia como a alta taxa de juros está travando a economia brasileira. Para ele, a atual Selic é um entrave para investimentos e para o consumo. O professor ainda critica a postura de Campos Neto, que é apontado por ele como uma “trincheira de oposição” do candidato derrotado em 2022.
Os efeitos dos juros altos sobre a economia do País
Como a taxa de juros reflete na economia para empresários, trabalhadores e consumidores?
Moisés Waismann – Quando o mercado está muito aquecido, os consumidores comprando muito, além da capacidade produtiva das organizações, os preços aumentam. Com todos os preços da economia aumentando vamos gerar uma inflação, isso é o caso de uma inflação de demanda.
Uma das formas de controlar essa inflação é aumentando a taxa de juros, porque a grande maioria dos brasileiros compra parcelado, então aumentando as taxas de juros as parcelas vão ficar maiores e isso vai inibir o consumo. Inibindo o consumo, há uma tendência de que os preços normalizem ou parem de crescer.
A taxa de juros não é de todo ruim para o controle de preços e da inflação, se estivéssemos vivendo um período de inflação de demanda, o que não é o caso brasileiro. Na verdade, a inflação está mês a mês sendo controlada.
Dito isso, a taxa de juros é prejudicial para a maioria da população e dos empresários. Quem se prejudica com uma taxa de juros alta são os consumidores com menor poder aquisitivo.
E quem ganha com a taxa de juros alta?
Moisés – Não são apenas os consumidores os prejudicados com a taxa de juros alta, é uma parcela importante do setor produtivo, como por exemplo o pessoal que trabalha na agricultura que depende de crédito. As indústrias, em sua grande maioria também, porque financiam os seus equipamentos e insumos.
Quem ganha é um setor específico da área de serviços que são os serviços financeiros. Esses gostam da taxa de juros alta, porque com taxas altas as pessoas tendem a deixar o dinheiro mais parado e uma parte do sistema financeiro se aproveita disso para fazer suas aplicações. O que acontece com as taxas de juros altas é que vai esgoelando o setor produtivo e eles vão recorrendo também ao sistema financeiro e acabam contratando com juros mais altos.
Então não é todo mundo que perde com a taxa de juros alta, porque se fosse assim não teríamos essa taxa. Mas ela vai ao encontro do interesse de alguns agentes econômicos.
O Banco Central diz que a taxa de juros é para controlar a inflação. Neste mercado atual, que o governo busca facilitar o crédito, como a posição do BC pode influenciar na política econômica?
Moisés – O governo está amarrado a isso. Obviamente alguns financiamentos são subsidiados pelo governo, como a habitação e a agropecuária. São baixos, mas poderiam ser mais baixos porque a Selic é um piso, então a partir de 13,75% é a taxa e o governo tem um limite para ir um pouco abaixo. Ele banca a diferença, então tem um limite.
E sobre a briga pública entre o Banco Central e o governo federal? A postura do BC pode colocar em xeque a independência do banco?
Moisés – A ideia do Banco Central independente é que ele pudesse fazer seu papel de controlar a quantidade de moeda, a taxa de juros e a inflação. Mas o que está ocorrendo, infelizmente, é que invés de uma gestão técnica resolveu ser uma gestão política. Então, não é bom um Banco Central onde o governo de plantão possa fazer o que quiser, e também não é bom que o Banco Central faça uma oposição aberta ao governo. Hoje temos no Banco Central uma trincheira da proposta derrotada a presidente da República, e jogando contra uma proposta que foi vitoriosa.
E o que estamos vendo, inclusive alguns setores que foram “derrotados” nas urnas começam a se aliar a esse novo governo. O que está acontecendo é que o Banco Central está se isolando e aí vão surgindo vozes de que talvez o Banco Central independente não seja bom. O problema não é o Banco Central independente, mas quem está de plantão que resolveu colocar a sua questão política acima da boa técnica.
O governo está implementando todas as pautas que o dito “mercado” quer. A reforma tributária, o controle da inflação, o controle de gastos. O falso remédio está sendo muito ruim para o Brasil neste momento.
Estados Unidos e Europa usam política de juros semelhante à brasileira ou o País está isolado?
Moisés – O Brasil é um dos únicos países que têm uma taxa de juros hoje positiva, a taxa dos Estados Unidos, considerando a inflação, é negativa e a europeia também. Normalmente a gente usa a taxa de juros para fazer uma política anticíclica. A economia está bombando sozinha, todo mundo comprando, então a gente tem que controlar porque não podemos consumir mais do que a capacidade produtiva do país, então eu faço uma política que normalize isso.
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Quando não estamos comprando, investindo, empregando, a economia está parando, eu baixo a taxa de juros. É o que os Estados Unidos e o Japão estão fazendo, ambos em recessão, é o que a Europa está fazendo, já que, além de uma recessão, também está metida em uma guerra.
Então, estão todos com taxas negativas fazendo com que valha a pena continuar investindo na economia para que as empresas tenham sua boa taxa de lucro a partir do investimento, da criação de trabalho. O Brasil está na contramão, e indo na contramão ainda estamos com um controle da inflação. Eu acredito que os agentes econômicos já estariam investindo se não fosse essa taxa de juros.
Como é possível se proteger
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta semana, pela quinta vez no ano, para debater os rumos da taxa básica de juros do Brasil, a taxa Selic. A expectativa é que o anúncio da redução dessa taxa, atualmente em 13,75% ao ano, seja feito nesta quarta-feira (2).
Alvo de duras críticas do governo federal e, até mesmo, por parte de setores empresariais, o atual índice não sofreu qualquer mudança até agora, abrindo um embate público. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e mesmo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), mandam recados diretos e indiretos ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que insiste no modelo de juro alto como medida de contenção à inflação.
Nesta entrevista, o economista, professor e pesquisador na Universidade La Salle Moisés Waismann avalia como a alta taxa de juros está travando a economia brasileira. Para ele, a atual Selic é um entrave para investimentos e para o consumo. O professor ainda critica a postura de Campos Neto, que é apontado por ele como uma “trincheira de oposição” do candidato derrotado em 2022.
Os efeitos dos juros altos sobre a economia do País
Como a taxa de juros reflete na economia para empresários, trabalhadores e consumidores?
Moisés Waismann – Quando o mercado está muito aquecido, os consumidores comprando muito, além da capacidade produtiva das organizações, os preços aumentam. Com todos os preços da economia aumentando vamos gerar uma inflação, isso é o caso de uma inflação de demanda.
Uma das formas de controlar essa inflação é aumentando a taxa de juros, porque a grande maioria dos brasileiros compra parcelado, então aumentando as taxas de juros as parcelas vão ficar maiores e isso vai inibir o consumo. Inibindo o consumo, há uma tendência de que os preços normalizem ou parem de crescer.
A taxa de juros não é de todo ruim para o controle de preços e da inflação, se estivéssemos vivendo um período de inflação de demanda, o que não é o caso brasileiro. Na verdade, a inflação está mês a mês sendo controlada.
Dito isso, a taxa de juros é prejudicial para a maioria da população e dos empresários. Quem se prejudica com uma taxa de juros alta são os consumidores com menor poder aquisitivo.
E quem ganha com a taxa de juros alta?
Moisés – Não são apenas os consumidores os prejudicados com a taxa de juros alta, é uma parcela importante do setor produtivo, como por exemplo o pessoal que trabalha na agricultura que depende de crédito. As indústrias, em sua grande maioria também, porque financiam os seus equipamentos e insumos.
Quem ganha é um setor específico da área de serviços que são os serviços financeiros. Esses gostam da taxa de juros alta, porque com taxas altas as pessoas tendem a deixar o dinheiro mais parado e uma parte do sistema financeiro se aproveita disso para fazer suas aplicações. O que acontece com as taxas de juros altas é que vai esgoelando o setor produtivo e eles vão recorrendo também ao sistema financeiro e acabam contratando com juros mais altos.
Então não é todo mundo que perde com a taxa de juros alta, porque se fosse assim não teríamos essa taxa. Mas ela vai ao encontro do interesse de alguns agentes econômicos.
O Banco Central diz que a taxa de juros é para controlar a inflação. Neste mercado atual, que o governo busca facilitar o crédito, como a posição do BC pode influenciar na política econômica?
Moisés – O governo está amarrado a isso. Obviamente alguns financiamentos são subsidiados pelo governo, como a habitação e a agropecuária. São baixos, mas poderiam ser mais baixos porque a Selic é um piso, então a partir de 13,75% é a taxa e o governo tem um limite para ir um pouco abaixo. Ele banca a diferença, então tem um limite.
E sobre a briga pública entre o Banco Central e o governo federal? A postura do BC pode colocar em xeque a independência do banco?
Moisés – A ideia do Banco Central independente é que ele pudesse fazer seu papel de controlar a quantidade de moeda, a taxa de juros e a inflação. Mas o que está ocorrendo, infelizmente, é que invés de uma gestão técnica resolveu ser uma gestão política. Então, não é bom um Banco Central onde o governo de plantão possa fazer o que quiser, e também não é bom que o Banco Central faça uma oposição aberta ao governo. Hoje temos no Banco Central uma trincheira da proposta derrotada a presidente da República, e jogando contra uma proposta que foi vitoriosa.
E o que estamos vendo, inclusive alguns setores que foram “derrotados” nas urnas começam a se aliar a esse novo governo. O que está acontecendo é que o Banco Central está se isolando e aí vão surgindo vozes de que talvez o Banco Central independente não seja bom. O problema não é o Banco Central independente, mas quem está de plantão que resolveu colocar a sua questão política acima da boa técnica.
O governo está implementando todas as pautas que o dito “mercado” quer. A reforma tributária, o controle da inflação, o controle de gastos. O falso remédio está sendo muito ruim para o Brasil neste momento.
Estados Unidos e Europa usam política de juros semelhante à brasileira ou o País está isolado?
Moisés – O Brasil é um dos únicos países que têm uma taxa de juros hoje positiva, a taxa dos Estados Unidos, considerando a inflação, é negativa e a europeia também. Normalmente a gente usa a taxa de juros para fazer uma política anticíclica. A economia está bombando sozinha, todo mundo comprando, então a gente tem que controlar porque não podemos consumir mais do que a capacidade produtiva do país, então eu faço uma política que normalize isso.
Quando não estamos comprando, investindo, empregando, a economia está parando, eu baixo a taxa de juros. É o que os Estados Unidos e o Japão estão fazendo, ambos em recessão, é o que a Europa está fazendo, já que, além de uma recessão, também está metida em uma guerra.
Então, estão todos com taxas negativas fazendo com que valha a pena continuar investindo na economia para que as empresas tenham sua boa taxa de lucro a partir do investimento, da criação de trabalho. O Brasil está na contramão, e indo na contramão ainda estamos com um controle da inflação. Eu acredito que os agentes econômicos já estariam investindo se não fosse essa taxa de juros.
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