SAÚDE MENTAL
SETEMBRO AMARELO: Aliada ou vilã? Estudos desvendam relação entre internet e ideações suicidas
Em um mundo conectado quase 24 horas por dia, estudos mostram a relação da internet com a saúde mental
Última atualização: 14/09/2024 12:27
Em um mundo conectado onde é normal estar conectado quase 24 horas por dia, a universitária Milena Dias cursa jornalismo, em Brasília, e diz que todo mundo estranha o fato de ela não ter redes sociais.
Ela acredita que, em algum momento, isso vai mudar, mas, por enquanto, gosta de não fazer parte do ambiente virtual.
CONFIRA: Mulheres possuem mais chances de ter depressão antes ou depois da menopausa?
"Não sinto falta de postar fotos minhas, não sinto falta de ver as postagens dos outros, [porque] é um mundo separado da realidade", afirma Milena. "É diferente da vida real, é um mundo muito de estereótipos e, mais do que isso, de muita exposição."
Já para a estudante de nutrição Maria Eduarda Nestali, que também mora na capital federal, as redes sociais são importantes: "Eu tenho WhatsApp, Instagram, TikTok, mas sou bem criteriosa com os conteúdos que eu assisto", pondera Maria Eduarda.
LEIA MAIS: SETEMBRO AMARELO: RS tem maiores taxas de mortalidade por suicídio do Brasil
Saúde mental x internet
Estudos indicam que o impacto da internet na saúde mental pode ser tanto positivo quanto negativo, dependendo da forma como ela é utilizada.
A necessidade de permanecer conectado à rede mundial de computadores preocupa especialistas, que apontam a relação entre o consumo excessivo das plataformas online e transtornos mentais como depressão e ansiedade.
Foi buscando uma resposta para o que acontecia com estudantes da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) que a professora Irena Penha Duprat resolveu aliar o interesse pelo uso excessivo da internet à pesquisa sobre a chamada ideação suicida.
Este ano, ela defendeu, na Universidade de São Paulo (USP), a tese O Papel da Internet na Saúde Mental de Jovens Universitários e sua Relação com Ideação Suicida.
Irena Duprat observou, em 2017 e 2018, um aumento no número de alunos com problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, e algumas tentativas de suicídio, o que, segundo ela, era muito preocupante. "Queria saber se o uso excessivo influenciava no pensamento suicida do estudante", explica.
VEJA: FOTOS: Fumaça das queimadas no Brasil é vista do espaço pela Nasa
Ideações suicidas e dependência da internet
Foram entrevistados 503 alunos de seis cursos da área de saúde. "Eles responderam alguns questionários e, entre eles, um teste sobre dependência de internet e um sobre ideação suicida, além da questão sociodemográfica para conhecer o perfil de cada estudante", conta Irena.
Cerca de 51% dos estudantes foram classificados com algum tipo de dependência: leve, quando a pessoa usa muito a internet, mas tem a percepção disso e consegue parar; e moderada e grave, quando já não há essa percepção.
Irena explica que, nesses dois últimos casos, a dependência é comparada a qualquer outra, sem limites. "No caso da ideação suicida, no questionário, a gente teve uma prevalência de 12,5% de estudantes com ideação presente", revela.
FIQUE POR DENTRO: Viagem ao Fundo do Mar está fazendo 60 anos
Onze dos entrevistados com sintomas depressivos apresentaram maior frequência de ideação suicida, assim como aqueles com nível de ansiedade alto. Ainda de acordo com a pesquisa, a ideação suicida foi maior entre estudantes que reportaram dependência moderada ou grave da internet.
"O uso da internet é como um mecanismo de fuga para diversas situações da vida deles. Principalmente aqueles que relataram problemas como depressão, ansiedade, estresse. Eles usavam na verdade a internet como um refúgio para fugir dos problemas", aponta a professora Irena Duprat.
ENTENDA: Cientistas descobrem papel do El Niño na maior extinção em massa do planeta
O impacto negativo também é sentido no caso da exposição em mídias sociais como Instagram e Facebook, sobretudo na saúde mental das mulheres.
A professora diz que, para as jovens, é "algo que influenciava na questão do pensamento suicida, principalmente em relação a esses conteúdos que podem gerar sentimentos de inferioridade, baixa autoestima".
"Por quê? Porque a gente olha aquelas redes sociais, as influencers, e as pessoas parecem ter uma felicidade. As mulheres apresentam o ideal de beleza que quem está olhando muitas vezes não se sente assim", ressalta.
VOCÊ PRECISA LER: Conexão intensa com cachorros pode impactar na saúde mental, diz pesquisa
Internet pode ser aliada da saúde mental?
A psicóloga Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere, que se dedica ao trabalho de prevenção e de posvenção (apoio nos processos de luto) ao suicídio, também avalia que o uso da tecnologia pode ser positivo ou negativo.
"É difícil a gente estabelecer o que começa antes, se um uso excessivo da tecnologia que leva a questões de saúde mental ou influencia as questões de saúde mental; ou se as pessoas já estão lidando com questões de saúde mental e acabam fazendo um uso excessivo das redes, por conta disso", destaca a psicóloga Karen Scavacini.
Karen acredita que os impactos dependem da vulnerabilidade das pessoas, se elas estão passando por situações delicadas, com algum transtorno mental não tratado ou não diagnosticado. Têm relação também com as horas de uso e como é esse uso – se é mais passivo ou mais ativo.
VEJA TAMBÉM: Confira os benefícios à saúde física e mental de quem convive com animais