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CASO CIRÚRGICO

Sem ânus? Entenda o que é anomalia anorretal, má-formação diagnosticada após o parto

Em média, 1 em cada 5 mil bebês nascem com ânus imperfurado

Stefany de Jesus Rocha
Publicado em: 09/05/2023 às 14h:51
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Recentemente, uma mãe contou o drama vivido pela família quando, logo após o parto, a filha foi diagnosticada com anomalia anorretal. No relato, feito ao Uol, ela lembrou o sentimento de desespero que sentiu ao receber a notícia e os desafios enfrentados a partir de então.

“Estava exausta e em transe. Tinha ficado muito feliz pelo nascimento da minha filha e, de repente, veio uma avalanche. Eu nunca tinha escutado falar nisso, não sabia que existia. Como assim um bebê que nem veio para mim já teria que operar e ir para a UTI?”, contou.

Anomalia anorretal



Anomalia anorretal

Foto: Pixabay

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Como tinha uma fístula, a bebê não precisou operar nas primeiras horas de vida e pôde esperar pelo procedimento durante um mês, enquanto ganhava peso. Ela conta que o médico explicou que era um caso mais simples, já que o ultrassom mostrou que o sistema digestivo dela era perfeito: tinha todos os caminhos, só não possuía o ânus.

“Era um tipo de má-formação menos grave, contornável”, comentou a mãe. “Tivemos sorte, isso não acontece em todas as crianças e nos deu tempo. Então, finalmente, pude amamentá-la.”

Apesar disso, ela relatou que, após a cirurgia, a filha ficou na UTI durante 10 dias para monitoramento. O pós-operatório, conforme lembrou, trouxe diversos desafios para a família, que precisou seguir procedimentos rigorosos com a menina até que completasse um ano de vida.

“Hoje, a vida é normal. Só continuo tentando manter uma alimentação rica em fibras”, disse a mãe, que destaca que encontrou apoio na troca de experiências com uma amiga que passava por uma situação parecida. “Por isso, é importante compartilhar. É uma condição muito desconhecida, pouca gente sabe que existe.”

Afinal, o que é a anomalia anorretal?

A cirurgiã pediátrica Mariana Seidl Orlandini, que também é professora de medicina da Universidade Feevale, expõe que apesar de não ser um problema frequente, a anomalia anorretal é recorrente. Conforme ela, o problema acontece em cerca de um a cada cinco mil bebês nascidos vivos. Ao relatar sua experiência profissional, Mariana diz que, em média, há 10 casos ao ano no Vale do Sinos.

Esse tipo de má-formação, de acordo com a médica, acontece ainda nas primeiras semanas da gestação – entre a quinta e a oitava semana – quando as células estão se diferenciando e vão formar os diferentes tratos. Neste momento, pode haver alguma interferência e, com isso, alguns acabam por não conseguir se formar completamente. 

“Não existe uma causa. Não é nada que a mãe fez ou algo que aconteceu”, explica a cirurgiã, destacando, no entanto, que a patologia é mais comum em crianças que já possuem alguma outra síndrome, como a síndrome de down, por exemplo.

Conforme ela, o diagnóstico normalmente é feito após o parto, e raramente acontece durante a gestação. A anomalia anorretal pode se apresentar em diferentes graus e quanto mais grave o caso, mais fácil a identificação. “Nos casos mais complexos, não tem nenhum orifício no lugar do ânus e o final do intestino pode estar ligado à uretra, vagina ou bexiga. Em outros casos, muitas vezes a aparência externa é quase normal, mas o ânus não está conectado ao intestino”, esclarece.

Assim, para confirmar que o bebê não possui nenhuma obstrução intestinal, logo após o nascimento é feito um exame físico e, além disso, ele permanece internado até a primeira evacuação, o mecônio. Então, conforme garante a médica, o diagnóstico é feito no recém-nascido antes que ele deixe o hospital.

O quadro é solucionado por meio de cirurgia. Nos casos mais graves, o procedimento pode ser feito entre 24 ou 48 horas após o nascimento. Já os bebês que têm a anomalia de forma menos complexa, podem esperar alguns meses pela cirurgia.

Mariana expõe que nas más-formações mais complicadas, os bebês podem correr risco de vida, até pelo fato de, normalmente, estarem associadas a outras patologias. Já nos casos menos graves, a cirurgiã pediátrica esclarece que não há risco de vida, mas a maior preocupação é em relação ao manejo correto do ponto de vista cirúrgico, para garantir que o paciente possa ter qualidade de vida e que tenha continência fecal.

“Indo tudo bem, a tendência é que essa criança tenha uma vida normal”, fala a médica. Após a correção, em alguns casos mais complexos é necessário que o bebê use bolsa de colostomia durante um período.

Nestes pacientes, a resolução da má-formação é feita em mais de um estágio. Contudo, a médica destaca que todo o tratamento da anomalia é feito durante a infância, normalmente até os seis meses de vida do bebê.

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