As casas e o que construíram com muito esforço, está submerso nas escuras águas das enchentes. Para eles, a água é uma constante: seja no solo, caindo do céu ou nos olhos marejados pela dor da impotência.
Os desalojados, são vítimas invisíveis das enchentes do Rio Grande do Sul. Essa invisibilidade acontece, pois, ao perderem suas residências, eles encontraram abrigo em casas de parentes, amigos e conhecidos. Dessa forma, eles não fazem parte das estatísticas e dos atendimentos de alimentos e roupas disponibilizados em muitos abrigos.
Quinze pessoas dividem o mesmo espaço em Novo Hamburgo
Em Novo Hamburgo, no bairro Canudos, Neudir de Lima e sua filha, Nathália Karoline de Lima Correia, dividem a casa com mais 15 pessoas abrigadas por eles, que são familiares e conhecidos. Com um espaço de dois andares, cada cômodo e móvel é aproveitado.
Neudir deu a sua própria cama e foi dormir no sofá do vizinho, para dar espaço a quem mais precisa. “Quando soubemos de alguns parentes que moram na Santo Afonso perderam tudo, e como temos poço artesiano, decidimos estender a mão, dividindo a nossa água, e fomos colocando pessoas que precisavam na casa”, disse ele.
Nathália compartilhou que as igrejas, incluindo a Igreja São Luiz e o ginásio da Brigada Militar em Novo Hamburgo, têm sido locais onde conseguiram alimentos para sustentar as 15 pessoas que estão abrigadas em sua residência.
Ela destacou a necessidade diária de preparar comida para todos, tornando esses pontos cruciais para a obtenção de recursos essenciais. Além disso, explica que precisam de doações de colchões e que a realidade deles se repete em outros lares da região.
Abrigada na casa de Nathália, Poliana Correia, se sente grata por ter onde ficar com sua família. “Estamos aqui desde sexta-feira, para a gente é um alívio ter um lugar para ficar. O primeiro andar da nossa casa está submerso. A dos nossos tios, que estão aqui também, está totalmente submersa, no bairro Santo Afonso”.
De Canoas para São Leopoldo
Cibele Pereira Dias, relembra o momento em que teve que deixar sua casa em Canoas às pressas: “O caminhão passou dizendo que era para o pessoal sair o quanto antes das suas casas. Levantamos tudo, achamos que ia chegar só até a canela a água. A nossa casa está totalmente submersa. É brabo tu perder tudo, todas as coisinhas que tu adquiriu durante a vida.”
Enquanto seu marido e seis filhos encontram-se em Canoas, ela permanece em São Leopoldo, na casa da sua mãe, com suas duas filhas, enfrentando a difícil realidade da perda e da incerteza. Junto a ela, uma de suas filhas, Ana Clara Dias de Oliveira, de 16 anos, compartilha sua angústia.
“Ficamos desalojados minha mãe, o marido dela e mais sete irmãos. No lugar onde é nossa casa, só aparece a água. As pessoas têm que se conscientizar, de quando tudo voltar ao normal, cuidar mais do meio ambiente”.
Ela acrescenta: “Antes pelo menos tínhamos um lar. Perdemos nossa cadelinha e nos sentimos muito tristes por não poder ajudar, lá tem muita gente desaparecida, muita gente morta, animais que precisam de ajuda. Eu trabalhava em um mercado e minha mãe em uma escolinha, nossos empregos foram junto com a água.”
“Eles priorizam quem está nos acolhimentos”
A jovem também compartilha os desafios enfrentados desde a tragédia: “Estamos desde sexta-feira sem água aqui na vó, estávamos pegando água na vertente. Conseguíamos pouca doação, porque eles priorizam quem está nos acolhimentos.”
Enquanto busca retomar a normalidade, Ana Clara apela por ajuda: “Precisamos de cesta básica, de roupas para meus sete irmãos mais novos, são todos crianças. Também estou procurando emprego”, disse ela.
Acolhimento e suporte em São Leopoldo
De acordo com as orientações da prefeitura, aqueles que optaram por permanecer em suas residências estão recebendo apoio diário em forma de alimentos e água, fornecidos pelas equipes da força-tarefa.
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Além disso, para os que se abrigam em casas de familiares e amigos, a Secretaria de Assistência Social (SAS) está estabelecendo espaços específicos em diferentes regiões, onde podem receber itens essenciais, como alimentos, produtos de higiene e limpeza.
Central de doações e foco nas necessidades emergenciais em Canoas
Para assegurar uma distribuição eficiente dos recursos, a prefeitura de Canoas estabeleceu uma Central de Entrega de Doações, operando diariamente das 8h às 22h, localizada na Avenida Inconfidência, esquina com a Avenida Getúlio Vargas, no antigo Asun.
Este centro tem sido um ponto de referência para aqueles que desejam contribuir com doações de alimentos e roupas, garantindo que a ajuda chegue rapidamente às mãos das vítimas. No entanto, até o momento, ainda não há uma logística organizada para levar donativos às pessoas ilhadas ou com dificuldade de sair de suas casas.
Mudanças dinâmicas de apoio em Novo Hamburgo
Em Novo Hamburgo, a prefeitura adota uma abordagem dinâmica para coordenar a ajuda às vítimas. As informações sobre como buscar assistência, incluindo alimentos e roupas, estão sendo atualizadas regularmente nos canais de comunicação oficiais da prefeitura, como redes sociais e site.
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