ANGÚSTIA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: Seis tentativas e um feminicídio consumado colocam a região em alerta

Agente alerta para importância de registrar ameaças e evitar agravamento

Publicado em: 26/05/2023 10:57
Última atualização: 26/03/2024 17:01

Angústia é o sentimento que toma conta da família de Joana Silva - nome fictício pelo qual vamos chamar a personagem da história aqui narrada. A moradora de Estância Velha, desde fevereiro sofre com as sequelas de uma tentativa de feminicídio. Entre idas e vindas de internações em hospitais e unidades de tratamentos intensivo (UTI), ela ainda luta para retomar a vida com dignidade após o crime.


Seis tentativas e um feminicídio consumado colocam a região em alerta Foto: ninocare/Pixabay

A mulher deu entrada no Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV) em 11 de fevereiro com quatro perfurações de faca em regiões do pescoço e do tórax, após ser encontrada pelo filho de cinco anos e por familiares.

O ataque partiu do então namorado de Joana, um homem de 29 anos, que fugiu, mas, conforme o delegado Rafael Sauthier, se entregou em uma Delegacia de Polícia da capital e foi preso preventivamente em 14 de fevereiro.

Desde o dia do ataque, Joana passou por duas cirurgias na região da traqueia, enfrentou uma parada respiratória e dias de intubação. Apenas em abril ela deixou os hospitais, mas não foi sem sequelas.

A tentativa de feminicídio fez com que Joana perdesse a voz, mesmo depois dos procedimentos cirúrgicos. Conforme a família, ela está bem e fora dos leitos hospitalares. Mas mesmo sem o som da sua voz, a história dela ecoa e esbarra em tantas outras narrativas semelhantes.

Estatísticas

O caso da mulher foi a primeira tentativa de feminicídio do ano em Estância Velha, segundo os indicadores da violência contra a mulher da Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP), mas não é isolado, pois Canoas soma dois casos neste ano e São Leopoldo outros três, além de um feminicídio consumado.

No ano passado, somente em Novo Hamburgo, Campo Bom, Canoas, Estância Velha, Sapiranga, São Leopoldo, Igrejinha, Parobé e Taquara foram 32 tentativas de feminicídio.

No Rio Grande do Sul, no mesmo ano, foram 264 vítimas de tentativa de feminicídio e 107 mulheres que perderam a vida por conta da violência. Já em 2023, de janeiro a abril, o Estado já registrou 80 tentativas de feminicídio e 29 feminicídios consumados.

No gráfico abaixo é demonstrado o comparativo de registros do primeiro quadrimestre deste ano e anos anteriores.

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Caso mais recente

Em Novo Hamburgo, um homem foi preso no início da noite desta quinta-feira (25) por um crime que revoltou e comoveu um condomínio. Ele era procurado há cinco dias por dar cinco facadas na ex-mulher, uma técnica de enfermagem de 27 anos, que teve o pulmão perfurado e passou por duas cirurgias.

Reforço no enfrentamento

A busca por diminuir o índice de violência contra mulher é pauta nas cidades da região e no Estado. O projeto Monitoramento do Agressor, lançados na sexta-feira passada (19) pelo governo estadual, permitirá o uso de tornozeleiras eletrônicas em agressores para evitar que se aproximem das vítimas amparadas por medidas protetivas de urgência (MPU).

O projeto inicia pela capital e por Canoas a partir deste mês. No Vale do Sinos, a iniciativa deve chegar somente em dezembro deste ano.

Acompanhar para dar segurança

Em Novo Hamburgo, assim como em outras cidades, há a Patrulha Maria da Penha (PMP), iniciativa da Brigada Militar. De acordo com a responsável pela PMP de Novo Hamburgo, tenente Márcia Hoffmann, a patrulha faz um acompanhamento das vítimas da Lei Maria da Penha após a ocorrência e atua de forma preventiva. De janeiro a março deste ano, o programa já teve 105 vítimas cadastradas e seis ocorrências por descumprimento de medida protetiva.

Já em Estância Velha, em outubro de 2022, entrou em vigor a lei que respalda o programa Mulheres Protegidas, na qual é a Guarda Municipal quem faz visitas recorrentes às mulheres com medidas protetivas.

Tipos de violência

A agressão física grave como foi o caso da moradora de Estância Velha é mais um dos diferentes tipos de violência. A tenente Hoffmann explica que, normalmente, antes de chegar a esse estágio, a violência é psicológica e inicia com xingamentos e humilhações. "A partir do momento em que o homem começa a ameaçar ou a agredir, é quando ela deve começar a tomar atitude", explica.

As nove cidades da região selecionadas pela reportagem tiveram, durante os quatro primeiros meses de 2023, 1.199 casos de ameaça registrados. Já os casos de lesão corporal durante o mesmo período somaram 729. As informações são do painel da violência contra a mulher da SSP.

No RS, o número de registros de ameaças e de lesões corporais vem em uma crescente no comparativo do primeiro quadrimestre de 2021, 2022 e 2023 (veja no gráfico abaixo).

De janeiro até abril, o número de feminicídios em 2023 alcança 29 casos, índice é inferior ao de 2022 e 2021, no mesmo período.

Denunciar para combater

A tenente Hoffmann afirma que o número de vítimas tende a ser muito maior, em razão da subnotificação. Ela acredita que se houvesse a denúncia logo nas primeiras agressões verbais, o índice de feminicídio seria menor. "A impunidade faz com que o agressor reiteradamente tenha o mesmo ato". A autoconscientização das mulheres também é elemento primordial no combate à violência. "A mulher acaba voltando quando ela vê que o homem vai preso. Ela se sensibiliza e acha estar errada", pontua.

Como denunciar

Em caso de emergência, a vítima ou qualquer pessoa pode ligar imediatamente para o 190. Se a violência já ocorreu, a vítima deve ir a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência. Há também a delegacia on-line (delegaciaonline.rs.gov.br).

Já a Central de Atendimento à Mulher 24 horas, Disque 180, é outra ferramenta de denúncias.

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