A catástrofe que atingiu especialmente a região dos Vales e a Grande Porto Alegre no mês passado mostrou para todo o País as limitações da estrutura aeroportuária do Rio Grande do Sul justamente no momento em que mais se precisou dela.
Com o Aeroporto Internacional Salgado Filho totalmente alagado, foi preciso buscar alternativas não somente para o transporte de passageiros, mas também de donativos, remédios e até mesmo para operação de aviões e helicópteros de resgate que vieram de todo o País para ajudar.
Com boa localização e estrutura de abastecimento, o Aeroclube de Novo Hamburgo funcionou por semanas como um centro de recebimento e distribuição de donativos e suprimentos de emergência. Foram dezenas e dezenas de pousos e decolagens, sempre com a necessidade de agilizar o atendimento a quem estava precisando, fosse na região ou mesmo longe daqui.
“Deu certo porque os pilotos foram muito habilidosos. Nossa pista, que é de grama e saibro, não alagou, mas ficou encharcada em vários momentos e, mesmo assim, conseguimos manter as operações”, salienta o presidente do Aeroclube, Alceu Feijó Filho.
Ele garante que, se a pista fosse asfaltada, Novo Hamburgo teria contribuído ainda mais no atendimento à população e poderia até mesmo operar voos comerciais com aviões modelo ATR, que transportam até 70 passageiros. “Haveria possibilidade de termos, aqui, voo direto para São Paulo”, exemplifica.
O novo cenário da aviação no Rio Grande do Sul fez Feijó tirar da gaveta um projeto de 20 anos: o asfaltamento da pista de Novo Hamburgo. “Até então, quando levantávamos essa necessidade, logo surgia o argumento de que estamos perto de Porto Alegre, o que reduziria a demanda e tornaria a obra inviável. Agora está mais do que provado que sim, é um projeto relevante para toda a região”, reforça, dizendo que já está conversando com lideranças políticas em busca de apoio para fazer o asfaltamento decolar.
Cita como exemplo o deputado federal Lucas Redecker (PSDB) e o senador Luis Carlos Heinze (PP), além dos vereadores Raizer Ferreira (PSDB), Gustavo Finck (PP) e Fernando Lourenço (Solidariedade). Segundo Feijó, o apoio político é fundamental para a mobilização. Ele garante que o asfaltamento e balizamento da pista são as únicas necessidades. “O cercamento da área foi feito recentemente e está de acordo com as regras aeroportuárias.”
Um projeto de R$ 13,5 milhões
Como o asfaltamento da pista é um desejo antigo, o Aeroclube de Novo Hamburgo já dispõe de um pré-projeto da obra. Orçamentos foram atualizados nas últimas semanas. Análises preliminares de empresas do setor apontaram que o custo ficaria em torno de R$ 13,5 milhões, incluindo o asfaltamento e o balizamento, que é a sinalização e iluminação.
O projeto prevê ainda, dentro deste valor, a pavimentação de uma taxiway, que é o caminho que liga a pista aos hangares, e do pátio para estacionamento de aeronaves. “Como a área é muito plana, com diferença de poucos metros no nível de uma cabeceira para a outra, seria uma obra relativamente simples e rápida”, destaca Feijó.
Segundo ele, atualmente a pista de grama e saibro tem 1.200 metros de comprimento por 80 de largura. Com a pavimentação a pista teria mil metros de comprimento por 30 de largura, mantendo uma área de escape de 100 metros em cada cabeceira e mais 25 metros em cada um dos lados.
LEIA TAMBÉM
O que tem atualmente no Aeroclube de Novo Hamburgo
Localizado no limite com Campo Bom, o Aeroclube de Novo Hamburgo é de janeiro de 1947. Além de campo de pousos e decolagens, funciona como escola de pilotos, sede de paraquedismo – atualmente as atividades estão suspensas devido às alterações na aviação comercial na região –, de uma empresa de publicidade aérea e abriga ainda duas empresas de manutenção de aeronaves.
“O asfaltamento da pista certamente impulsionaria outros negócios na área do aeroclube, até mesmo a construção de mais hangares para aviação executiva. Teríamos taxas muito mais competitivas que as do aeroporto de Porto Alegre para operar e guardar aviões executivos de pequeno e médio portes”, assegura Feijó, frisando que Novo Hamburgo se tornaria um hub da aviação privada na Grande Porto Alegre.
“Muita gente da nossa região tem seu avião particular operado a partir do Salgado Filho. Teríamos total condição de prestar esse serviço com muito mais praticidade, gerando mais negócios para a cidade. Aeroporto é porta de muitos negócios”, frisa.