O fim do mês de setembro integra duas datas importantes para chamar a atenção e mobilizar cuidados com a saúde.
Nesta sexta-feira (27), celebra-se o Dia Nacional da Doação de Órgãos, para estimular a doação e informar a família de que se é um doador; e, no domingo (20), comemora-se o Dia Mundial do Coração, com o intuito de conscientizar a população sobre a importância de manter hábitos saudáveis e cuidar do órgão.
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Mas para duas irmãs leopoldenses, estas datas são ainda mais especiais. Fabiane e Fernanda Assmann, de 30 e 32 anos, respectivamente, nasceram com miocardiopatia dilatada, uma condição genética que herdaram do pai, e que é uma das patologias que podem levar à insuficiência cardíaca. Ambas descobriram a condição em 2011, com Fabiane recebendo primeiro o diagnóstico.
Transplante
Desde a descoberta, ela vinha tomando medicamentos e mantendo os cuidados recomendados. “Mas chegou a um ponto que meu organismo ficou mais afetado, mais fraco, e, como eu não tinha nenhum outro problema de saúde, para não afetar outros órgãos, os médicos decidiram que era a melhor hora para realizar um transplante”, conta.
Fabiane entrou na lista de transplantes em 2015 e, um ano depois, em 30 de março de 2016, fez a cirurgia para receber um novo coração. O procedimento foi realizado no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, onde a jovem ficou 10 dias internada. A partir daí, ela precisou redobrar cuidados, especialmente com a imunidade baixa, tomando imunossupressores.
“Depois disso, é uma vida normal. A imunidade é mais baixa, tenho que tomar remédios, mas no mais realizo minhas atividades normais, trabalho, viajo”, comentou Fabiane, que é analista acadêmica na Unisinos – assim como a irmã, Fernanda – e cursa Fisioterapia.
Hoje, há mais de oito anos transplantada, ela faz coro a importância de ações que mobilizem para a doação de órgãos e se voltem para os cuidados com o coração. “É muito importante para a conscientização das pessoas. É um momento de tristeza, pela emoção da perda, mas também de ajudar num momento tão difícil, porque nos casos graves é possível ajudar o próximo com a doação”.
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Cesárea de emergência e internação um dia antes da enchente
No caso de Fernanda, a insuficiência cardíaca mostrou sinais mais graves somente anos mais tarde. Desde que descobriu a miocardiopatia, logo depois da irmã Fabiane, ela vinha fazendo acompanhamento médico e tomando medicamentos, mantendo um quadro estável. No fim de 2023, porém, ela descobriu que estava grávida e as condições mudaram.
Os hormônios da gestação sobrecarregaram seu organismo e coração, que já era fraco. “Acabei ficando com insuficiência cardíaca grave. Tinha sintomas como falta de ar, cansaço, inchaço nos membros superiores, não conseguis me alimentar”, diz, comentando que em 6 meses, emagreceu 45 quilos e precisou ser internada por três vezes.
Na terceira, a decisão médica foi a de fazer uma cesárea, a fim de preservar a vida do bebê. Henrique nasceu no dia 8 de abril, prematuro de 30 semanas, medindo 38 centímetros e pesando 1,4kg.
O bebê ficou internado e Fernanda ganhou alta no fim do mês, mas pelo agravamento do seu caso, ficou apenas uma semana em casa. No dia 2 de maio, um dia antes da residência onde mora com os pais, no bairro Rio dos Sinos, ser tomada pela enchente, ela foi internada de novo – a casa da irmã, Fabiane, na Scharlau, também foi inundada.
“Eu digo que as coisas acontecem no tempo certo. Se eu fosse para o hospital um dia depois, não conseguiria chegar lá”, lembra, sobre a dificuldade de mobilidade no período das enchentes.
A oitava pessoa do Estado a receber um “coração artificial”
Por apresentar alto nível de anticorpos, a equipe médica não recomendou o transplante de coração pelo risco de rejeição ao órgão. A opção foi realizar um procedimento ainda novo no Estado: o implante HeartMate 3, dispositivo criado pela empresa americana Abbott.
“É uma bomba de assistência ventricular, que faz a função do coração de bombear sangue para o corpo, por isso é conhecida como ‘coração artificial’. E a bomba não tem risco de rejeição”, ponderou.
Fernanda destaca que a cirurgia e internação são cobertos pelo SUS, mas o aparelho ainda não. Por isso, a solução veio por meio de um projeto de filantropia do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, que disponibilizava o dispositivo.
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Após autorização do Ministério da Saúde e acompanhada por profissionais da casa de saúde paulista, que vieram ao Rio Grande do Sul, a cirurgia de Fernanda ocorreu em 31 de maio, mesmo dia em que o pequeno Henrique ganhava alta. Ela foi apenas a oitava pessoa do Estado a implantar o “coração artificial” – atualmente, são 9 pacientes com o dispositivo.
“Está me permitindo cuidar do meu filho”
Após 26 dias internada, a analista acadêmica voltou para a casa de familiares, por conta da enchente, e precisou adaptar o cotidiano, visto a necessidade de carregar o controlador do sistema e as baterias junto ao corpo – os aparelhos pesam cerca de 2,5kg.
Para dormir, porém, o dispositivo fica conectado à energia elétrica. “É uma vida normal, tenho minha rotina do dia a dia, cuido do meu filho”.
Fernanda voltou pra casa há duas semanas, após a moradia passar por reformas diante das avarias causadas pela inundação, e planeja retornar ao trabalho em outubro, depois de cumprir a licença-maternidade. Depois de tudo, ela somente agradece a oportunidade de ter seu coração artificial.
“Se não fosse ele, não estaria aqui pra contar a história, de como ele salvou a minha vida e está me permitindo cuidar do meu filho. Foi a minha mudança de vida, o que está me proporcionando essa alegria de estar com ele.”
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