Com o nível do Rio dos Sinos a 5,50 metros (m) às 16h13 dessa quinta-feira (23) e a trégua na chuvarada, a inundação já começou a escoar em diversas ruas de São Leopoldo. Por isso, algumas das famílias desalojadas já estão se preparando para deixar os abrigos. Enquanto algumas já separaram seus pertences para voltar para casa ainda nesta quinta, outras vão decidir apenas à noite ou retornarão apenas na sexta-feira (24).
A dona de casa Ivone Lunks Veloso, 59, tem pressa para retornar ao lar. Moradora da rua Eugênio Emílio Daudt, ela estava abrigada na sede do Alfa Futebol Clube desde a segunda-feira (20). “Dormir na minha cama, no meu quarto, não é como dormir no chão do abrigo, aí dá aquela coisa na perna na hora de levantar. Hoje de manhã, eu queria gritar”, desabafou, com os olhos marejados.
Segundo Ivone, ela não sofreu prejuízos dessa vez, mas ainda não se recuperou da enchente de junho. “Perdi um monte de coisa, deve ter sido mais de R$ 2 mil em dinheiro”, contou. Ela finaliza reclamando que não foi atendida pela Prefeitura Municipal quando precisou. “Eles têm que ajudar, mas não ajudaram ninguém. Cada um tinha que se virar, juntar os caquinhos de novo”, completou. Para organizar suas coisas, ela contou com a ajuda da porteira Pamela da Silva Santos Schneider, 31 anos, moradora da Rua Carlos Bier, que pretende ficar no abrigo até finalizar a limpeza em sua casa.
A ex-cuidadora de idosos Cândida Fernanda Rodrigues de Souza, 42, voltará para sua casa na Rua Carlos Bier apenas na sexta, quando já tiver sido possível limpar o barro do local. Mãe de cinco filhos de idades distintas, ela pretende mudar-se para outro lugar antes do ano acabar. “Perdi tudo na inundação de junho e ganhei apenas alguns poucos móveis, que perdi novamente nessa de agora”, disse. “Vou ter que achar outro lugar para morar, é muito triste perder as coisas no meio da água”, continuou.
Os filhos de Cândida também sentiram o impacto do dilúvio. “Eles perderam aula porque os calçados deles molharam. Ontem que eles ganharam da Secretaria de Assistência Social (SAS) alguns calçados novos”, finalizou.
Público atingido
As vias afetadas foram a Rua da Praia, no bairro Rio dos Sinos, e a Rua das Camélias, no bairro Pinheiro. No bairro Feitoria, há pontos de inundação nas ruas Barros Cassal, Alberto Ramos, Pottenstein, Frederico Mayer, Otto Daudt e Carlos Bier. Conforme a gestão municipal, havia 38 famílias desalojadas até o final da tarde de quarta-feira (22). Elas estão acolhidas na sede do Alfa Futebol Clube, CTG Grupo Candeeiro e Associação Tradicionalista Gaúcha da Feitoria (ATGF).
SAS esclarece critérios para o auxílio
Procurado pela reportagem, o titular da SAS Fábio Bernardo da Silva esclareceu que, para receber as doações e os aportes financeiros da Prefeitura Municipal em caso de alagamentos e outras situações adversas, a família deve ser beneficiária do programa nacional Bolsa Família. Ainda conforme o secretário, o município realiza o cadastro através dos Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), mas quem seleciona a população a ser contemplada é o Estado.
Fábio Bernardo ainda informa que, na próxima semana, a gestão municipal fará um Decreto Municipal de Emergência, que ainda deve ser autorizado pelo Estado, para que os afetados possam, novamente, receber a ajuda de custo de R$ 2500. “Assim que isso ocorrer, vamos cadastrar no sistema nacional as famílias que ficaram desabrigadas e são beneficiárias do Bolsa Família”, explicou.
Como se cadastrar no Bolsa Família
Para realizar o Cadastro Único, que dá direito ao programa governamental e tirar dúvidas a respeito do atendimento no município, a comunidade deve procurar o CRAS mais próximo de sua localidade. Um dos critérios principais para ser selecionado pelo Estado é ter renda mensal por pessoa de até R$ 218,00. A SAS, mediante sua assessoria de comunicação, ressalta que não foi informada sobre outros requisitos para a seleção.
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