20 DE MARÇO
Os três anos do primeiro caso de Covid-19 em São Leopoldo
Em entrevista, médico que trabalhou durante toda a pandemia relata sua experiência
Última atualização: 26/02/2024 12:01
No dia 20 de março de 2020 foi notificado o primeiro caso de coronavírus em São Leopoldo. A data completa três anos hoje e, após este período, o Município perdeu para a doença 897 vidas, chegou ao total 48.981 casos e sofreu com as consequências econômicas e sociais de uma pandemia que afetou diversos países.
Neste mês de março, foram notificados 264 casos e nenhuma morte. Porém, conforme os dados das secretarias Estadual e Municipal da Saúde, em São Leopoldo, em 6 de abril de 2021, foram 11 mortes em apenas um dia e, no dia 18 de fevereiro de 2022, 618 casos novos, os maiores números diários da pandemia. A redução demonstra melhora significativa para a comunidade, se comparados os anos anteriores com 2023. "É importante lembrarmos que a partir do dia 20 de março foi o primeiro momento de calamidade e que, finalmente, podemos comemorar que muitas vidas foram salvas pela vacina e pelo SUS", disse o secretário interino de Saúde, Diego Pitirini.
Com relação as vacinas, 81,81% da população tomou a primeira dose; 74,92% recebeu a segunda dose; 43,35%, a terceira dose; e 17,60% tomou a quarta dose. Pitirini destaca que é essencial manter a atenção em relação ao calendário de vacinas. "É importante lembrar que a imunidade cai a partir de 4 meses após a vacina. Por isso, é preciso fazer todas as doses. Seguimos vacinando contra Covid-19, e ela segue sendo uma doença que precisa ser monitorada. Estão sendo realizadas vacinas bivalentes em pessoas com mais de 60 anos e grupos de risco."
O médico infectologista do Hospital Centenário, Breno Milman, 62 anos, trabalhou com pacientes com Covid durante os três anos de pandemia. Ele relata como foi a experiência de ter que trabalhar com um alto número de pacientes, com risco de contrair a doença e a morte de colegas.
Entrevista: médico infectologista Breno Milman
Breno Milman - Trabalhei desde o início até o fim da pandemia, desde que um professor veio com suspeita de Covid-19 e era gripe. No começo, nós não tínhamos testes para fazer, os positivos eram com critério clínico. No início, tínhamos a orientação de transferir os pacientes Covid-19 para outro hospital. Depois, cada município precisava cuidar dos seus pacientes no local.
VS - Como lidaram com o aumento de casos?
Milman - No momento em que começamos a receber pacientes mais graves, foi feita uma ala Covid-19, no lugar onde antes era o pronto socorro. Tínhamos assessoria on-line também e tivemos contratação de mais profissionais para atender a demanda. Começou com uma média de 10 pacientes graves por dia e 20 não graves por dia. Depois passou para 30 graves por dia e 40 não graves por dia. Com o surgimento das vacinas, foram diminuindo os casos e fomos normalizando o hospital, por isso, não temos mais a ala Covid.
VS - Como foi a sua experiência emocional ao lidar com a pandemia?
Milman - Eu trabalhei diretamente com pacientes Covid-19 nos últimos três anos. Eu era responsável, principalmente pela terapia intensiva, entubando os pacientes. Foi bastante complicado, pois a Covid-19 é uma doença que acomete a todos, jovens, idosos, crianças, homens e mulheres. Para mim, o maior estresse foi ter que entubar pacientes lúcidos. O paciente Covid tinha insuficiência respiratória, mas estava lúcido. Além disso, o trabalho foi intenso, pelo número de pacientes muito grande. Isso aconteceu em boa parte do mundo, mas infelizmente, perdemos muitos pacientes e também colegas de profissão.
VS - Como lidou com o medo da doença?
Milman - Eu fiz e foquei no meu trabalho, assim como vários outros colegas. Infelizmente perdi colegas médicos e enfermeiros para a doença. Passei todo esse tempo sem ter Covid, e só peguei recentemente, com sintomas leves, pois estou vacinado.
VS - Como você avalia que está a situação agora?
Milman - Em comparação do início com agora, mudou muito o perfil da doença. Agora internamos pacientes "de" Covid mas não "por" Covid. Atualmente, temos seis pacientes internados com Covid-19, mas que não têm insuficiência respiratória. Pela análise do dia a dia que nós temos, a vacinação teve sim, um grande impacto na redução de contaminações e internações. Isso não ocorreu somente aqui, em São Leopoldo, mas também no resto do mundo. Tivemos a experiência praticamente inédita de uma pandemia no Brasil, mas infelizmente sinto que não aprendemos muito com as coisas. Voltamos a viver como se nunca tivesse existido Covid e os velhos problemas continuam.
No dia 20 de março de 2020 foi notificado o primeiro caso de coronavírus em São Leopoldo. A data completa três anos hoje e, após este período, o Município perdeu para a doença 897 vidas, chegou ao total 48.981 casos e sofreu com as consequências econômicas e sociais de uma pandemia que afetou diversos países.
Neste mês de março, foram notificados 264 casos e nenhuma morte. Porém, conforme os dados das secretarias Estadual e Municipal da Saúde, em São Leopoldo, em 6 de abril de 2021, foram 11 mortes em apenas um dia e, no dia 18 de fevereiro de 2022, 618 casos novos, os maiores números diários da pandemia. A redução demonstra melhora significativa para a comunidade, se comparados os anos anteriores com 2023. "É importante lembrarmos que a partir do dia 20 de março foi o primeiro momento de calamidade e que, finalmente, podemos comemorar que muitas vidas foram salvas pela vacina e pelo SUS", disse o secretário interino de Saúde, Diego Pitirini.
Com relação as vacinas, 81,81% da população tomou a primeira dose; 74,92% recebeu a segunda dose; 43,35%, a terceira dose; e 17,60% tomou a quarta dose. Pitirini destaca que é essencial manter a atenção em relação ao calendário de vacinas. "É importante lembrar que a imunidade cai a partir de 4 meses após a vacina. Por isso, é preciso fazer todas as doses. Seguimos vacinando contra Covid-19, e ela segue sendo uma doença que precisa ser monitorada. Estão sendo realizadas vacinas bivalentes em pessoas com mais de 60 anos e grupos de risco."
O médico infectologista do Hospital Centenário, Breno Milman, 62 anos, trabalhou com pacientes com Covid durante os três anos de pandemia. Ele relata como foi a experiência de ter que trabalhar com um alto número de pacientes, com risco de contrair a doença e a morte de colegas.
Entrevista: médico infectologista Breno Milman
Breno Milman - Trabalhei desde o início até o fim da pandemia, desde que um professor veio com suspeita de Covid-19 e era gripe. No começo, nós não tínhamos testes para fazer, os positivos eram com critério clínico. No início, tínhamos a orientação de transferir os pacientes Covid-19 para outro hospital. Depois, cada município precisava cuidar dos seus pacientes no local.
VS - Como lidaram com o aumento de casos?
Milman - No momento em que começamos a receber pacientes mais graves, foi feita uma ala Covid-19, no lugar onde antes era o pronto socorro. Tínhamos assessoria on-line também e tivemos contratação de mais profissionais para atender a demanda. Começou com uma média de 10 pacientes graves por dia e 20 não graves por dia. Depois passou para 30 graves por dia e 40 não graves por dia. Com o surgimento das vacinas, foram diminuindo os casos e fomos normalizando o hospital, por isso, não temos mais a ala Covid.
VS - Como foi a sua experiência emocional ao lidar com a pandemia?
Milman - Eu trabalhei diretamente com pacientes Covid-19 nos últimos três anos. Eu era responsável, principalmente pela terapia intensiva, entubando os pacientes. Foi bastante complicado, pois a Covid-19 é uma doença que acomete a todos, jovens, idosos, crianças, homens e mulheres. Para mim, o maior estresse foi ter que entubar pacientes lúcidos. O paciente Covid tinha insuficiência respiratória, mas estava lúcido. Além disso, o trabalho foi intenso, pelo número de pacientes muito grande. Isso aconteceu em boa parte do mundo, mas infelizmente, perdemos muitos pacientes e também colegas de profissão.
VS - Como lidou com o medo da doença?
Milman - Eu fiz e foquei no meu trabalho, assim como vários outros colegas. Infelizmente perdi colegas médicos e enfermeiros para a doença. Passei todo esse tempo sem ter Covid, e só peguei recentemente, com sintomas leves, pois estou vacinado.
VS - Como você avalia que está a situação agora?
Milman - Em comparação do início com agora, mudou muito o perfil da doença. Agora internamos pacientes "de" Covid mas não "por" Covid. Atualmente, temos seis pacientes internados com Covid-19, mas que não têm insuficiência respiratória. Pela análise do dia a dia que nós temos, a vacinação teve sim, um grande impacto na redução de contaminações e internações. Isso não ocorreu somente aqui, em São Leopoldo, mas também no resto do mundo. Tivemos a experiência praticamente inédita de uma pandemia no Brasil, mas infelizmente sinto que não aprendemos muito com as coisas. Voltamos a viver como se nunca tivesse existido Covid e os velhos problemas continuam.