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"O que vai ser de nós?": comunidade da Steigleder luta para se reerguer após enchente

Diversas famílias da ocupação, que fica no bairro Santos Dumont, perderam suas casas com a inundação histórica; campanha busca doações de botas, luvas, máscaras e material de limpeza para as casas que restaram de pé

Publicado em: 11/06/2024 17:04
Última atualização: 11/06/2024 17:06

Para onde se olha, montes de entulhos, madeiras, telhados. Mas invés de resíduos tirados durante a limpeza das casas por conta da enchente histórica de maio, são moradias inteiras que vieram ao chão devido a força das águas da cheia. Foi assim que muitas famílias encontraram seus imóveis quando voltaram pro lar, na Ocupação Steigleder, um dos lugares mais carentes do bairro Santos Dumont, em São Leopoldo. O cenário na comunidade é devastador e traz a certeza: os efeitos da enchente ainda vão demorar pra passar.

Via conhecida como Beco do Polenta foi uma das mais destruídas da Ocupação Steigleder Foto: Priscila Carvalho/GES-Especial

O local, que fica próximo ao Arroio Gauchinho, no limite com Novo Hamburgo, foi tomado pela inundação depois do rompimento do dique junto à Casa de Bombas da Santo Afonso, que pertence ao município vizinho, na madrugada de 4 de maio. Antes disso, o galpão da associação da área, ponto de referência para ações na comunidade, já estava recebendo famílias que moram perto do banhado, onde a água já vinha subindo. Todos precisaram sair às pressas.

Todas as cerca de 250 famílias da Steigleder tiveram que deixar suas residências e foram para abrigos ou casas de parentes.

90% destruída

Quase um mês depois, quando a água finalmente baixou, é que os moradores puderam ver o estrago. “Digamos que de 100% da Ocupação Steigleder, 90% foi destruída”, disse Jaqueline dos Santos Rodrigues, 40 anos, uma das líderes comunitárias do local, lembrando que dezenas das simples moradias de madeira acabaram tombando.

“Perda total”

Uma delas é a do reciclador Manuel Claudir da Silva, 61, que morava no chamado Beco do Polenta, uma das vias mais devastadas da comunidade. Na semana passada, ele voltou ao local onde morava sozinho e se deparou com um monte de tábuas e telhas amontoadas, em cima de seus móveis, eletrodomésticos e outros pertences. “Foi perda total. E pior que eu gostava de morar aqui. Agora acho que não tem mais como morar, porque quase todas as casas aqui ficaram destruídas”, lamentou, enquanto pegava apenas materiais que havia juntado para vender na reciclagem.

Acolhido inicialmente na Unisinos e agora no abrigo montado junto ao antigo Convento Monte Alverne, Manuel aguarda os auxílios e decisões do governo para ver o que fazer. “Se tiver que sair do abrigo, não tenho onde morar”, comentou. “Eu já tinha pegado enchente aqui, mas foi mais fraca. Nada como agora. Essa foi horrível”.

Ocupação Steigleder foi destruída pela enchente de maio em São LeopoldoPriscila Carvalho/GES-Especial
Ocupação Steigleder foi destruída pela enchente de maio em São LeopoldoPriscila Carvalho/GES-Especial
Ocupação Steigleder foi destruída pela enchente de maio em São LeopoldoPriscila Carvalho/GES-Especial
Ocupação Steigleder foi destruída pela enchente de maio em São LeopoldoPriscila Carvalho/GES-Especial

“A gente se sente perdido”

Observando as perdas no galpão da comunidade, uma das únicas estruturas que ficou de pé na Steigleder, Jaqueline diz que o local sempre era aberto para receber as famílias afetadas pelas cheias, mas que, dessa vez, também sucumbiu. Há quase um ano dos efeitos do ciclone que causou perdas em eletrodomésticos da cozinha do galpão, a nova enchente cobriu tudo de água e lama.

Uma ONG parceira já iniciou a limpeza no espaço e se comprometeu a doar utensílios, mas os fogões industriais, geladeira, frezzer e outros equipamentos ainda não se sabe se conseguirão ser salvos. “Precisamos desse espaço pra começar e poder trazer nosso povo pra cá”, ponderou Gislaine Garcia da Silva, 34, moradora e também liderança comunitária do local.

Sem saber o que fazer, as famílias recorrem a Jaqueline e Gislaine para pedir ajuda. “O pessoal está sobrecarregado de abrigos. Muitos estão nos pedindo aluguel social. Muitas nos perguntam: ‘o que vai ser de nós?’. E a gente não sabe dizer, porque a gente também não sabe como vamos começar”, destacou Jaqueline, que está com a família no abrigo da empresa Stihl.

“A gente se sente perdido. É uma tristeza, uma devastação que tomou conta. Porque a gente pensa em limpar a casa, mas chega em casa e não tem como. Chega no galpão e se depara com toda essa destruição. Nosso acolhimento, nosso ponto seguro era aqui”, completa Gislaine, abrigada na casa de um irmão.

Como ajudar

Para ajudar as famílias a limpar suas moradias e retirar pertences que sobraram sobre os escombros, Jaqueline e Gislaine encabeçam uma campanha de doações de itens de limpeza e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como botas de borracha, luvas e máscaras. Interessados em ajudar, podem entrar em contato com elas pelos telefones/WhatsApp: 99279-7552 (Jaqueline) e 99245-1826 (Gislaine).

Jaqueline e Gislaine tentam recuperar a cozinha do galpão e pedem doaçõesPriscila Carvalho/GES-Especial
Ocupação Steigleder foi destruída pela enchente de maio em São LeopoldoPriscila Carvalho/GES-Especial

Prefeitura diz que há projetos em andamento

Procurada pela reportagem, a comunicação da Prefeitura de São Leopoldo disse que há dois projetos para Urbanização da Ocupação Steigleder, anteriores à enchente, em andamento. Um deles, dentro do Minha Casa, Minha Vida, já estaria aprovado pelo governo federal e, agora, está em fase de contratação.

Conforme a prefeitura, as vistorias já iniciadas no sábado em moradias do município também serão feitas em casas da comunidade. “O formulário para cadastro foi colocado à disposição dos interessados na sexta-feira (7). Menos de 24h depois, 500 pessoas fizeram a solicitação”, ressaltou a comunicação, em nota, lembrando que, até a tarde de ontem, o sistema registrou 1,6 mil cadastros para vistoria. “A Secretaria da Habitação (Semhab) pede compreensão às pessoas. Todos serão atendidos, mas há uma grande demanda e as equipes devem ser ampliadas o mais brevemente possível para atender as vistorias”.

 

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