Para acolher em torno de 15 mil desabrigados da maior enchente que já atingiu São Leopoldo, o município possui atualmente 69 abrigos abertos.
Na Unisinos, está o maior deles. Por lá, três ginásios que compõem o Complexo Desportivo da universidade acolhem cerca de 2 mil pessoas. O vice-reitor, Artur Jacobs, explica que uma “pequena cidade” foi montada para amparar as famílias. “Estamos tentando oferecer o melhor atendimento possível nas circunstâncias atuais”.
10 mil refeições por dia
O curso de Gastronomia, por exemplo, é o responsável por preparar as 5 refeições diárias – totalizando cerca de 10 mil por dia – para os acolhidos. “Continuamos necessitando de doações de alimentos para poder preparar essas refeições”, pondera.
Em um espaço organizado para tal, a assistência à saúde das famílias é oferecida, com diversos profissionais da Unisinos e da prefeitura leopoldense. Equipes também realizam recreação com idosos e crianças. E, ONGs auxiliam no cuidado dos pets. Tudo isso, com a colaboração de professores, funcionários, alunos da universidade e vários voluntários. “É impressionante essa vontade ajudar. Temos pessoas até de outras cidades ajudando aqui”, destacou Jacobs.
Para facilitar o recebimento de doações, um drive-thru segue aberto, das 8h às 22h, no paradão em frente à universidade.
Família passa pela segunda enchente em menos de um ano
Em menos de um ano, é a segunda vez que a família de Neiva Farias Nunes, 27 anos, precisa sair de casa, no bairro Campina, por conta de inundações. Em junho do ano passado, por conta do ciclone extratropical que atingiu a região, ela e os cinco filhos, de 10, 9, 7, 5 e 3 anos, tiveram a casa invadida pela água e ficaram no abrigo montado no Ginásio Celso Morbach.
Agora, por conta da enchente, ela – que está grávida de quase 8 meses – e as crianças estão na Unisinos. “Da outra vez, perdi tudo, mas não perdi a casa. Desta vez, perdi tudo e casa. Ela foi levada embora pela água”, lamenta. “Saímos só com a roupa do corpo. Só peguei as crianças”, lembrando que o enxoval da menina que espera também foi levado com a água.
Nesta quinta, Neiva passou o aniversário no abrigo, com os filhos, a irmã, Sabrina Farias, 24, e um sobrinho de 5 anos. “Não tem o que fazer né? É só esperar”, diz ela, destacando que já viu outras enchentes, mas nada como essa.
“É devastador”, lamenta venezuelana
Morando no Brasil há 5 anos, a família venezuelana de Belkis Delgado, 37 anos, nunca havia passado pelo que viu agora. Na sexta-feira (3), junto com o esposo Carlos Quijada, 46, e os filhos, Carlos e Clarisbel, de 14 e 11 anos, ela saiu do apartamento térreo onde moravam, na Campina, com água na altura do joelho.
“Perdemos tudo que a gente trabalhou com tanta força para conquistar”, contou Belkis, que está abrigada com a família na Unisinos. “É devastador. Saímos de um país que vive uma crise horrível, que para o mundo não é segredo, chegamos aqui, trabalhamos muito. Eu tinha dois empregos, estava comprando muitas coisas para minha casa”, emociona-se, lembrando que pegou apenas algumas peças de roupa e os documentos deles.
Preocupada em como será a volta pra casa, uma das dúvidas e se a sacola preta onde guardaram o restante das roupas suportou a enchente. “Não sei se vamos conseguir recuperar alguma coisa”, comenta. “Ainda não acredito. Nunca passei por uma coisa assim. Nunca vi uma enchente assim.”
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