“Eu fico uma hora amargando e ele não passa. Isso não é vida para nós”. A reclamação da dona de casa Fátima Maria Ramos, de 62 anos, já virou rotina para muitos que dependem dos ônibus para se locomover pelo município. Com a passagem a R$ 5,00 desde 2 de janeiro e sem ar-condicionado em muitos casos, a comunidade reclama também da falta de comodidade na viagem.
Dona Fátima, que usa a linha Santos Dumont para colaborar com o tratamento de seu marido, afirma que suas idas ao Centro são permeadas por desconforto. “Nós já somos idosos; ou eles botam mais ônibus, ou mudam o jeito. Eles deveriam passar de meia em meia hora, mas levam uma hora para chegar. Não aguento mais”, desabafa.
Tempo de espera varia
A aposentada Leonira da Silva Bek, 60, não sofre do mesmo mal ao usar a linha Vila Maria, também do bairro Santos Dumont. “Daqui a pouco chega”, diz, tranquilamente. Já os usuários da linha Morro do Paula não têm a mesma sorte que Leonira. A doméstica Maria Antunes, 77, e seu neto Wellinton Rosiel Antunes dos Reis, 17, volta e meia precisam pedir carona, como aconteceu durante a realização desta reportagem. “Ele vem de uma hora em uma hora, mas hoje nós perdemos porque ele veio adiantado. Agora temos que esperar alguém nos buscar”, conta.
Como acompanhar
O Consórcio Operacional Leopoldense (Coleo), responsável pelo transporte coletivo municipal, reforça que as reclamações, assim como pedidos de informação, devem ser feitos pelos canais oficiais do consórcio e da prefeitura. “Percebemos que muitos usuários pesquisam horários de forma incorreta e se baseiam em sites não oficiais. Antes de alterar qualquer horário, sempre publicamos nas mídias sociais”, avisa o consórcio, mediante assessoria.
O Coleo atende pelo telefone (51) 3592-2009, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30,e também na Rua Conceição, 838, Centro. As alterações de horários são divulgadas na página da empresa no Facebook.
Insatisfações podem ser repassadas também à ouvidoria municipal, que atende de segunda a sexta-feira, das 9h às 14h. O atendimento pode ser feito na Avenida Dom João Becker, 754 e pelo telefone 156. O Coleo reforça que as reclamações, tanto à prefeitura quanto ao consórcio, devem vir acompanhadas do máximo de informações possível. Além do detalhamento do ocorrido, é necessário fornecer data, local, nome da linha e horário em que aconteceu, e, se possível, número do veículo.
Coleo explica como funciona a tabelação e definição da frota
De acordo com o Coleo, “se a população de um bairro é maior, a tendência é que a movimentação de passageiros também seja, fazendo com que os intervalos de tempo entre veículos sejam menores”. O Consórcio explica que acompanha diariamente as lotações. “Os veículos variam de 23 a 54 passageiros sentados e mais 43% a 50% de pé”.
A empresa informa ainda que há uma queda de 66% nessa demanda aos sábados e de 90% nos domingos, o que diminui, consequentemente, a frota nesses dias. Em relação às alterações semanais na
tabela, “as atualizações, em sua maioria, são somente de minutos. Exemplo: o ônibus sai do centro às 11h36, mas sairá às 11h34 para não ficar atrasado na viagem de retorno em função de um engarrafamento que está se formando no Centro”, diz o consórcio.
O Coleo reclama, ainda, que o valor atual da passagem é inferior ao necessário para suprir as demandas. “Atualmente o valor da tarifa técnica alcança o patamar de R$ 6,13. Bem diferente do atual valor da tarifa pública em São Leopoldo, que é R$ 5,00. Isso ocasiona a redução da qualidade do serviço prestado, com aumento da idade média da frota, redução de horários, demissões de funcionários e possibilidade de atraso nos pagamentos dos salários”, explica o consórcio em nota.
Acessibilidade é obrigatória, mas ar-condicionado não é
Em relação à exigência de ar-condicionado e acessibilidade, a Secretaria de Mobilidade e Serviços Urbanos (Semurb) esclareceu, mediante assessoria, que a climatização é apenas aconselhada. “A acessibilidade, sim, é obrigatória. Todas as frotas devem ter esse recurso, mas ainda está dentro do período de adequação dos veículos”. Conforme a pasta, este período é de 15 anos após a assinatura do contrato de concessão, em julho de 2011. Ou seja, as empresas têm até 2026 para se adaptarem.
A Semurb define, ainda, que as empresas que não cumprirem as exigências são notificadas e podem ser punidas em caso de reincidência. Também questionado, o Consórcio alega que a acessibilidade é um conjunto de características que obedecem à lei. “Vai desde o adesivo azul com o símbolo de acessibilidade na lataria do veículo, pega mão tátil, friso amarelo nas escadas de acesso, até o elevador para cadeiras de roda. Ocorre que conforme o ano de fabricação do ônibus, as exigências vão sendo maiores”.
Segundo o Coleo, os ônibus mais antigos devem possuir o adesivo e pega mão tátil. Já o elevador para cadeiras de rodas só é obrigatório para veículos fabricados a partir de 2012, que também devem ter as outras características. De acordo com a Semurb, a idade média das frotas deve ser de até 10 anos e a troca mais recente ocorreu em 2023, com a substituição de sete veículos.
Semurb garante que controla cumprimento das normas
A Semurb garante que “toda mudança de linha e horários são apresentadas à Semurb, e, após análise e consulta popular, é deferida ou não a proposta do Coleo”. A pasta acrescenta que “realiza o controle de lotação, cumprimento dos horários e itinerários e estes dados são controlados e aferidos pelo Poder Publico junto ao Consórcio”. A listagem de lotações e horários não foram repassadas à reporter em respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A secretaria defende que, em alguns casos, os atrasos são justificáveis.“As rotas e horários são impactados conforme as instabilidades climáticas e bloqueios inesperados das pistas.
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