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Leopoldense é destaque com três enredos campeões no carnaval gaúcho em 2023
O temista Édy Dutra ganhou títulos com três escolas de samba em Porto Alegre, São Leopoldo e Cruz Alta neste ano
Última atualização: 01/03/2024 09:12
A data em que se comemora o carnaval no ano de 2023 já passou, mais os eventos da maior festa popular do País continuam trazendo alegria e reconhecimento para grandes nomes da cultura. Na semana que vem, a premiação dos quesitos com maiores notas do carnaval de São Leopoldo – cujo desfile aconteceu em 11 de março – deve ocorrer e consagrar um desses nomes: o do temista Édy Dutra.
Leopoldense, o jornalista de formação e servidor público, Édson Dutra, 33 anos, há 15 atua também na profissão de temista. É dele a responsabilidade por escolher, pesquisar e desenvolver os temas-enredos das escolas de samba que participa e que, depois, serão a base para a criação dos sambas-enredo e para a organização de todo desfile das agremiações. E é com esse trabalho, um dos mais importantes do carnaval, que ele alcançou um feito gigante este ano: ser três vezes campeão do carnaval no Estado, conquistando os títulos com três escolas em três municípios diferentes.
As conquistas do ano
O primeiro deles foi naquele que é considerado o maior carnaval do Rio Grande do Sul, o de Porto Alegre, desfilando no sábado, 4 de março. Lá, Édy foi campeão com a Estado Maior da Restinga e o enredo “Bendita és Tu, Anastácia, Negra dos Olhos Azuis”, que contou a história da escravizada nascida no Brasil. O título foi o décimo da história da escola e acabou com um hiato de 11 anos sem conquistas da Restinga.
Uma semana depois, o temista estava com a Estação Primeira de São Léo no desfile leopoldense. Com o tema “Carta Aberta para uma Nova Era”, que levava reflexão e força após o difícil período da pandemia vivido pelo mundo todo, a escola foi tricampeã do carnaval da cidade e rendeu a Edy duas notas 10 no quesito “tema-enredo”.
Mais sete dias a frente e ele estava em novo desfile. Desta vez, participando pela primeira vez do carnaval de Cruz Alta, com a Unidos do Beco. Cantando “O futuro é Orixá Unidos no renascer da vida”, que fala de cura pelo viés da africanidade, a partir dos orixás e seus ensinamentos, a escola foi tetracampeã do carnaval da cidade e deu a Édy o terceiro título em carnavais do Estado em 15 dias.
Primeiro contato foi virtual
Mas a história de um dos maiores campeões do carnaval gaúcho no ano não veio sem esforço e muita dedicação. Com família que fazia parte da extinta Acadêmicos do Rio Branco, Édy conta que sempre acompanhou os desfiles, mas nunca desfilou.
Em 2004, porém, a primeira experiência na organização de uma escola de samba veio pela inserção na Liga das Escolas de Samba Virtual (Liesv) e a participação no Carnaval Virtual, junto a amigos e familiares. “Ali foi o meu primeiro contato em fazer enredos. Eu já tinha interesse e sabia mais ou menos como era, mas ali, com o carnaval virtual, comecei, de fato, a fazer, a aprender como se estrutura, como se monta um roteiro de desfile. E nós criamos a primeira escola de samba virtual do Rio Grande do Sul, a Mocidade Leopoldense”, orgulha-se.
Fazendo carnaval até fora do Estado
O primeiro enredo como profissional veio pouco tempo depois. Ele tratava sobre o Rio dos Sinos e foi feito para a extinta escola de samba leopoldense União da Vila.
Em 2008, Édy conheceu a Estação Primeira de São Léo e, no ano seguinte, fez seu primeiro tema-enredo para a escola, falando sobre o Museu do Trem. Apesar da agremiação não ter ganhado o carnaval daquele ano, foi com a ideia que ele conquistou o seu primeiro prêmio de Melhor Tema-Enredo do carnaval. De lá para cá, são 14 anos desenvolvendo os temas para a Estação Primeira e outras tantas escolas em diferentes cidades do Estado e até fora dele.
Das parcerias e contatos dos anos de carnaval, surgiu a oportunidade de trabalhar em Porto Alegre. Lá, ele foi campeão com a Imperadores do Samba, em 2017 e 2019, e, agora, com a Restinga. Além disso, Édy já esteve com escolas no carnaval de Guaíba, Cruz Alta, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e até do Rio de Janeiro, pelo grupo de acesso do maior carnaval do País.
Como se desenvolve um tema-enredo?
Com uma das maiores responsabilidades de uma escola de samba, Édy destaca como acontece o trabalho de desenvolver as temáticas que vão nortear o desfile. “Faço pesquisa do enredo, as leituras, acima de tudo, daquilo que envolve o tema, e dali vou pincelando e trazendo as ideias principais pra depois pensar na narrativa, de que forma a história será contada”, explica, detalhando que o texto tem que contar a história de maneira que quem leia entenda o que a escola deve trazer, mas com leveza, sem parecer um trabalho técnico.
“Ela tem que ter uma forma de contar linear, com início, meio e fim, não pode ser muito grande, porque tenho que contar uma história dentro do tamanho que a escola possa apresentar. Tem que ser um texto artístico, porque é dele que o compositor vai fazer o samba, o figurinista vai fazer o desenho (dos figurinos), o pessoal vai fazer as alegorias. Então, é um texto que tem que servir de inspiração para outros artistas criarem também”, acrescentou.
O texto, junto ao caderno com todos os detalhes sobre o desfile da escola, como justificativa da escolha do tema, ficha técnica, setores e descrição das fantasias, é encaminhado para os jurados. O trabalho é feito sempre em alinhamento com a agremiação, a fim de que tudo “case” perfeitamente para a avenida. “Costumo brincar que sou o primeiro que começa a trabalhar e o último que larga, porque meu trabalho só termina quando entrego o caderno pros jurados”, diverte-se.
Conquistas marcantes e felicidade pelos resultados
Sobre o vitorioso trabalho de 2023, que lhe rendeu três títulos em três cidades do Estado, Édy lembra que os carnavais foram totalmente diferentes e que atuava também na organização do desfile de São Leopoldo e cuidando da corte leopoldense, o que aumentou a correria.
Com humildade, ele relata estar feliz por ter conseguido ajudar suas agremiações, fazendo a sua parte e trazendo as notas necessárias para alcançar os títulos, mas reconhece que ganhar três carnavais, dá outra projeção para o seu trabalho. “Deu certo e isso pra mim já foi um grande alívio. Mas, lógico que as escolas sendo campeãs dá uma outra dimensão, por ter colaborado na conquista delas. A Restinga estava há 11 anos sem ganhar carnaval, a Estação com resultado inédito de tricampeonato, um tetra inédito em Cruz Alta. São conquistas bem marcantes pra essas comunidades e que eu fico muito feliz por ter participado”, diz, agradecendo pela confiança e reconhecimento das escolas em seu trabalho.
Um profissional e estudioso do carnaval
“Está sendo muito bacana, muito especial. É o reconhecimento de um trabalho. Gosto de dizer que ser temista não é fácil. A gente estuda muito. Eu tenho muitos livros de carnaval, gosto de acompanhar, de escutar. É investimento. Eu comprava DVDs de desfile para estudar, fiz muitos cursos. Participei do Centro de Estudos e Pesquisas de Tema Enredo (Cete), para estudar carnaval, mas principalmente para estudar enredo”, destaca o leopoldense.
Citado como referência por Édy, o Cete é um dos locais que o ajudaram a crescer na área. “O Cete foi uma grande escola. Fiz muitos amigos, muitos contatos, meu amadurecimento enquanto temista e criador foi através do Cete. Foi através dele que eu me profissionalizei de fato, através dele que eu fui jurado do carnaval de Porto Alegre, fui professor do Cete. Ele me deu uma bagagem muito grande, de troca”, enfatiza o leopoldense.
Hoje, além de hobby e profissão, o carnaval é o assunto de sua dissertação de mestrado em comunicação.
“Minha meta é colaborar”
Os oito campeonatos já conquistados, os cerca de 15 troféus que ganhou com o melhor tema-enredo dos carnavais que já participou e o tricampeonato dos títulos conquistados este ano, não envaidecem Édy. “A minha meta é sempre colaborar. Não é a toa, que estou estudando o carnaval literalmente. Eu me vejo, de fato, sendo um colaborador, alguém que está ali para somar.”
A data em que se comemora o carnaval no ano de 2023 já passou, mais os eventos da maior festa popular do País continuam trazendo alegria e reconhecimento para grandes nomes da cultura. Na semana que vem, a premiação dos quesitos com maiores notas do carnaval de São Leopoldo – cujo desfile aconteceu em 11 de março – deve ocorrer e consagrar um desses nomes: o do temista Édy Dutra.
Leopoldense, o jornalista de formação e servidor público, Édson Dutra, 33 anos, há 15 atua também na profissão de temista. É dele a responsabilidade por escolher, pesquisar e desenvolver os temas-enredos das escolas de samba que participa e que, depois, serão a base para a criação dos sambas-enredo e para a organização de todo desfile das agremiações. E é com esse trabalho, um dos mais importantes do carnaval, que ele alcançou um feito gigante este ano: ser três vezes campeão do carnaval no Estado, conquistando os títulos com três escolas em três municípios diferentes.
As conquistas do ano
O primeiro deles foi naquele que é considerado o maior carnaval do Rio Grande do Sul, o de Porto Alegre, desfilando no sábado, 4 de março. Lá, Édy foi campeão com a Estado Maior da Restinga e o enredo “Bendita és Tu, Anastácia, Negra dos Olhos Azuis”, que contou a história da escravizada nascida no Brasil. O título foi o décimo da história da escola e acabou com um hiato de 11 anos sem conquistas da Restinga.
Uma semana depois, o temista estava com a Estação Primeira de São Léo no desfile leopoldense. Com o tema “Carta Aberta para uma Nova Era”, que levava reflexão e força após o difícil período da pandemia vivido pelo mundo todo, a escola foi tricampeã do carnaval da cidade e rendeu a Edy duas notas 10 no quesito “tema-enredo”.
Mais sete dias a frente e ele estava em novo desfile. Desta vez, participando pela primeira vez do carnaval de Cruz Alta, com a Unidos do Beco. Cantando “O futuro é Orixá Unidos no renascer da vida”, que fala de cura pelo viés da africanidade, a partir dos orixás e seus ensinamentos, a escola foi tetracampeã do carnaval da cidade e deu a Édy o terceiro título em carnavais do Estado em 15 dias.
Primeiro contato foi virtual
Mas a história de um dos maiores campeões do carnaval gaúcho no ano não veio sem esforço e muita dedicação. Com família que fazia parte da extinta Acadêmicos do Rio Branco, Édy conta que sempre acompanhou os desfiles, mas nunca desfilou.
Em 2004, porém, a primeira experiência na organização de uma escola de samba veio pela inserção na Liga das Escolas de Samba Virtual (Liesv) e a participação no Carnaval Virtual, junto a amigos e familiares. “Ali foi o meu primeiro contato em fazer enredos. Eu já tinha interesse e sabia mais ou menos como era, mas ali, com o carnaval virtual, comecei, de fato, a fazer, a aprender como se estrutura, como se monta um roteiro de desfile. E nós criamos a primeira escola de samba virtual do Rio Grande do Sul, a Mocidade Leopoldense”, orgulha-se.
Fazendo carnaval até fora do Estado
O primeiro enredo como profissional veio pouco tempo depois. Ele tratava sobre o Rio dos Sinos e foi feito para a extinta escola de samba leopoldense União da Vila.
Em 2008, Édy conheceu a Estação Primeira de São Léo e, no ano seguinte, fez seu primeiro tema-enredo para a escola, falando sobre o Museu do Trem. Apesar da agremiação não ter ganhado o carnaval daquele ano, foi com a ideia que ele conquistou o seu primeiro prêmio de Melhor Tema-Enredo do carnaval. De lá para cá, são 14 anos desenvolvendo os temas para a Estação Primeira e outras tantas escolas em diferentes cidades do Estado e até fora dele.
Das parcerias e contatos dos anos de carnaval, surgiu a oportunidade de trabalhar em Porto Alegre. Lá, ele foi campeão com a Imperadores do Samba, em 2017 e 2019, e, agora, com a Restinga. Além disso, Édy já esteve com escolas no carnaval de Guaíba, Cruz Alta, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e até do Rio de Janeiro, pelo grupo de acesso do maior carnaval do País.
Como se desenvolve um tema-enredo?
Com uma das maiores responsabilidades de uma escola de samba, Édy destaca como acontece o trabalho de desenvolver as temáticas que vão nortear o desfile. “Faço pesquisa do enredo, as leituras, acima de tudo, daquilo que envolve o tema, e dali vou pincelando e trazendo as ideias principais pra depois pensar na narrativa, de que forma a história será contada”, explica, detalhando que o texto tem que contar a história de maneira que quem leia entenda o que a escola deve trazer, mas com leveza, sem parecer um trabalho técnico.
“Ela tem que ter uma forma de contar linear, com início, meio e fim, não pode ser muito grande, porque tenho que contar uma história dentro do tamanho que a escola possa apresentar. Tem que ser um texto artístico, porque é dele que o compositor vai fazer o samba, o figurinista vai fazer o desenho (dos figurinos), o pessoal vai fazer as alegorias. Então, é um texto que tem que servir de inspiração para outros artistas criarem também”, acrescentou.
O texto, junto ao caderno com todos os detalhes sobre o desfile da escola, como justificativa da escolha do tema, ficha técnica, setores e descrição das fantasias, é encaminhado para os jurados. O trabalho é feito sempre em alinhamento com a agremiação, a fim de que tudo “case” perfeitamente para a avenida. “Costumo brincar que sou o primeiro que começa a trabalhar e o último que larga, porque meu trabalho só termina quando entrego o caderno pros jurados”, diverte-se.
Conquistas marcantes e felicidade pelos resultados
Sobre o vitorioso trabalho de 2023, que lhe rendeu três títulos em três cidades do Estado, Édy lembra que os carnavais foram totalmente diferentes e que atuava também na organização do desfile de São Leopoldo e cuidando da corte leopoldense, o que aumentou a correria.
Com humildade, ele relata estar feliz por ter conseguido ajudar suas agremiações, fazendo a sua parte e trazendo as notas necessárias para alcançar os títulos, mas reconhece que ganhar três carnavais, dá outra projeção para o seu trabalho. “Deu certo e isso pra mim já foi um grande alívio. Mas, lógico que as escolas sendo campeãs dá uma outra dimensão, por ter colaborado na conquista delas. A Restinga estava há 11 anos sem ganhar carnaval, a Estação com resultado inédito de tricampeonato, um tetra inédito em Cruz Alta. São conquistas bem marcantes pra essas comunidades e que eu fico muito feliz por ter participado”, diz, agradecendo pela confiança e reconhecimento das escolas em seu trabalho.
Um profissional e estudioso do carnaval
“Está sendo muito bacana, muito especial. É o reconhecimento de um trabalho. Gosto de dizer que ser temista não é fácil. A gente estuda muito. Eu tenho muitos livros de carnaval, gosto de acompanhar, de escutar. É investimento. Eu comprava DVDs de desfile para estudar, fiz muitos cursos. Participei do Centro de Estudos e Pesquisas de Tema Enredo (Cete), para estudar carnaval, mas principalmente para estudar enredo”, destaca o leopoldense.
Citado como referência por Édy, o Cete é um dos locais que o ajudaram a crescer na área. “O Cete foi uma grande escola. Fiz muitos amigos, muitos contatos, meu amadurecimento enquanto temista e criador foi através do Cete. Foi através dele que eu me profissionalizei de fato, através dele que eu fui jurado do carnaval de Porto Alegre, fui professor do Cete. Ele me deu uma bagagem muito grande, de troca”, enfatiza o leopoldense.
Hoje, além de hobby e profissão, o carnaval é o assunto de sua dissertação de mestrado em comunicação.
“Minha meta é colaborar”
Os oito campeonatos já conquistados, os cerca de 15 troféus que ganhou com o melhor tema-enredo dos carnavais que já participou e o tricampeonato dos títulos conquistados este ano, não envaidecem Édy. “A minha meta é sempre colaborar. Não é a toa, que estou estudando o carnaval literalmente. Eu me vejo, de fato, sendo um colaborador, alguém que está ali para somar.”