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SÃO LEOPOLDO

Insegurança alimentar grave atinge mais da metade dos usuários de cozinhas sociais

Pesquisa feita na cidade com 2,1 mil frequentadores adultos dos projetos comunitários aponta a situação preocupante na alimentação de famílias carentes

Priscila Carvalho
Publicado em: 16/10/2024 às 11h:01
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No Dia Mundial da Alimentação, comemorado nesta quarta-feira (16), um dado local assusta e faz refletir sobre a necessidade de se atentar para o tema: mais da metade das pessoas que utilizam o serviço das cozinhas sociais leopoldenses está em insegurança alimentar grave.

O percentual se refere à pesquisa feita no segundo semestre do ano passado, com mais de 2,1 mil pessoas que frequentavam, à época, as 25 cozinhas sociais do projeto São Léo Mais Comida no Prato, de São Leopoldo. Por ela, foi constatado que 53,5% dos entrevistados maiores de 18 anos se encaixa em insegurança alimentar grave, e, apenas 3,6% estava em algum grau de segurança alimentar.

Dados do EBIA no segundo semestre de 2023 mostra percentual de insegurança alimentar em São Leopoldo



Dados do EBIA no segundo semestre de 2023 mostra percentual de insegurança alimentar em São Leopoldo

Foto: Arte/Alan Machado

Rotatividade

Presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Leopoldo (Comsea), Ingrid Becker explica que os dados foram levantados dentro da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), pesquisa validada e que é utilizada pelo município para avaliar a insegurança alimentar dentro dos domicílios. Duas aplicações já foram feitas nos espaços, no primeiro e segundo semestres de 2023.

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“Uma das questões do São Léo Mais Comida no Prato, era a aplicação da EBIA nas cozinhas sociais e fazer esse acompanhamento. O que se esperava era que esse dado melhorasse, porém, com a segunda aplicação, vimos que na verdade houve uma piora”, iniciou.

“Mas o que a gente entendeu é que há muita rotatividade: uma pessoa que respondeu que estava em segurança alimentar grave na primeira aplicação, pode não estar mais frequentando a cozinha social, porque já saiu desse quadro, conseguiu se organizar financeiramente e não precisa mais acessar a cozinha. Mas ao mesmo tempo, há o acesso de muitas pessoas novas nas cozinhas. Essa rotatividade faz com que a gente não consiga ter realmente o acompanhamento da família”, explicou Ingrid, destacando os resultados obtidos na última pesquisa, realizada de junho a setembro do ano passado.

96% está em algum nível de insegurança alimentar

“Mais de 50% está em nível considerado grave, e menos de 4% está em segurança alimentar. Então, 96% está em algum nível de insegurança alimentar”, frisou Ingrid, lembrando que é um dado importante, e que pode ter piorado depois das enchentes de maio.

“Identificamos que apenas menos de 4% das pessoas que responderam questionário estavam em segurança alimentar. Isso é grave. É grave e eu acho que frisa a importância das cozinhas sociais dentro de São Leopoldo: que é necessário elas estarem aqui e, mais ainda, estarem nas periferias, porque lá é onde a fome está presente, são naqueles domicílios, naquela região, onde a fome está presente e gritando, pedindo socorro”, complementou. “Por isso que nós, enquanto Comsea, queremos que o incentivo a essas iniciativas comunitárias continuem”, disse a presidente.

Atualmente, 24 cozinhas sociais estão ativas no município. “Todas elas em áreas periféricas, nenhuma em região central. A maioria fica na região Nordeste, que é uma região muito populosa e realmente sabemos que é bem carente.”

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Uma refeição por dia ou um dia inteiro sem comer: 50%

Outro dado trazido pelo EBIA, diz respeito a quantidade de refeições por dia. O levantamento aponta que 50,4% dos entrevistados fez apenas uma refeição ao dia ou ficou um dia inteiro sem comer porque não tinha dinheiro para comprar comida, de junho a setembro do ano passado. “Então, metade das pessoas que responderam, ou ficaram o dia inteiro sem comer ou fizeram somente uma refeição no dia, só o almoço ou só a janta”, analisou Ingrid, que também é nutricionista de formação e trabalha na Associação de Meninos e Meninas de Progresso (Ammep).

“A gente vê diariamente nos rostinhos das crianças, quando elas chegam pra se alimentar, aquela necessidade pela comida. A gente sempre fala que, querendo ou não, a cozinha é o coração da instituição, assim como também é no restante das cozinhas sociais de São Leopoldo. Porque ali é onde tudo é feito, com amor e cuidado pra poder nutrir, porque através da alimentação que a gente consegue passar isso pra eles”, completou Ingrid.

Ingrid Becker, presidente do Comsea, com os dados do EBIA, que estão expostos no salão de entrada da prefeitura



Ingrid Becker, presidente do Comsea, com os dados do EBIA, que estão expostos no salão de entrada da prefeitura

Foto: Priscila Carvalho/GES-Especial

Novo levantamento deve iniciar ainda este mês

Ingrid explicou que um novo EBIA estava sendo realizado em março no primeiro semestre do ano, mas as cheias, que atingiram diversas cozinhas e instituições, prejudicou a pesquisa. “Ficaram faltando seis cozinhas. Aplicamos até o dia 25 de abril, mas não conseguimos finalizar por conta das chuvas e, logo depois, das enchentes”, ponderou. “Acredito que uma nova aplicação é o mais correto a ser feito”, complementou, afirmando que um novo EBIA deve ser iniciado no fim de outubro.

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Em exposição

Os dados dos últimos EBIAs feitos em São Leopoldo fazem parte da mostra “São Léo mais comida no prato – Redes de segurança alimentar nas comunidades”, que está em exposição no salão de entrada da prefeitura até a sexta-feira (18), dentro da Semana do Alimento saudável.

 

 

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