SÃO LEOPOLDO
FICHAS E LONGAS FILAS: como está o atendimento nos Cras para atualização do CadÚnico
Unidades se organizam para receber moradores atingidos pela enchente e que podem receber benefícios do governo do Estado. Porém, critérios confundem e levam centenas aos espaços; Prefeitura estuda entrar na Justiça contra o governo estadual
Última atualização: 05/07/2024 16:20
Com as últimas atualizações de critérios e o receio de perder o prazo para o recebimento dos benefícios SOS Pix RS e Volta Por Cima, disponibilizados pelo governo do Estado, diversos moradores de áreas atingidas pela enchente têm procurado os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) leopoldenses para atualizar e fazer cadastros a fim de tentar os auxílios.
No município, a partir desta semana, a fim de descentralizar os atendimentos – que antes vinham sendo realizados somente na prefeitura e por telefone –, cinco unidades do Cras recebem pessoas buscando informações sobre os benefícios. Os atendimentos ocorrem das 8 às 17h, mas, na maioria dos locais, grandes filas se formam já no dia anterior – o que tem gerado muita reclamação.
Para tentar facilitar o atendimento, os Cras têm distribuído fichas especialmente para quem busca informações de cadastro único (CadÚnico). E, além disso, disponibilizam atendentes para consulta de Auxílio Reconstrução e correção de cadastro, no caso de reprovados no benefício que precisem atualizar a inscrição. Fora esse trabalho, auxílio com login e senha Gov e os serviços já costumeiramente realizados no Cras seguem sendo oferecidos.
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Entrega de fichas vem aumentando no Cras Oeste
No Cras Oeste, localizado no bairro Vicentina, o número de fichas disponibilizadas para CadÚnico vem aumentando gradualmente. Conforme a coordenadora do espaço, Josiane Gehling, no primeiro dia de atendimento, 80 fichas foram entregues, pois havia colegas novos, sem tanto conhecimento no sistema, e que precisavam da ajuda dos atendentes mais experientes, diminuindo a capacidade total de realização dos cadastros.
Nesta quinta-feira (4), quarto dia de funcionamento para atualização dos auxílios, 110 senhas foram colocadas à disposição. “A gente está a cada dia tentando aumentar um pouquinho, conforme eles vão pegando prática, né? Hoje (quinta-feira), quando a gente chegou aqui tinham 102 pessoas, então, todo mundo pegou ficha e quem chegou depois a gente ainda conseguiu atender”.
No local, é feita uma triagem com as pessoas que pegaram ficha, sendo que a metade é atendida pela manhã e outra metade é agendada e orientada a voltar à tarde, já com o nome cadastrado para receber atendimento. Após a triagem, as pessoas podem aguardar numa sala de espera.
Novos critérios confundem
Josiane aponta que diversas dúvidas chegam ao local, mas que os novos critérios definidos pelo governo do Estado nos últimos dias têm dificultado o entendimento. “Teve gente que atualizou o cadastro no início do ano passado e que só precisaria atualizar no início de 2025, mas que se obrigou a vir, porque o Estado está dizendo que só vai aceitar o cadastro de quem atualizou nos últimos 12 meses”, comentou.
“A gente vem recebendo aqui várias pessoas que nunca tinham acessado o Cras pra fazer CadÚnico”, acrescentou. “E, se continuar esses novos critérios do Estado, todo mundo que passou trabalho, madrugou e está fazendo o cadastro, não vai receber”.
“A gente tá precisando desse dinheiro”
Moradora da Vicentina, Carla Vieira, 54 anos, foi ao Cras Oeste pela segunda vez nesta semana para tentar atualizar o cadastro e receber o SOS Pix RS. “Cheguei perto das 8h, tinha uma fila enorme, mas consegui ficha pra ser atendida de tarde. Na terça-feira eu já tinha vindo, mas não consegui ficha”, comentou.
O receio dela, porém, é de não receber o benefício por conta dos prazos colocados pelo governo do Estado – apenas cadastros já constantes na listagem do CadÚnico até 15 de junho terão direito ao benefício. “A gente tá precisando desse dinheiro. Eu tenho que fazer o telhado da minha casa, que perdi. A cozinha e o banheiro estão sem forro. E a porta da frente está aberta, porque ficou muitos dias na água e não estragou, não fecha mais”, lamentou.
Capacidade de atendimento
No Cras Nordeste, no bairro Santos Dumont, também há a distribuição de fichas. “A gente está atendendo em média 100 pessoas por dia pra cadastro único. Hoje (esta quinta), a gente até estendeu um pouquinho e distribuímos 120 fichas”, destacou a chefe de departamento do local, Sinara Dorneles de Souza.
“Infelizmente, nós temos uma capacidade de atendimento, então, a gente não pode dizer que não tem um número limite”, ponderou, reforçando que os funcionários estão voltados principalmente para atender as dúvidas dos auxílios para atingidos pela enchente. “Estamos numa força-tarefa, especialmente em função do cadastro único.”
Prefeitura estuda judicializar
Em entrevista coletiva na tarde da quinta-feira (3), o prefeito Ary Vanazzi mostrou indignação pela atualização nos critérios para obtenção do SOS Pix RS pelo governo do Estado. Conforme exposto no site sosenchentes.rs.gov.br, canal oficial do RS para os benefícios, “em reunião virtual realizada dia 25/6, o Comitê Gestor do pix aprovou novas decisões sobre a distribuição de recursos arrecadados para auxiliar população atingida por enchentes. Dentro do requisito constar no CadÚnico, foi definido passa a se considerar pessoas que constam no cadastro até 15/6/2024 – que é a data da listagem enviada pelo governo federal. E o cadastro no CadÚnico precisa ter sido atualizado nos últimos 12 meses”.
Com isso, não há perspectiva de pagamento para novos cadastros, feitos após a data de 15 de junho. “A expectativa das pessoas é enorme, é preciso ter responsabilidade para criar um auxílio que, além de dificultar o acesso aos recursos, ainda não será pago a todos os atingidos”, lamentou Vanazzi. O prefeito anunciou ainda que a Prefeitura de São Leopoldo estuda medidas para ingressar na Justiça para garantir que o Governo do Estado pague o auxílio PIX SOS a todas as famílias incluídas no Cadastro Único que residem na mancha de inundação da enchente de maio.