SETOR PRODUTIVO ATRÁS DE AJUDA
Empresas atingidas pelas enchentes buscam auxílio para recomeçar; confira iniciativas já existentes
Em São Leopoldo, estima-se que cerca de 8 mil negócios, entre indústrias, comércio e serviços, foram afetados pela enchente e que perdas da atividade econômica devem passar dos R$ 400 milhões entre maio e agosto
Última atualização: 26/06/2024 16:55
O setor produtivo está buscando alternativas e auxílio para que as empresas possam recomeçar suas atividades após a catástrofe climática de maio. Em São Leopoldo, conforme estimativa da Prefeitura, 8 mil empresas - seja da área da indústria, comércio ou serviços, dos mais diferentes setores -, foram atingidas pela maior enchente da história do Estado.
Ainda não há um levantamento do volume total de perdas que a cheia causou para estas empresas, mas estudo preliminar da Unisinos, apresentado recentemente na capital, projeta a perda de R$ 415,8 milhões na atividade econômica da cidade entre maio e agosto.
Na área metalmecânica, um dos setores que se destaca no Município, o Sindimetal RS - que abrange 35 municípios da região -, fez um levantamento das empresas atingidas pelo evento climático. Segundo o presidente da entidade, Sergio de Bortoli Galera, 151 indústrias responderam ao questionário, sendo atingidas diretamente ou indiretamente. Nestas empresas atuam 13.320 colaboradores, dos quais 2,8 mil foram atingidos diretamente pela cheia. "Não se sabe ainda se todas as empresas que foram atingidas já responderam, pois muitas ainda não retomaram as atividades."
No bairro São Miguel, a Ernesto Müller Indústria e Comércio de Telas, com mais de 70 anos de história, foi uma das empresas afetadas pela enchente de maio. "Ainda estou em estado de choque", resumiu o proprietário Arno Müller, 68 anos, dando, no último dia 11, uma dimensão do que está vivendo, enquanto atuava na limpeza da indústria, fundada na década de 50 pelo seu avô. No local, ainda se contabiliza prejuízos.
Recomeço delicado
"Inutilizou todo equipamento e o estoque foi comprometido", observa Müller. "Vai ser um recomeço bastante delicado. Não tenho um valor definido dos prejuízos, mas com certeza não foi pouco, são décadas de investimento. Vamos ter que analisar como será a dinâmica do retorno da produção." Dona Isa, 70 anos, sua esposa e sócia, destaca o comprometimento dos funcionários. "Eles foram os primeiros a nos abraçar. Sem eles, não estaríamos conseguindo fazer nada", afirma, ressaltando ainda a ajuda de familiares entre outros apoios. Müller observa que vai manter os colaboradores, descartando demissões. Segundo ele, alguns deles também tiveram suas casas atingidas. Na empresa, a volta da produção ainda não é possível.
Máquinas danificadas com água e lama
A TKS, metalúrgica no bairro Vicentina, também sofre prejuízos. A sócia Aline Teixeira da Silva relata que ficou um mês sem ter acesso ao prédio. “Conseguimos retomar com máquinas mais simples, mas as mais complexas ainda estão sendo consertadas e acredito que a operação com estes equipamentos só possa ocorrer daqui a dois meses”, projeta. Há duas semanas, ainda se fazia a limpeza de máquinas e a secagem dos quadros elétricos para, depois ser dado início na recuperação dos equipamentos.
Aline estima que a operação como antes da cheia só deverá ocorrer daqui a três meses. “Tivemos perda total da produção, matéria prima, equipamentos de precisão.” Ela também diz que já está em busca de recursos para enfrentar a situação de quase dois meses sem faturamento.
Pleitos do setor produtivo
O comitê executivo da Câmara Temática da Indústria entregou, no dia 7 de junho, documento ao prefeito Ary Vanazzi com os pleitos do setor produtivo. “Estamos passando por uma situação de anormalidade e pedimos sensibilidade do poder público. É preciso recuperar empresas que estão há mais de 50 dias paradas. Enquanto não conseguem voltar, têm contas a pagar, salários. O que o Município não consegue atender, pedimos que intervenha junto ao governo federal para que as medidas e a ajuda venham”, destaca o presidente do Sindimetal, Sergio de Bortoli Galera, que assinou o documento em nome do setor produtivo juntamente com o presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia (Acist-SL), Daniel Klafke, também representando a CDL, Sindilojas e OAB. Pelos trabalhadores, assinaram Milton Vário e Genilso Rosa. Carlos Alberto Diehl assinou pela Unisinos
2º Seminário de Recuperação Econômica
Nesta quarta-feira (26), a Prefeitura de São Leopoldo e a Câmara Temática da Indústria promovem o 2º Seminário de Recuperação Econômica focado na indústria. No encontro, às 8h30, na sede do Sindimetal RS, no Centro das Indústrias, serão apresentadas as linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e demais instituições financeiras.
Na semana passada, no 1º seminário, foi lançado o Programa Supera São Léo, em uma parceria entre a Prefeitura, a Câmara de Vereadores e o Sebrae, tendo como público-alvo MEIs, pequenas empresas e empresas de pequeno porte.
Alguns programas para auxílio e linhas de crédito
Programa Supera São Léo + Sebraetec
Ajuda a traçar um plano de ação para reabrir negócios e oferece reembolso parcial dos custos de recuperação. Os limites de reembolso variam conforme a categoria da empresa: microempreendedores individuais (MEIs) – até R$ 3 mil; microempresas – até R$ 10 mil, empresas de pequeno porte – até R$ 15 mil. Estão sendo investidos R$ 4 milhões (R$ 1,5 milhões pela Prefeitura, R$ 2 milhões pelo Sebrae e R$ 500 mil repassados pela Câmara de Vereadores).
São Léo Mais Crédito
Parceria entre a Prefeitura, Sicredi Pioneira e RSGaranti. Taxas de juros foram reduzidas de 1,59% para 1,39% ao mês, com até três meses de carência.
Mão na Roda
Programa do departamento de Microcrédito da Sedettec ajuda microempreendedores formais e informais, trabalhadores autônomos e microempresários a expandirem seus negócios. A iniciativa oferece pequenos empréstimos para capital de giro, capital fixo e investimento misto.
Pronampe
Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte prevê desconto de 40% sobre o valor de operações contratadas. A linha conta com um período máximo de 24 meses de carência e com a possibilidade de parcelar o valor em até 60 prestações. As operações podem ser contratadas até 31 de dezembro de 2024.
Sebraetec Supera
Iniciativa do Sebrae RS que busca apoiar empreendedores nos reparos e adequações dos seus negócios, por meio de uma consultoria de recuperação de espaços físicos de pequenas empresas, atingidos pela enchente, com apoio no reembolso de parte dos custos. Mais detalhes da consultoria em https://sebrae.rs/ sebraetecsupera
BNDES Emergencial
O BNDES está disponibilizando R$ 15 bilhões do Fundo Social, por meio do Programa Emergencial para o Rio Grande do Sul. O Programa BNDES Emergencial para o RS está disponível para clientes que tenham sido impactados pelos eventos climáticos extremos no Estado e que estejam situados em município com decretação de calamidade pública reconhecida pelo governo federal.
Governo faz análise
O documento da Câmara da Indústria foca áreas como infraestrutura; impostos, meio ambiente, transporte, assistência social e educação, segurança e trabalhista. Entre os pedidos está a manutenção da Força Nacional e a edição de portaria que utilize a Lei 14.437, para flexibilizar as relações trabalhistas no período de calamidade.
Segundo o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turístico e Tecnológico (Sedettec), Juliano Maciel, vários pontos já foram atendidos como linhas de crédito para MEIs até a grande empresa. Também a questão do Centro de Eventos, de não ser construída naquela área uma cidade provisória, sendo o espaço mantido para receber o IFSul, foi atendida, entre outros.
“Estamos analisando ponto a ponto para dar uma resposta mais efetiva daquilo que já está contemplado, o que podemos buscar com os governos federal e estadual e o que temos como contemplar enquanto prefeitura e também aquilo que não tem como contemplar.” A ideia é concluir o documento até quintafeira (27).
Conforme a Acist-SL, o objetivo dos pleitos é a manutenção das empresas em São Leopoldo, evitar a sua evasão, bem como de mão de obra, para outros locais. O presidente Daniel Klafke reforça que já há forte sinal de alerta quanto às demissões que já estão ocorrendo e com o risco de êxodo das empresas caso não ocorram soluções urgentes. Ele lembra que parte das reivindicações integra pleitos que a Acist elaborou em conjunto com a CDL, Sindilojas e OAB.
“Os empresários estão esperando. Há linhas de crédito, mas muitos estão relatando que não estão conseguindo, tem bancos que não têm mais o recurso”, afirma o presidente da CDL, Olinto Menegon. “Continuamos esperando o atendimento do nosso clamor. As demandas e as reivindicações chegam nas entidades diuturnamente.”