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Resultado da catástrofe

Embaixo da linha do trem: Número de moradias improvisadas em São Leopoldo aumentou 1.200%, diz prefeitura

Casos de desabrigados e moradores em situação de rua cresceu após as enchentes

Dário Gonçalves
Publicado em: 08/08/2024 às 14h:20 Última atualização: 08/08/2024 às 18h:11
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As histórias de luta e sobrevivência ao longo da linha do trem entre Novo Hamburgo e São Leopoldo, mostradas no ABCmais no último dia 31 de julho, ganharam novos e alarmantes capítulos após a enchente que se iniciou em maio de 2024.

Isso porque, de acordo com a Secretaria de Assistência Social (SAS) de São Leopoldo, o número de “moradias”, ou seja, barracos feitos com lonas e restos da cheia, aumentou em impressionantes 1.200% desde a maior catástrofe da história do Rio Grande do Sul.

Daniel Orestes hoje cata lixo para sobreviver | abc+



Daniel Orestes hoje cata lixo para sobreviver

Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Ainda não é possível precisar quantas famílias e indivíduos estabeleceram a rua como moradia de maio até agora, mas somente no Centro da cidade, foi identificado um aumento de 4 para 52 de possíveis habitações precárias ao longo da elevada da Trensurb, na extensão da Avenida Mauá entre as estações Unisinos e Rio dos Sinos.

Os motivos, conforme a SAS, são variados, mas muitos informam que não querem acessar alojamentos em virtude de manterem-se próximos a seus territórios de origem e de suas redes de apoio, familiar e comunitária. Mesmo passados três meses do pico da enchente, estas pessoas ainda estão na perspectiva de retorno ao espaço que antes habitavam em suas comunidades.

LEIA TAMBÉM: Embaixo da linha do trem: Histórias de vida de pessoas em situação de rua

Quem está na rua?

Entre os novos “moradores” sob os trilhos, estão Everton, 41, Thomaz, 41, e Franciele, de 26 anos. Os três compartilham barracas improvisadas sob a estrutura do trem próximo à ponte do Rio dos Sinos, em São Leopoldo.

O local conta com diversas pessoas que, juntas, têm formado a “Vila dos Trilhos”, como denominou Everton. “Nós morávamos em áreas que foram inundadas, o rio levou as casas. Outros moravam de aluguel e os proprietários pediram as casas para que seus parentes, que também perderam tudo, pudessem morar. Então viemos para cá, a gente fica junto e se protege”, detalha.



Já Daniel Orestes, de 53 anos, está nas ruas há 8 anos após passar por dramas familiares como uma separação e a morte de um filho de apenas 7 anos. Quando a enchente de maio chegou, ela levou o pouco que tinha, fazendo com que Daniel buscasse abrigo na Estação Rio dos Sinos.

“Estava lá, mas dormir mesmo a gente não dorme porque tem que ficar de olho nos usuários de drogas. Eu só trabalhava para dar estudo para os meus filhos, mas não dava atenção. Acabei virando a cabeça, caí na bebida e hoje eu vivo assim, catando lixo”, conta. O catador conseguiu abrigo em um dos albergues da Prefeitura e agora busca se reerguer.



Trabalho de anos destruído pela enchente

Desde a noite de 3 de maio, os locais de acolhimento de São Leopoldo, como o Centro POP e o CREPAR/Albergue foram evacuados devido à inundação. O acolhimento temporário foi direcionado para o CEVEN, e desde segunda-feira (5) estão sendo transferidos para o alojamento Monte Alverne. “Hoje temos 137 pessoas no Monte Alverne e 75 no CEVEN”, diz a Secretaria de Assistência Social (SAS).

Durante maio, o Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) foi acionado em situações agravadas, de pessoas que ficaram em situação de rua, para acessarem alojamentos ou outros espaços de segurança, auxiliando desde o transporte.

No entanto, as equipes da Proteção Social Especial tinham um trabalho contínuo de maio de 2021 a maio de 2024 denominado Processo de Domiciliamento. Através deste acompanhamento psicossocial, a prefeitura afirma que domiciliou mais de 300 pessoas que estiveram em situação de rua neste ciclo de três anos.

“Muito deste trabalho se perdeu com o evento climático de maio de 2024. Este acompanhamento se dá desde a primeira abordagem, ainda na rua, até a vinculação com o serviço em seu espaço físico para acolhida seja CREAS, Centro POP e/ou CREPAR/Albergue”, explica.



Busca ativa

Diante dos novos desafios pós-calamidade, “visualmente exposto no aumento de populações que ocupam a elevada da Trensurb e suas estações de embarque, por exemplo”, as equipes intensificaram a busca voltada para abordagem social de populações em situação de rua a partir da identificação de demandas, mapeamento e monitoramento.

“Além disso, as demais políticas públicas acerca deste público, como saúde [que hoje conta com equipe de Consultório na Rua], equipe de apoio matricial [que atua diretamente nos territórios], e a habitação a fim de garantir acesso à moradia digna, entre outras, são indispensáveis para viabilizar a superação da situação de rua de famílias e indivíduos”, finaliza a SAS.



A Trensurb também se posicionou sobre o tema, e informou que, em caso de ocupação irregular de suas áreas por pessoas em situação de rua, o procedimento da empresa é acionar o serviço de assistência social do município pertinente.

“Caso a ocupação venha a causar prejuízos operacionais, como a obstrução de acessos a estações, a segurança metroviária pode convidar o ocupante a retirar-se juntamente com seus pertences”, finaliza.

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