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CATÁSTROFE NO RS: Trilhos viram mirantes para vítimas de enchente em Novo Hamburgo e São Leopoldo; veja vídeo

Sem o trem, ferrovia é usada por pedestres que perderam tudo para as águas

Dário Gonçalves
Publicado em: 07/05/2024 às 19h:50 Última atualização: 07/05/2024 às 21h:24
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A Trensurb precisou interromper suas atividades ainda na sexta-feira (3). Sem os trens, estações viraram abrigos e os trilhos tornaram-se a única rota transitável, a pé, de Novo Hamburgo a São Leopoldo, dos bairros Santo Afonso a Santos Dumont. Por isso, muitas pessoas usaram a estrutura para poderem ver a dimensão da enchente histórica que atinge a região.

Trilhos na Estação Santo Afonso, em Novo Hamburgo | abc+



Trilhos na Estação Santo Afonso, em Novo Hamburgo

Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Erick Silveira, 24 anos, e Rafael Rodrigues, 28, são moradores do bairro Campina, em São Leopoldo. Ambos ficaram abrigados na escola Caic Madezatti após terem as casas atingidas e perderem tudo. No entanto, na tarde desta terça-feira (7), resolveram caminhar até a Fenac, em Novo Hamburgo, pelos trilhos da Trensurb.

Carregando mochilas de roupas que receberam de doações, contaram com a solidariedade do casal Rafael Santos, 38, e Aline da Silva, 44. Os dois são moradores do bairro Santos Dumont, mas também estão sob cuidados na Fenac. “Nós viemos aqui para tentar enxergar nossa casa, mas ainda está só o telhado para fora da água. E como estamos com a bicicleta, emprestamos para os rapazes carregarem as sacolas. Esse é o momento que todo mundo tem que se ajudar”, disse Santos.



A tristeza também acompanhava os passos daqueles que buscavam qualquer notícia sobre seus lares e pertences. Ao olhar para baixo na Avenida Mauá, onde barcos transitavam, Queila da Silva, 30 anos, chorou ao encontrar seu carro quase todo submerso. “Nós moramos mais próximo ao Rio dos Sinos, mas nunca tinha acontecido algo nem perto disso. Aí meu marido resolveu trazer o carro e deixar embaixo do trem, onde é mais alto”, explica. A tentativa, no entanto, acabou sendo em vão. Tanto seu carro, e principalmente a casa, estão debaixo d’água.

Queila saiu de casa ainda na sexta-feira, com o filho de 2 anos e o enteado de 20. O marido ficou e só conseguiu deixar a residência na noite de domingo, mas nesta terça-feira (7), conseguiu carona em um barco para voltar à casa. “Ele e mais três vizinhos foram lá, a gente tem medo de levarem o que sobrou e ficou no segundo piso”, conclui.



Sem clima para comemorar

Paulo Roberto de Souza, completou 63 anos na última sexta-feira (3), dia em que precisou sair de casa e se abrigar com uma filha. No dia seguinte, foi aniversário da neta, e no domingo (5), do filho. Três dias que deveriam ser de comemorações, mas que precisaram ser apenas de resistência. “Ninguém pôde festejar, não há clima. Na verdade, não temos mais nada, está tudo embaixo d’água”, relata.

O idoso, assim como Queila, também levou seu carro para a Avenida Mauá e deixou sob os trilhos da Trensurb. “Agora eu estou aqui em cima tentando encontrar meu carro lá embaixo. Sei que não há nada que possa ser feito, mas queremos ver. Pra piorar, ainda tinha tirado duas televisões de dentro de casa e um aparelho de som de R$ 5 mil e deixado dentro do carro”, acrescenta.



Por todo o caminho, moradores tentavam enxergar e ter noção da dimensão da enchente. “Minha casa fica lá, mas não dá pra ver nada”, disse uma mulher. “Eu moro naquela casa (aponta), meu filho está lá para proteger o que sobrou”, contou outra. “Por que não acaba logo esse mundo, se é pra viver e passar por isso”, desabafou um terceiro.

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