Advogada pesquisou sobre 'benefícios para andarilhos' antes de desaparecer
Sumiço da moradora de São Leopoldo Alessandra Dellatorre gera angústia aos familiares, que esperam encontrá-la com vida
Última atualização: 24/01/2024 14:28
"Filha, querida, onde tu estás? Esperamos e confiamos em Deus que logo vamos te encontrar". A frase, postada no último domingo (12) no Facebook, carrega a angústia e a esperança de uma mãe que há sete meses aguarda por notícias do paradeiro da filha única, a advogada de São Leopoldo Alessandra Dellatorre, 29 anos. Moradora do bairro Cristo Rei, a jovem sumiu depois de sair para caminhar nas proximidades de casa, no sábado de 16 de julho de 2022.
De lá para cá, a família convive com uma enxurrada de informações (algumas até falsas) e incertezas, mas mantém a crença no reencontro com Alessandra viva. Além de dar continuidade a uma rotina de buscas a cada nova pista que aparece, é por meio das redes sociais que a mãe da advogada, Ivete Dellatorre, faz apelos e agradece a todo o tipo de ajuda recebida.
Oração e fé
Em janeiro, no dia em que o sumiço completou seis meses, Ivete escreveu: "descrever a falta que ela nos faz significa dizer que nada mais faz sentido em nossas vidas sem ela. Nossos dias são de muitas orações e firmes na fé para que possamos reencontrá-la. Com este propósito, pedimos aos que puderem que façam uma oração para que ela esteja bem, aonde estiver, e que possa voltar para casa. Somos muito gratos a todos pelo apoio e solidariedade que temos recebido. Nosso muito obrigado".
Desde o alerta do desaparecimento, a procura por Alessandra tem sido feita pela Polícia Civil, familiares e equipes particulares contratadas pela família sem que nenhuma pista levasse, até agora, ao paradeiro dela.
Muitas questões
As hipóteses sobre o que teria motivado o sumiço são muitas. Titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), do início da investigação até o começo desta semana (um novo titular deve assumir a delegacia nos próximos dias), o delegado André Serrão, desde o início afirmou que as evidências apontavam para um desaparecimento espontâneo, motivado por depressão.
Já o escritório de advocacia contratado pela família para auxiliar nas buscas trabalha com outras possibilidades; uma delas é de que tenha havido crime. Que Alessandra tenha sido arrebatada da mata onde entrou por alguém que a levou para outro lugar.
Seja como for, faltam pistas que determinem efetivamente o que pode ter acontecido naquele dia 16.
Pesquisas na Internet dias antes de sumir
Tanto a Polícia, quanto as equipes particulares que tratam do caso se baseiam, entre outras pistas, em pesquisas feitas por Alessandra na Internet dias antes de desaparecer. Conforme o advogado Matheus Trindade, cinco dias antes de sumir, Alessandra teria pesquisado sobre suicídio.
No entanto, um dia antes do sumiço, a jovem procurou informações sobre benefícios para andarilhos e formas de cadastramento em plataformas de entregas. “E isso não foi levado em consideração pela Polícia”, destaca Trindade, se referindo às últimas pesquisas feitas por Alessandra e que manteriam as chances de que ela estivesse viva.
Autópsia psicológica
Além do trabalho da equipe de advogados que atua na chamada “investigação defensiva", a família de Alessandra investiu, ainda, em especialistas para fazer o que se chama de "autópsia psicológica", que serve para traçar o perfil psicológico de uma pessoa morta ou desaparecida. Em entrevista concedida ao Jornal VS em setembro passado, a tia e madrinha de Alessandra, Erica Dellatorre, explicou os motivos da busca por este tipo de auxílio.
“O objetivo é ir além da tese da Polícia, de que foi suicídio. A família trabalha com outras hipóteses, até porque, se fosse suicídio, deveríamos já ter um corpo. Ou seja, a Polícia trabalha com a lógica de que ela está morta, e nós trabalhamos com a lógica de ela está viva", explicou na época, acrescentando, "o resultado (da autópsia psicológica) foi 'inconclusivo para suicídio'. Em suma, especialistas não ratificam a tese da Polícia", acrescentou Érica.
Perícia em garrafa
No mês passado, o resultado de uma perícia feita em uma garrafa usada por Alessandra minutos antes de desaparecer foi anexado às investigações. No laudo, as peritas do Instituto-Geral de Perícias (IGP) Viviane Fassina e a Clarissa Bettoni, apontaram a presença de uma mistura de substâncias compatíveis com um medicamento indicado para tratar déficit de atenção, que seria utilizado frequentemente por Alessandra, e uma bebida energética à base de cafeína.
Conforme as peritas, não foi constatada a presença de venenos na bebida usada por Alessandra. Elas destacaram que as condições em que a garrafa foi encontrada, aberta e com apenas poucos resíduos de coloração amarronzada internamente, e a amplitude de substâncias pesquisadas, exigiram um tipo de análise de alta complexidade.
Sobre o resultado da perícia, o então titular da DPHPP, o delegado André Serrão, pontuou que para a Polícia, a principal hipótese continuava sendo de que o desaparecimento de Alessandra não estivesse relacionado a algum crime. “As investigações seguem normalmente e não se é possível concluir nada com base no laudo", frisou ele na época.
Buscas e recompensa
Moradora de São Leopoldo, Alessandra foi vista pela última vez na tarde de 16 de julho de 2022, quando saiu de casa para fazer uma caminhada pelas proximidades do seu bairro. Aquela, segundo a família, era a segunda caminhada da jovem no dia. Um comportamento habitual, relatam os parentes. A diferença, naquele sábado, foi o trajeto escolhido por Alessandra para a caminhada. Normalmente, segundo a família, a jovem ficava apenas na Avenida Unisinos. No dia do desaparecimento, de acordo com testemunhas, ela teria sido vista entrando em área de mata na Estrada do Horto, que liga São Leopoldo a Sapucaia do Sul.
Já nas primeiras horas da confirmação do desaparecimento, Polícia Civil, Brigada Militar, Exército, Corpo de Bombeiros, familiares e moradores fizeram buscas pela advogada. O trabalho intenso na primeira semana, que se concentrou na área de mata, contou com o apoio de cães farejadores e helicópteros. Sozinhos, os pais também fizeram incursões pelo local. No início de agosto passado, equipes voltaram para mais uma varredura na mata, mas não encontraram nenhum vestígio da jovem.
Cartazes com a foto de Alessandra foram distribuídos por diversos pontos de São Leopoldo e também de cidades vizinhas. Além disso, um telefone de contato direto com a família foi disponibilizado, por meio do número (51) 99771-5838 e criado o perfil no Instagram @procurandoale. Mobilizados, os pais de Alessandra chegaram a oferecer uma recompensa de R$ 15 mil a quem a entregasse viva à família. Informações sobre o paradeiro da advogada podem ser repassadas à Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121 ou à Brigada Militar pelo 190.
"Filha, querida, onde tu estás? Esperamos e confiamos em Deus que logo vamos te encontrar". A frase, postada no último domingo (12) no Facebook, carrega a angústia e a esperança de uma mãe que há sete meses aguarda por notícias do paradeiro da filha única, a advogada de São Leopoldo Alessandra Dellatorre, 29 anos. Moradora do bairro Cristo Rei, a jovem sumiu depois de sair para caminhar nas proximidades de casa, no sábado de 16 de julho de 2022.
De lá para cá, a família convive com uma enxurrada de informações (algumas até falsas) e incertezas, mas mantém a crença no reencontro com Alessandra viva. Além de dar continuidade a uma rotina de buscas a cada nova pista que aparece, é por meio das redes sociais que a mãe da advogada, Ivete Dellatorre, faz apelos e agradece a todo o tipo de ajuda recebida.
Oração e fé
Em janeiro, no dia em que o sumiço completou seis meses, Ivete escreveu: "descrever a falta que ela nos faz significa dizer que nada mais faz sentido em nossas vidas sem ela. Nossos dias são de muitas orações e firmes na fé para que possamos reencontrá-la. Com este propósito, pedimos aos que puderem que façam uma oração para que ela esteja bem, aonde estiver, e que possa voltar para casa. Somos muito gratos a todos pelo apoio e solidariedade que temos recebido. Nosso muito obrigado".
Desde o alerta do desaparecimento, a procura por Alessandra tem sido feita pela Polícia Civil, familiares e equipes particulares contratadas pela família sem que nenhuma pista levasse, até agora, ao paradeiro dela.
Muitas questões
As hipóteses sobre o que teria motivado o sumiço são muitas. Titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), do início da investigação até o começo desta semana (um novo titular deve assumir a delegacia nos próximos dias), o delegado André Serrão, desde o início afirmou que as evidências apontavam para um desaparecimento espontâneo, motivado por depressão.
Já o escritório de advocacia contratado pela família para auxiliar nas buscas trabalha com outras possibilidades; uma delas é de que tenha havido crime. Que Alessandra tenha sido arrebatada da mata onde entrou por alguém que a levou para outro lugar.
Seja como for, faltam pistas que determinem efetivamente o que pode ter acontecido naquele dia 16.
Pesquisas na Internet dias antes de sumir
Tanto a Polícia, quanto as equipes particulares que tratam do caso se baseiam, entre outras pistas, em pesquisas feitas por Alessandra na Internet dias antes de desaparecer. Conforme o advogado Matheus Trindade, cinco dias antes de sumir, Alessandra teria pesquisado sobre suicídio.
No entanto, um dia antes do sumiço, a jovem procurou informações sobre benefícios para andarilhos e formas de cadastramento em plataformas de entregas. “E isso não foi levado em consideração pela Polícia”, destaca Trindade, se referindo às últimas pesquisas feitas por Alessandra e que manteriam as chances de que ela estivesse viva.
Autópsia psicológica
Além do trabalho da equipe de advogados que atua na chamada “investigação defensiva", a família de Alessandra investiu, ainda, em especialistas para fazer o que se chama de "autópsia psicológica", que serve para traçar o perfil psicológico de uma pessoa morta ou desaparecida. Em entrevista concedida ao Jornal VS em setembro passado, a tia e madrinha de Alessandra, Erica Dellatorre, explicou os motivos da busca por este tipo de auxílio.
“O objetivo é ir além da tese da Polícia, de que foi suicídio. A família trabalha com outras hipóteses, até porque, se fosse suicídio, deveríamos já ter um corpo. Ou seja, a Polícia trabalha com a lógica de que ela está morta, e nós trabalhamos com a lógica de ela está viva", explicou na época, acrescentando, "o resultado (da autópsia psicológica) foi 'inconclusivo para suicídio'. Em suma, especialistas não ratificam a tese da Polícia", acrescentou Érica.
Perícia em garrafa
No mês passado, o resultado de uma perícia feita em uma garrafa usada por Alessandra minutos antes de desaparecer foi anexado às investigações. No laudo, as peritas do Instituto-Geral de Perícias (IGP) Viviane Fassina e a Clarissa Bettoni, apontaram a presença de uma mistura de substâncias compatíveis com um medicamento indicado para tratar déficit de atenção, que seria utilizado frequentemente por Alessandra, e uma bebida energética à base de cafeína.
Conforme as peritas, não foi constatada a presença de venenos na bebida usada por Alessandra. Elas destacaram que as condições em que a garrafa foi encontrada, aberta e com apenas poucos resíduos de coloração amarronzada internamente, e a amplitude de substâncias pesquisadas, exigiram um tipo de análise de alta complexidade.
Sobre o resultado da perícia, o então titular da DPHPP, o delegado André Serrão, pontuou que para a Polícia, a principal hipótese continuava sendo de que o desaparecimento de Alessandra não estivesse relacionado a algum crime. “As investigações seguem normalmente e não se é possível concluir nada com base no laudo", frisou ele na época.
Buscas e recompensa
Moradora de São Leopoldo, Alessandra foi vista pela última vez na tarde de 16 de julho de 2022, quando saiu de casa para fazer uma caminhada pelas proximidades do seu bairro. Aquela, segundo a família, era a segunda caminhada da jovem no dia. Um comportamento habitual, relatam os parentes. A diferença, naquele sábado, foi o trajeto escolhido por Alessandra para a caminhada. Normalmente, segundo a família, a jovem ficava apenas na Avenida Unisinos. No dia do desaparecimento, de acordo com testemunhas, ela teria sido vista entrando em área de mata na Estrada do Horto, que liga São Leopoldo a Sapucaia do Sul.
Já nas primeiras horas da confirmação do desaparecimento, Polícia Civil, Brigada Militar, Exército, Corpo de Bombeiros, familiares e moradores fizeram buscas pela advogada. O trabalho intenso na primeira semana, que se concentrou na área de mata, contou com o apoio de cães farejadores e helicópteros. Sozinhos, os pais também fizeram incursões pelo local. No início de agosto passado, equipes voltaram para mais uma varredura na mata, mas não encontraram nenhum vestígio da jovem.
Cartazes com a foto de Alessandra foram distribuídos por diversos pontos de São Leopoldo e também de cidades vizinhas. Além disso, um telefone de contato direto com a família foi disponibilizado, por meio do número (51) 99771-5838 e criado o perfil no Instagram @procurandoale. Mobilizados, os pais de Alessandra chegaram a oferecer uma recompensa de R$ 15 mil a quem a entregasse viva à família. Informações sobre o paradeiro da advogada podem ser repassadas à Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121 ou à Brigada Militar pelo 190.