Opinião
A evolução viária da Scharlau
Trecho do entroncamento das rodovias RS-240 com a BR-116, que nesta sexta-feira terá inauguração do novo complexo viário, já passou por significativas intervenções para fazer o trânsito fluir
Última atualização: 16/08/2024 21:10
Nesta sexta-feira (16 de agosto), a Scharlau tem mais uma nova página acrescentada à sua história. A inauguração do Complexo Viário da Scharlau com a nova elevada da RS-240 e a elevada paralela à BR-116, com acessos refeitos e sem sinaleiras para cruzamentos viários (falta só eliminar a provisória de pedestres), marca mais uma evolução na importante confluência rodoviária.
Esta mudança é uma das muitas que a Scharlau já vivenciou desde o século passado.
Nos últimos 50 anos, a Scharlau passou por gigantescas transformações devido à sua localização estratégica viária e, em consequência, pela sua importância para o fluxo de veículos na região metropolitana, o que diretamente mexe com a economia, e o que, neste caso, vai além de São Leopoldo e o Vale do Sinos, abrangendo também as cidades serranas, por exemplo, além de outros municípios em sua ligação com a Grande Porto Alegre.
Uso este período de meio século porque é o que eu tenho em minha memória, pois as mudanças significativas na região do bairro Scharlau começaram lá pela década de 1940, segundo registros históricos.
História
Na década de 1940, a construção da BR-2 (a Estrada Federal Getúlio Vargas que virou BR-116 após a duplicação) e da RS-4 (atual RS-240, nominada oficialmente em 2003 como a Rodovia Maria Emilia de Paula), com entroncamento em São Leopoldo, fizeram as terras da família Scharlau serem divididas para receber novos moradores e comerciantes, gerando a expansão da vila que levou o nome dos principais proprietários de áreas da localidade.
A vila leopoldense virou bairro de São Leopoldo e até teve, muitos anos depois, o embrião de um movimento separatista para transformar a Scharlau em cidade devido ao crescimento econômico, populacional e estratégico da localidade na metade do século passado. Mas a ideia de emancipação acabou não vingando.
Um posto de combustíveis e peças automotivas com a bandeira da Texaco era um marco ali na "esquina" das duas rodovias dos anos 1940 até a década de 1970 (o Museu Visconde de São Leopoldo tem, inclusive, registro fotográfico deste posto chamado Krause que dá para se conferir nesta matéria). O posto acabou desapropriado exatamente para a expansão da BR-2 que com a duplicação de pistas se tornaria 116.
Para regrar o aumento de fluxo de veículos no entroncamento das rodovias estadual 240 e federal 116, que ligavam cidades da região metropolitana e serrana, foi implantado um sistema de sinaleiras que chamava a atenção no final dos anos 1970 e na década de 1980.
Tinha semáforo separado para conversão à esquerda, à direita, para retorno, para seguir reto... O local à noite era iluminado pelas sinaleiras, que, de tão chamativas, se tornaram um ponto "turístico" da região. Isso, ao mesmo tempo, que testavam a paciência e a prudência dos condutores de veículos. Acidentes com pedestres e motos eram comuns no local. E os engarrafamentos também começaram a se ampliar.
A primeira elevada
A saída foi eliminar o cruzamento e as sinaleiras da Scharlau no trecho da BR-116 com a RS-240. Erguia-se, então, o atual viaduto da BR-116 sobre o acesso da 240.
Pode se dizer que este foi o início das elevadas e viadutos que seriam construídos no trecho metropolitano duplicado da 116, entre Novo Hamburgo/Estância Velha - Porto Alegre, no projeto para transformar a rodovia em via expressa, eliminando os cruzamentos e sinaleiras em seu caminho, além de, nos últimos anos, vir a implantação das diversas passarelas de pedestres.
A volta dos engarrafamentos
A solução da elevada da 116 serviu na década de 1990, mas com o crescimento econômico (e a explosão da frota de veículos), além da falta de alternativas viárias melhores de ligação à região metropolitana de Porto Alegre, o trânsito começou a ficar insuportável no trecho, o que foi piorado ainda mais pelo gargalo das pontes sobre o Rio dos Sinos, que era alimentado pelo acesso viário interior-capital do crescente bairro Campina, pelo qual muitos motoristas "atalhavam" para evitar o gargalo da 240 com a 116.
O projeto de ampliação das faixas das duas pistas da 116 já existia no início dos anos 2000. Adiada por anos, a execução de obras de melhoria da BR-116 se tornaram urgentes com os insuportáveis engarrafamentos entre a Scharlau e as pontes do Sinos. A construção da BR-448, inaugurada em 2013, desafogou o trecho canoense que também tinha o embrião das três faixas no sentido interior-capital.
Esperava-se que a extensão da 448 até a RS-240 se seguisse logo após. Mas isso não aconteceu. E o alto investimento nesta obra - que ainda está em fase de estudos e levantamentos (a licitação está prevista para 2025) - fez com que uma solução urgente fosse necessária para desafogar o entroncamento da Scharlau, que gerava longas filas na RS-240 no sentido interior-capital e também afetava o trânsito da BR-116 no sentido capital-interior devido ao acesso à 240 e o retorno sob a elevada da 116.
Mais uma vez era preciso eliminar as sinaleiras da Scharlau, as restantes daquele louco complexo semafórico dos anos 1970-80, que fez se erguer a elevada da 116 entre o Dnit e posto da PRF.
E o plano era novamente erguer elevadas. No caso, dois novos viadutos. Em março do ano passado, durante o Seminário de Mobilidade Urbana promovido pelo Grupo Sinos, o Dnit confirmava o início da obra de março para abril de 2023.
O início de uma nova era
Foram 15 meses de uma obra que crescia com velocidade bem maior que muitos outros projetos. É verdade que o seu pronto era para o final de 2023, mas o clima - com as severas chuvas que se iniciaram em junho do ano passado e seguiram até a catástrofe da enchente de maio deste ano - atrasaram a entrega.
Mas a obra do Complexo Viário da Scharlau finalmente foi concluída e sua entrega oficial ocorre nesta sexta-feira, 16 de agosto. E com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que indica sua importância nos planos de expansão viária do País.
O viaduto da RS-240 já está sendo utilizado desde julho. Faltava só a liberação da alça paralela à elevada da 116.
Sim, ainda falta a liberação total das pistas com três faixas passando sobre as novas pontes do Rio dos Sinos. Aí o grande gargalo de São Leopoldo, entre a Scharlau e as pontes do Sinos, deve, finalmente, se aliviar de vez.
Só que agora já é preciso pensar à frente. Não só com a expansão das três faixas da BR-116 até Porto Alegre, mas também com a extensão da BR-448 (que se ligará à 240) e também da construção da RS-010, que em seus projetos prevê a ligação com a Scharlau, e exatamente neste entroncamento da 116 com a 240 que tanta história tem.
Será mais uma página na história da Scharlau, em um trecho de São Leopoldo pelo qual o futuro sempre acelera sua urgência.