Uma pessoa querida e que amava música. Assim, Iloi Vogt, o Chico Gaiteiro, será lembrado pelo seu irmão, Adão Vogt, de 47 anos, e por quem teve a oportunidade de conhecê-lo. O artista de rua com deficiência visual ficou conhecido por, durante anos, tocar gaita em frente a uma padaria do bairro Rio Branco, em Novo Hamburgo. Ele faleceu nesta semana, aos 61 anos.
Natural de Santa Cruz do Sul, Chico perdeu a visão ainda na infância. Nesse mesmo período, quando passou a frequentar uma escola onde aprendeu a leitura em braile, também foi ensinado a tocar instrumentos musicais, entre eles a gaita, que carregou por toda sua vida. “Uma das primeiras músicas que ele tocou foi uma valsa para a nossa mãe”, recorda Adão.
“Ele amava tocar gaita. Às vezes, [eu] pedia para ele não ir [tocar na rua], mas ele falava que gostava muito”, lembra.
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De acordo com Adão, o amor do irmão pelo instrumento musical era tão grande que sempre falava no destino que gostaria que dessem para a gaita, caso algum dia acontecesse algo com ele. “Ele sempre dizia que gostaria que a gaita fosse doada se um dia ele não estivesse mais aqui”, revela.
“Como ele já teve a gaita roubada duas vezes e doaram novas para ele, então ele gostaria que fosse repassada para alguém que também gosta de música. Ele também dizia que eu poderia ficar com ela se quisesse, mas vou fazer a doação”, completa. Segundo Adão, o instrumento ainda está em uma barbearia na qual o artista costumava guardá-la, mas ele pretende buscá-la e realizar o pedido do irmão mais velho.
O instrumento usado pelo artista de rua deve ser destinado a um conhecido da família. “Eu queria meu irmão aqui. Vou sentir muita falta. É uma dor imensa, mas vou fazer o que ele pediu”, diz emocionado.
O último diálogo entre os irmãos
Adão conta que falou com o irmão pela última vez antes de sair para trabalhar na manhã da última segunda-feira (8). “Ele não entrava no meu quarto. Sempre batia na porta e dizia que queria falar comigo. Naquele dia, ele bateu e disse que me amava. Também chorou e disse que estava com saudade dos nossos pais. Eu abracei ele”, lembra.
O pai deles faleceu em junho de 1999, e a mãe em dezembro do ano seguinte. Desde então, Chico Gaiteiro morava com o irmão caçula. Eles ainda têm outro irmão que reside no litoral norte.
No fim da tarde do dia desse diálogo, o artista foi atropelado por um veículo na Rua Três Coroas, no bairro Aurora, em Campo Bom, perto da casa onde morava. “Eu estava saindo do trabalho e me ligaram. Fui o mais rápido que pude, quando cheguei, ele estava caído e a Guarda Municipal estava atendendo ele até a ambulância chegar”, detalha Adão.
Chico Gaiteiro foi levado para o Hospital Lauro Réus. Devido à gravidade de um traumatismo craniano, teve que ser transferido para o Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas. Nessa segunda casa de saúde, passou por um procedimento cirúrgico na terça-feira (9) e entrou em coma.
“Na quarta-feira me ligaram do hospital, pediram para ir lá urgentemente. Expliquei que poderia demorar um pouco, pois estava em Campo Bom e o trânsito na BR-116 é complicado. Pedi para o meu filho me levar de moto, cheguei lá perto das 16 horas e ele já estava morto”, lamenta.
O corpo de Chico Gaiteiro foi velado em Campo Bom na manhã da quinta-feira (11) e, à tarde, sepultado no Cemitério Municipal de Sapucaia do Sul. Ele completaria 62 anos na próxima terça-feira (16).
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