Duas semanas depois do ataque a tiros que deixou cinco mortos no bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo, uma das vítimas baleadas por Edson Fernando Crippa, de 45 anos, recebeu alta, na quarta-feira (6), e comemora por estar vivo. Volmir de Sousa, 54, tentou salvar um policial militar ferido durante o tiroteio e foi alvejado por seis disparos. Do total, quatro atingiram o corpo e dois, o colete.
CLIQUE AQUI PARA RECEBER NOSSA NEWSLETTER
SIGA O ABCMAIS NO GOOGLE NOTÍCIAS!
Internado desde a madrugada do dia 23 de outubro, a volta para casa foi muito aguardada pelo agente municipal e pela família. “O hospital, por melhor que seja, não tem comparação com estar em casa”, afirma Sousa.
Nesta quinta-feira (7), após algumas horas da alta, ele aproveitou para retomar um pouco da rotina e decidiu ajudar na ótica que administra, paralelamente ao trabalho na Guarda Municipal, no bairro Primavera. Com o caminhar ainda devagar por conta da recuperação, já que teve os dois pulmões perfurados, duas costelas quebradas e uma vértebra atingida, ele agradece pela vida.
ENTENDA: Quais os critérios psicológicos avaliados para conceder porte e posse de arma de fogo
“Foram duas semanas bem angustiantes, com vários procedimentos e algumas recaídas, com febre intensa e quadro de infecção. Mas graças a Deus eu consegui ter alta, depois de todo o estrago feito. Me sinto feliz por isso. Agora é só um tempo para me recuperar e voltar a ativa”, relata, esperançoso.
Da noite de terror vivida na Rua Adolfo Jaeger, em que dois policiais militares, o pai e o irmão do atirador foram mortos, Sousa lembra que recebeu na viatura o chamado da Brigada Militar e se dirigiu rapidamente com outro colega para a casa da família Crippa. Sem saber do que se tratava a ocorrência, ao chegar no local, se deparou com o tiroteio e pessoas baleadas.
“A gente via aquele colega, que tinha sido atingido, caído ao chão e recebendo vários disparos, e não deu para resistir, ficar só olhando e não fazer nada. Eu corri, tentei fazer alguma coisa, atirei contra a janela de onde o agressor estava atirando para ver se ele parava. Só que ele parou de atirar no brigadiano e começou a atirar em mim”, descreve Sousa.
Confira relato
LEIA TAMBÉM: Como ficam as famílias dos policiais militares que morrem em serviço?
Até conseguir receber ajuda de outros colegas e ser encaminhado para o atendimento médico, o sobrevivente relembra que o tempo passou devagar. “Não tinha como chegar onde eu estava. Pedi ajuda pelo rádio, mas demorou. Teve um momento que eu apaguei. Depois, eu voltei e continuei pedindo socorro. Quando eu percebi três agentes da brigada se aproximando, eu consegui me arrastar até eles, e foi quando me puxaram para dentro da viatura e me colocaram na ambulância”, conta Sousa.
Questionado sobre o que sentiu quando ficou esperando resgate e se ficou com medo de morrer, Sousa relembra que “passou muita coisa pela cabeça”. “Com certeza fiquei com medo [de morrer], porque fui atingido várias vezes, eu via a perda de sangue que eu tinha. Teve um momento que eu não conseguia mexer as pernas, e fiquei com medo de, mesmo que eu sobrevivesse, de ficar com uma sequela grande”, comenta.
VIOLÊNCIA: Bandidos saíam de Novo Hamburgo para “tocar o terror” em Canoas
Para ele, da ocorrência em que acabou baleado, um dos momentos mais marcantes foi quando viu o colega da brigada militar sendo atingido pelos disparos. “A gente lembra daquela cena, daquele soldado sendo atingido, e isso dá um impacto muito forte na gente”, relembra o guarda municipal.
Dos 19 anos em que atua como agente de segurança municipal, ele relata que nunca enfrentou situação parecida durante a carreira. “Eu acho que nenhum dos colegas que estavam lá viveram isso. Nós enfrentamos muitas situações de perigo, mas nenhuma nem perto dessa que aconteceu ali”, completa Sousa.
ENTRE NA NOSSA COMUNIDADE NO WHATSAPP
Orgulho
Para ele, atuar na guarda municipal e contribuir com a segurança da cidade é motivo de orgulho. “Até hoje, quando eu saio para o serviço, saio com orgulho de poder fazer alguma coisa pela sociedade. A gente se doa da melhor forma possível. Escolhi essa profissão e continuarei trabalhando com muito prazer “, diz Sousa.
Apesar do trauma vivido e do processo doloroso no Hospital, ele diz se sentir bem psicologicamente. “A gente se abalou, principalmente, com aqueles que se foram. Quando eu lembro das perdas que tivemos, isso é o que eu mais sinto. Mas, daqui uns dias, estaremos prontos para voltar para a rua e para o trabalho”, considera.
LEIA TAMBÉM
Agora, junto da esposa e dos filhos Eduardo, 29, e Emily, 22, ele pretende seguir comemorando a vida. “O sentimento é só de gratidão por todos que estiveram orando, mandando a energia e todos que contribuíram para o resgate, além do pessoal do hospital geral [Hospital Municipal] e da Unimed. Gratidão, principalmente, a Deus. Acho que foi a mão dele que esteve ali, e só por ele que estou aqui agora”, agradece.