POLIAMOR

TRISAL: Conheça a família de Novo Hamburgo que teve união estável reconhecida pela Justiça

Bebê fruto da relação é esperado para outubro e terá direito ao registro multiparental, que contempla o nome dos três

Publicado em: 02/09/2023 18:09
Última atualização: 17/10/2023 20:30
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  • O ano de 2023 está sendo ainda mais especial para os moradores de Novo Hamburgo Denis Ordovás, de 45 anos, Letícia Pires Ordovás, 51, e Keterlin Kaefer de Oliveira, 32, que vivem juntos há dez anos. Além da confirmação da espera de um filho, o trisal teve, nesta semana, a união estável poliafetiva reconhecida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS).

    TRISAL: ENTENDA O QUE É, O QUE DIZ A LEI E COMO FUNCIONA O POLIAMOR NA PRÁTICA


    Juntos há dez anos, trisal de Novo Hamburgo espera pelo nascimento do filho Foto: Arquivo pessoal

    Casados desde 2006, os bancários Denis e Letícia conheceram a companheira Keterlin em 2013. Ela era telefonista na agência bancária onde os dois trabalham. "Nos apaixonamos e decidimos viver essa relação", conta o marido.

    Foi naquela época que os três decidiram morar juntos. Pelas redes sociais, o trio passou a manter contato com outros trisais e a trocar informações sobre multiparentalidade. "Quando a Kety ficou grávida, em janeiro deste ano, nós pensamos que poderíamos fazer esse registro no nome dos três, como, de fato, é: filho dos três, da nossa relação", detalha Denis. O menino, que se chamará Yan, deve nascer na primeira quinzena de outubro.

    Após a decisão, a família procurou advogados e entrou na Justiça. Antes disso, já havia tentado oficializar a relação de uma década, mas nenhum cartório ou tabelionato aceitou fazer o registro. "O advogado entendeu que era direito, era fato que nós temos uma relação duradoura de dez anos. Ingressamos este ano na Justiça, pedindo o reconhecimento, para também poder registrar o nosso filho em nome dos três”, lembra o bancário.

    Decisão destaca "afeto"

    O parecer foi favorável aos moradores do bairro Canudos. Com a decisão da 2ª Vara da Família e Sucessões da Comarca de Novo Hamburgo, cartórios da região serão obrigados a aceitar o registro do relacionamento.


    Trisal: Denis, Keterlin e Letícia tiveram união estável reconhecida pela Justiça Foto: Arquivo pessoal

    Em sua decisão, o juiz Gustavo Borsa Antonello destaca que "o que identifica uma família é o afeto, esse sentimento que enlaça corações e une vidas. […] A Justiça precisa atentar nessas realidades". O magistrado determinou que fica reconhecida a união poliamorosa, a contar de 1º de outubro de 2013, entre os autores do processo. 

    Denis conta que a família está feliz com a resposta e enfatiza que a decisão é importante para evidenciar os direitos da família, sobretudo em relação à união de mais de duas pessoas e à multiparentalidade. "Não somos os inventores dos trisais. Existem outros no mundo, no Brasil. Uma decisão como essa, com essa repercussão positiva, ela também facilita a conversa, a discussão, o diálogo sobre as novas realidades das famílias", destaca.

    "É muito positiva essa decisão para que, em um futuro próximo, a gente possa alterar [as leis] e deixar que as pessoas que vivem efetivamente isso [relação poliafetiva] sejam amparadas judicialmente", completa o bancário.

    Nova visão sobre o amor

    O bancário conta que, com a divulgação da decisão, em primeira mão, pelo Grupo Sinos, pessoas do convívio da família começaram a compartilhar o caso nas redes sociais, em apoio ao trisal. A partir da repercussão, os três conversaram e decidiram falar abertamente sobre o relacionamento, que já era de conhecimento de parentes, amigos, vizinhos e colegas de trabalho.

    Se servir para que as pessoas possam ter uma nova visão sobre amor, relacionamento, sobre formas de criar vínculos e famílias, isso é muito válido.

    Sobre a reação das pessoas ao saberem do relacionamento poliafetivo, ele brinca que os três se espantam com o espanto das pessoas. "Para nós, como são dez anos, é uma coisa muito tranquila." Ele acrescenta que aqueles que vão conhecendo a família, ao longo do tempo, "conseguem enxergar a relação com muita naturalidade. Como um 'relacionamento tradicional' qualquer, tanto como homossexual ou heterossexual".

    O segredo é o diálogo

    Se em uma relação monogâmica o dialogo é essencial para a convivência, em um relacionamento poliafetivo não é diferente. "Em um casamento, a conversa, o diálogo, as discussões existem. Nós três estarmos casados não difere em nada. Temos que discutir o dia-a-dia, questões da casa, da família, financeiro, de trabalho. Isso tudo a gente tem que fazer como uma família", comenta.

    Após a entrevista por telefone, Denis enviou uma última mensagem à reportagem. "Depois que desliguei, quando tu perguntou: 'Como é essa situação de estar casado com duas mulheres, nas discussões', eu devia ter dito a verdade: 'Aqui em casa, a última palavra é minha: 'Sim, senhoras'", brinca.

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