Dois dias depois de ter a cabeça coberta por uma sacola durante uma abordagem policial, a dona de um bar, em Novo Hamburgo, diz que a cena ainda não saiu da memória. “O pior é o trauma. Se eu fecho os olhos, vejo o policial na minha frente e escuto o barulho do saco na minha cabeça”, recorda. A mulher de 30 anos, que não quer ser identificada, aparece em um vídeo gravado no último domingo (1º) e que circula na internet. As imagens mostram um brigadiano fardado cobrindo a cabeça da mulher com uma sacola plástica.
A vítima relata que as abordagens abusivas por parte da Brigada Militar são rotina no estabelecimento localizado no bairro São José. Mas este teria sido o episódio mais violento. A ação policial aconteceu por volta das 21 horas, logo depois que um grupo de clientes deixou o bar administrado pelo casal. Naquela noite, ela lembra que o marido atravessava a rua em frente ao bar para ir ao mercado quando foi abordado pela BM. Os brigadianos já teriam descido do carro com pistolas apontadas para o homem.
Pelos relatos, dentro do bar, ele teve um saco enfiado na cabeça e amarrado, até perder o ar, além de receber socos, tapas, chutes e ‘pisões’. “Quem mais sofreu foi ele. Foi uma cena de terror”.
A mulher revela que sempre é revistada por homens nas abordagens no local. Desta vez, ela diz ter sido obrigada a levantar a blusa e mostrar os seios, para provar que não escondia droga.
Rotina de abordagens
Conforme a mulher, as vistorias da BM são frequentes desde que o bar foi aberto, cerca de três meses atrás. Nestas abordagens, ela afirma que é comum os brigadianos fazerem buscas no local sem mandado judicial e levarem dinheiro e bebidas. Um dos agentes envolvidos no caso de domingo, foi reconhecido pela mulher de outras abordagens.
“Toda vez que a gente pensa que vai conseguir reerguer o bar, eles chegam lá e tiram nosso dinheiro, nossas bebidas. Mas agora passaram dos limites, torturaram meu marido e me torturaram. Eles vão lá e acham que tem droga. Entram e revistam, quebram tudo e não acham nada, porque é um bar mesmo. Nunca acharam droga porque não tem.”
Ainda de acordo com o relato, após perceberem que eram filmados, os policiais teriam saído pelo bairro para tentar destruir as imagens. Alguns moradores teriam sido abordados e obrigados a desbloquear os celulares. Até mesmo uma igreja próxima teria sido invadida.
Após o episódio do domingo, o bar voltou a abrir, com apoio de um conhecido que forneceu bebidas. Mas o medo é constante. “Nós estamos ali, mas o medo fica, porque eles estão soltos. Mas a gente tem que abrir, porque senão, vamos nos sustentar como?”, desabafa.
A vítima afirma que um vizinho registrou o caso na Delegacia Online da Polícia Civil.
O que diz a Brigada Militar
Em nota, a Brigada Militar (BM) comunicou que os dois brigadianos foram afastados até a conclusão da investigação. No comunicado, o 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM) descreve que está ciente dos dois homens fardados em condutas que, de acordo com a corporação, são “incompatíveis com a atividade policial militar”.
A Brigada Militar diz ainda que o local e os envolvidos foram identificados “e que a Corregedoria-Geral já instaurou procedimento para a apuração das circunstâncias do fato”.
Polícia Civil
Até as 13h10 desta terça-feira, o delegado Alexandre Quintão, responsável pela 3ª Delegacia de Polícia, disse que não havia recebido nenhuma ocorrência. Quintão está em férias, mas conversou com a reportagem no início desta tarde.
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