CENTENÁRIA?
Rua de Novo Hamburgo é guardiã de um tesouro: uma figueira que viu a cidade crescer; entenda a lenda que gira em torno dela
Na região, circulam histórias de que potes de ouro eram enterrados debaixo da árvore e escondidos em buracos feitos no tronco
Última atualização: 17/10/2023 19:21
Se Carlos Drumond de Andrade tivesse conhecido Hamburgo Velho, talvez escreveria que no meio da rua tinha uma árvore, tinha uma árvore no meio da rua. Essa é a melhor definição para a Rua Reinaldo Ritzel, que fica via entre as ruas General Daltro Filho e João Edmundo Streb.
No meio da via pública de apenas uma quadra existe uma grande figueira, que provavelmente nasceu ali antes mesmo deste trecho virar caminho de passagem.
Conhecida pelos moradores como rua da figueira, foi em 1976 que o local recebeu o nome Reinaldo Ritzel.
Morando nas proximidades há seis décadas, a industriária aposentada Ivone Kunz, 79 anos, conta que a árvore sempre esteve ali desde que chegou para viver na Vila Kunz.
“Com certeza tem mais de 100 anos”, diz. Como Novo Hamburgo se tornou município em 5 de abril de 1927, tudo indica que a árvore "acompanhou" a cidade crescer.
O ecologista Arno Kayser, 62, também tem lembranças da figueira: “Essa árvore cresceu naturalmente. Não foi plantada. Quando asfaltaram a rua ela foi preservada, como era uma via de pouco trânsito”, comenta.
Kayser recorda que quando criança ia com a família no restaurante que ficava na esquina da Rua Daltro Filho. “A gente frequentava e também buscava comida pra comer em casa. Eu passava de bicicleta por ela nessas ocasiões e nessa época ela era já adulta”, destaca.
Mas há quem acredite que a planta tenha muito mais que um século. Moradores contam que há relatos de que a figueira teria idade superior a 350 anos. Inclusive, circulam histórias de que potes de ouro eram enterrados debaixo da árvore e escondidos em buracos feitos no tronco.
Sobre isso, o historiador Paulo Spolier, que atua no Arquivo Público Municipal, destaca que as lendas do "ouro dos padres" são muito fortes na região. De acordo com ele, as histórias remontam ao período das guerras guaraníticas.
Nesta época, espanhóis e portugueses expulsaram os indígenas missioneiros e os padres que, na fuga em direção à Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos de Gravatahy, teriam enterrado o ouro que traziam consigo em locais estratégicos.
“Houve várias 'escavações' amadoras, principalmente no caminho que desce do Vale do Caí e do Cadeia, em direção ao Sinos”, comenta.
A Prefeitura confirma que a figueira é centenária, em bom estado, e não oferece riscos. Segundo o Município, o trânsito de veículos pesados é proibido no local e, como há relato de moradores de que caminhões utilizam a via e batem nos galhos, vai verificar se há necessidade reforçar as sinalizações viárias.
Quantos anos vive uma figueira?
No Rio Grande do Sul, uma das figueiras mais antigas e famosas que se tem relato fica em Venâncio Aires, em Linha Tavares. A árvore, que segundo estudos de dendrocronologia teria 483 anos, está localizada no Quinto Distrito, em uma propriedade voltada para o turismo rural, aberta para visitação. São necessárias 12 pessoas para abraçar a figueira.