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ARTE EM MEIO AO LIXO

Paisagem apocalíptica de área abandonada inspira artista em Novo Hamburgo

Pintor Alexandre Reis levou tintas e telas para retratar local que abrigou antiga fábrica na cidade

Eduardo Amaral
Publicado em: 30/03/2023 às 03h:00 Última atualização: 29/02/2024 às 08h:48
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O incômodo causado pelo abandono do terreno onde funcionava a empresa Aços Plangg e a Fábrica da Cidadania, na Rua Bartolomeu de Gusmão, já foi tema de reportagens devido às reclamações de moradores de Canudos, bairro onde está localizada a rua que abriga o agora pátio abandonado. Mas na tarde de terça-feira (28), o artista visual Alexandre Reis encontrou na cena de decadência do local a inspiração para fazer arte.

Alexandre Reis foi a antiga sede da Aços Plangg e fez do cenário seu atelier  a céu aberto



Alexandre Reis foi a antiga sede da Aços Plangg e fez do cenário seu atelier a céu aberto

Foto: Eduardo Amaral/GES Especial

Reis foi até o local e montou uma espécie de ateliê ao ar livre, munido de uma cadeira, tela e tinta óleo. “Passo aqui e esse lugar é muito marcante porque é uma paisagem apocalíptica, é uma paisagem de pós-guerra ou guerra. Existe uma guerra na cidade, que é uma guerra social onde alguns lugares estão esquecidos”, relata ele, explicando o que o motivou a produzir arte na rua.

Quem passava pelo local não deixava de se surpreender com a cena inusitada de um pintor trabalhando em meio a escombros e lixo de um pátio abandonado. Um público variado que fez questão de interagir com o artista.

“Nesse pouco tempo que estou aqui tive vários relatos de quem parou o carro, a bicicleta e o carrinho de sucata, de pessoas que me falaram que hoje estão morando na rua e que trabalharam aqui na Aços Plangg e hoje estão em situação de vulnerabilidade social. Ninguém sabe dessas histórias, eu venho aqui me propor a fazer parte dessa história que hoje é o lixo, uma situação marginal.”

"A pintura é uma construção a partir da observação"

Natural e morador de Novo Hamburgo, Reis costuma buscar no cotidiano urbano a inspiração, não sendo raro ele fazer da rua seu ateliê. “Tenho registrado vários lugares da cidade e do Vale do Sinos, como um contraponto para pensar no que é simbólico na cidade e como a gente ressignifica a paisagem.”

Sem desmerecer a fotografia, Reis diz que opta pela linguagem do desenho como uma forma de ressignificar a maneira inicial como a humanidade retratava as cenas do dia a dia. “O desenho e a pintura são linguagens diferentes da fotografia, a fotografia tem sua poética, sua dinâmica, mas a pintura é uma construção a partir da observação, da sensibilidade e da técnica. Então eu me disponho a dar continuidade nesse processo histórico como os meus antepassados faziam”, afirma ele, deixando ainda um questionamento sobre a forma de produzir arte. “Deixo uma outra reflexão, o porquê acabou essa linguagem, por que ninguém mais quer pintar na rua.”

Há 23 anos, Reis trabalha com pintura, iniciou os estudos de pintura com Ernesto Frederico Scheffel, que dá nome à Fundação Cultural de Novo Hamburgo. O artista classifica Scheffel como fundamental para seu aprendizado sobre pintura.

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