SAÚDE MENTAL
Pacientes diagnosticados com doenças mentais lutam para vencer o preconceito
Conscientização sobre saúde mental é desafio para melhorar tratamento e o mote do Janeiro Branco deste ano
Última atualização: 22/01/2024 10:36
Estigmatizados ao longo dos anos, pacientes da saúde mental, além de lidar com a doença, precisam encarar o preconceito. Tornar o tema público e conscientizar a sociedade sobre o assunto é o mote do Janeiro Branco deste ano, que busca chamar atenção para a importância da inclusão social de pacientes já diagnosticados e incentivar as pessoas a buscarem o tratamento adequado.
O hamburguense Moisés Alexandre Figueiredo Gomes, 40 anos, teve sua primeira crise de esquizofrenia aos 21, quando estava no Exército. Durante cerca de 10 anos, ele precisou ser internado cinco vezes. Enfrentou dificuldade no diagnóstico e no tratamento. "Levou uns 10 anos até acertarem a medicação, até quando o psiquiatra disse: 'Não vamos dopar o rapaz, vamos tratar ele'." As crises o levaram a se afastar de suas paixões profissionais, o próprio Exército e trabalho em informática. Atualmente, Moisés passa por tratamento e consegue viver a vida do lado de fora das clínicas.
Gomes fala rápido, é curioso e gosta de filmes e de lidar com computadores, mas a doença dificulta sua vida social e profissional, e ainda precisa lidar com o desconhecimento e preconceito de quem não entende a esquizofrenia como uma doença. "Pensam que é falta de atividade, dizem para ir lavar uma louça, mas às vezes não dá nem vontade de levantar da cama", conta.
Encarando sozinho
Motorista e músico, Ademar Roberto dos Santos, 56 anos, começou a ter as primeiras crises de pânico por volta dos 30 anos. Por mais de uma década enfrentou o problema sem acompanhamento profissional. "Eu não entrei em tratamento porque eu conseguia enfrentar tudo isso, mas seguidamente tinha sintomas do que estava acontecendo", relembra. Quando buscou tratamento, encarou diagnósticos errados e medicamentos para problemas cardíacos, tendo inclusive tido a suspeita de estar com HIV.
Psicólogo do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Santo Afonso, Laerte Silva acompanha os dois pacientes, entre outros, há alguns anos. Ele explica que a falta de informação de quem rodeia os pacientes mentais se torna um problema adicional. “A pessoa não tem energia, sair de casa é muito difícil, porque tudo parece ameaçador. Então, se eu não tenho esse problema, passa distante essa compreensão. A pessoa que está sofrendo, fica ainda mais abalada com a situação.”
O próprio Santos conta que, após inúmeras crises, foi com um colega de banda que se sentiu confortável para falar sobre o problema. Atento ao fato de que o companheiro músico sempre se afastava dos demais companheiros, na conversa com ele descobriu que o mesmo sofria de crises de pânico e o isolamento era a sua forma de lidar com a situação.
Preconceitos que trancam
Tanto Gomes quanto Santos encontraram tratamento na rede pública, ambos estão dentro do sistema municipal de Novo Hamburgo. Acompanhados por profissionais, eles participam de diversas atividades, entre elas, o Grupo de Homens, que se reúne todas as segundas-feiras para que os pacientes possam falar sobre seus problemas. "Aqui eu percebo que tem pessoas com o mesmo problema que eu, às vezes com um quadro pior ou melhor, mas é onde encontro com quem falar sobre a doença", conta Santos.
Silva explica que outras chagas sociais acabam por tornar ainda mais difícil o tratamento. Uma das barreiras é a social, de pessoas que poderiam ser tratadas no CAPS, mas evitam devido ao estigma mesmo de classe que acompanha esses pacientes. Outro problema é o machismo, que se torna um impeditivo para que homens busquem os tratamentos adequados. “Homens têm mais dificuldade, muitas vezes quando a pessoa está mais fragilizada isso é entendido como fraqueza. O homem tem que aguentar, tem que suportar."
Para vencer o preconceito, Silva defende que se fale cada vez mais sobre o assunto e que os problemas de saúde mental sejam encarados com a mesma seriedade de doenças físicas. "É necessário falar mais sobre o assunto, para que se tenha mais informação e isso reduza o preconceito."
Procurando ajuda
A rede de Novo Hamburgo conta com três CAPSs destinados a adultos: um voltado a pessoas com problemas com álcool e drogas, e outro com foco em crianças e adolescentes. Além dos CAPSs, há também dois ambulatórios de saúde mental, um para adultos e outro para crianças e adolescentes.
A coordenadora do CAPS Infantil (CAPSi), Glauce Viana, destaca a necessidade de envolver toda a rede de saúde no atendimento aos pacientes. “É uma política trazer a saúde mental para o cenário da vida, para os atendimentos, para a atenção básica. Ou seja, a gente entende que a saúde mental é algo que não tem de ficar fechado, restrito a um hospital psiquiátrico. Ela precisa caber no nosso modo de ver a vida”.
Gerente de saúde mental de Novo Hamburgo, Álvaro de Oliveira destaca a importância de deixar de lado políticas públicas que excluem os pacientes de saúde mental da vida em sociedade. “Inclusão é benéfica para todos, ela é benéfica para o conjunto da sociedade”, destaca, lembrando a mudança de paradigma no atendimento aos pacientes da saúde mental, que ao longo dos anos vem deixando de serem isolados para terem um tratamento contínuo sem perder a convivência social. Uma luta contra estigmas e preconceitos, que ainda precisa ser travada diariamente.
Estigmatizados ao longo dos anos, pacientes da saúde mental, além de lidar com a doença, precisam encarar o preconceito. Tornar o tema público e conscientizar a sociedade sobre o assunto é o mote do Janeiro Branco deste ano, que busca chamar atenção para a importância da inclusão social de pacientes já diagnosticados e incentivar as pessoas a buscarem o tratamento adequado.
O hamburguense Moisés Alexandre Figueiredo Gomes, 40 anos, teve sua primeira crise de esquizofrenia aos 21, quando estava no Exército. Durante cerca de 10 anos, ele precisou ser internado cinco vezes. Enfrentou dificuldade no diagnóstico e no tratamento. "Levou uns 10 anos até acertarem a medicação, até quando o psiquiatra disse: 'Não vamos dopar o rapaz, vamos tratar ele'." As crises o levaram a se afastar de suas paixões profissionais, o próprio Exército e trabalho em informática. Atualmente, Moisés passa por tratamento e consegue viver a vida do lado de fora das clínicas.
Gomes fala rápido, é curioso e gosta de filmes e de lidar com computadores, mas a doença dificulta sua vida social e profissional, e ainda precisa lidar com o desconhecimento e preconceito de quem não entende a esquizofrenia como uma doença. "Pensam que é falta de atividade, dizem para ir lavar uma louça, mas às vezes não dá nem vontade de levantar da cama", conta.
Encarando sozinho
Motorista e músico, Ademar Roberto dos Santos, 56 anos, começou a ter as primeiras crises de pânico por volta dos 30 anos. Por mais de uma década enfrentou o problema sem acompanhamento profissional. "Eu não entrei em tratamento porque eu conseguia enfrentar tudo isso, mas seguidamente tinha sintomas do que estava acontecendo", relembra. Quando buscou tratamento, encarou diagnósticos errados e medicamentos para problemas cardíacos, tendo inclusive tido a suspeita de estar com HIV.
Psicólogo do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Santo Afonso, Laerte Silva acompanha os dois pacientes, entre outros, há alguns anos. Ele explica que a falta de informação de quem rodeia os pacientes mentais se torna um problema adicional. “A pessoa não tem energia, sair de casa é muito difícil, porque tudo parece ameaçador. Então, se eu não tenho esse problema, passa distante essa compreensão. A pessoa que está sofrendo, fica ainda mais abalada com a situação.”
O próprio Santos conta que, após inúmeras crises, foi com um colega de banda que se sentiu confortável para falar sobre o problema. Atento ao fato de que o companheiro músico sempre se afastava dos demais companheiros, na conversa com ele descobriu que o mesmo sofria de crises de pânico e o isolamento era a sua forma de lidar com a situação.
Preconceitos que trancam
Tanto Gomes quanto Santos encontraram tratamento na rede pública, ambos estão dentro do sistema municipal de Novo Hamburgo. Acompanhados por profissionais, eles participam de diversas atividades, entre elas, o Grupo de Homens, que se reúne todas as segundas-feiras para que os pacientes possam falar sobre seus problemas. "Aqui eu percebo que tem pessoas com o mesmo problema que eu, às vezes com um quadro pior ou melhor, mas é onde encontro com quem falar sobre a doença", conta Santos.
Silva explica que outras chagas sociais acabam por tornar ainda mais difícil o tratamento. Uma das barreiras é a social, de pessoas que poderiam ser tratadas no CAPS, mas evitam devido ao estigma mesmo de classe que acompanha esses pacientes. Outro problema é o machismo, que se torna um impeditivo para que homens busquem os tratamentos adequados. “Homens têm mais dificuldade, muitas vezes quando a pessoa está mais fragilizada isso é entendido como fraqueza. O homem tem que aguentar, tem que suportar."
Para vencer o preconceito, Silva defende que se fale cada vez mais sobre o assunto e que os problemas de saúde mental sejam encarados com a mesma seriedade de doenças físicas. "É necessário falar mais sobre o assunto, para que se tenha mais informação e isso reduza o preconceito."
Procurando ajuda
A rede de Novo Hamburgo conta com três CAPSs destinados a adultos: um voltado a pessoas com problemas com álcool e drogas, e outro com foco em crianças e adolescentes. Além dos CAPSs, há também dois ambulatórios de saúde mental, um para adultos e outro para crianças e adolescentes.
A coordenadora do CAPS Infantil (CAPSi), Glauce Viana, destaca a necessidade de envolver toda a rede de saúde no atendimento aos pacientes. “É uma política trazer a saúde mental para o cenário da vida, para os atendimentos, para a atenção básica. Ou seja, a gente entende que a saúde mental é algo que não tem de ficar fechado, restrito a um hospital psiquiátrico. Ela precisa caber no nosso modo de ver a vida”.
Gerente de saúde mental de Novo Hamburgo, Álvaro de Oliveira destaca a importância de deixar de lado políticas públicas que excluem os pacientes de saúde mental da vida em sociedade. “Inclusão é benéfica para todos, ela é benéfica para o conjunto da sociedade”, destaca, lembrando a mudança de paradigma no atendimento aos pacientes da saúde mental, que ao longo dos anos vem deixando de serem isolados para terem um tratamento contínuo sem perder a convivência social. Uma luta contra estigmas e preconceitos, que ainda precisa ser travada diariamente.
O hamburguense Moisés Alexandre Figueiredo Gomes, 40 anos, teve sua primeira crise de esquizofrenia aos 21, quando estava no Exército. Durante cerca de 10 anos, ele precisou ser internado cinco vezes. Enfrentou dificuldade no diagnóstico e no tratamento. "Levou uns 10 anos até acertarem a medicação, até quando o psiquiatra disse: 'Não vamos dopar o rapaz, vamos tratar ele'." As crises o levaram a se afastar de suas paixões profissionais, o próprio Exército e trabalho em informática. Atualmente, Moisés passa por tratamento e consegue viver a vida do lado de fora das clínicas.