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HISTÓRIA DO VALE

NOVO HAMBURGO: Patrona da feira do livro busca retomar a história negra na região

Margarete Fagundes Nunes transformou sua pesquisa de doutorado no livro "Trilogia Antropológica do Vale dos Sinos: Memória Negra"

Eduardo Amaral
Publicado em: 14/10/2023 às 09h:37 Última atualização: 18/10/2023 às 00h:17
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Patrona da Feira do Livro de Novo Hamburgo, Margarete Fagundes Nunes, tem dedicado sua vida profissional para recontar a história da população negra do Vale do Sinos. Foi essa a temática do seu livro “Trilogia Antropológica do Vale dos Sinos: Memória Negra”, lançado ainda em 2022.

Em Trilogia Antropológica do Vale dos Sinos: Memória Negra, Margarete Fagundes Nunes parte de relatos orais da Cruzeirinho para recontar a história negra na região  | Jornal NH



Em Trilogia Antropológica do Vale dos Sinos: Memória Negra, Margarete Fagundes Nunes parte de relatos orais da Cruzeirinho para recontar a história negra na região

Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

A partir de relatos orais de pessoas envolvidas com a Sociedade Cruzeiro do Sul, a Cruzeirinho de Novo Hamburgo, ela busca mostrar como foi a ocupação negra na região e mostrar a diversidade étnica do Vale do Sinos. “Meu interesse era dizer ‘olha, não é só alemão, nem só população negra’ temos aqui muitas populações”, relembra ela ao falar do que motivou sua pesquisa.

Natural do Noroeste do Estado, Margarete diz que seu grande objetivo é demonstrar como a região é muito mais diverso do que se imagina. “As pessoas sempre apontam a questão de ser germânico, é também germânico, mas a gente precisa reconhecer os outros grupos que fizeram e fazem a história dessa região.”

Uma das coisas que chamou atenção dela durante a pesquisa foi a existência de um antigo bairro que recebeu o nome de África. Ao retomar a história dessa população ela busca não deixar que a história se perca. “Para que essa memória possa contribuir para que a gente preserve essa cultura negra.”

Além da história

O livro é fruto de sua pesquisa de doutorado, mas o interesse pelo tema veio de antes. “Esse é um trabalho de muitos anos, venho pesquisando essa região desde a minha graduação”, relembra.

Durante esse longo período de pesquisas, Margarete mudou o foco algumas vezes. Mais do que uma retomada histórica, ela quer entender quais marcas ficam da população negra nos dias atuais. “Vai ter esses elementos históricos, mas eu trabalho bastante a questão das políticas de ações afirmativas hoje, como essas pessoas vivem atualmente.”

Entender como uma sociedade com histórico predominantemente branco iria encarar o tema das políticas afirmativas foi a pergunta central para a realização da pesquisa de doutorado que virou livro.

Marcado no tempo

Quando iniciou um olhar mais aprofundado sobre a população negra do Vale do Sinos, Margarete decidiu chamar atenção para a dificuldade em ver as marcas de outras populações que construíram e constroem a região.

“A política de patrimonialização é um eixo do livro porque isso é uma resposta a todo um processo de exclusão dos negros, porque não se transformava nada que fosse negro ou indígena em patrimônio, só se transformava em patrimônio o que fosse branco”, destaca.
Como pano de fundo, o grande interesse de Margarete é trazer para a superfície a diversidade regional. “O Vale do Rio do Sinos é diverso do ponto de vista étnico racial e as pessoas sempre apontam a questão de ser germânico, é também germânico, mas a gente precisa reconhecer os outros grupos que fizeram e fazem a história dessa região.”

O papel branco

Ao avaliar a sua relação com o tema, Margarete diz não ver problema em ser ela uma das responsáveis por pautar o racismo. “Nunca me senti mal de ser uma branca discutindo isso, porque penso que nós brancos temos o compromisso de desconstruir o racismo e contribuir com a luta antiracista, não podemos deixar que só os negros estudem e pensem propostas sobre isso.”

Mesmo assim, a antropóloga chama atenção para a necessidade de ações que promovam a entrada de mais pessoas negras no mundo acadêmico. “Agora, eu sinto muita falta sim de mais intelectuais negros conseguindo entrar nas universidades, na graduação, fazer um mestrado, um doutorado e orientar alunos. E a gente sabe que essa população ainda tem bastante dificuldade de acessar esse mundo”, avalia ela ao defender a continuidade de políticas públicas de acesso.

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