Caminhar pelas ruas de Novo Hamburgo, faça chuva ou sol, é rotina para as equipes do Centro Pop, o Centro de Referência Especializado em População em Situação de Rua, localizado na Avenida Nicolau Becker. O trabalho desafiador, capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Social do município, tem como meta mapear a condição e o número atual de pessoas em situação de rua na cidade, principalmente as que estão em bairros mais afastados do centro.
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A reportagem acompanhou um dia de mapeamento junto à equipe social da prefeitura. Ao lado do psicólogo Tiago Schilling Bett e da educadora social Inaima Vitor, foram percorridas ruas do bairro Canudos, especificamente na Vila Kippling, em uma atuação que durou cerca de duas horas. Apesar das abordagens realizadas, a equipe não encontrou pessoas em situação de rua durante essa atividade.
O mapeamento é complexo, pois a equipe precisa conquistar rapidamente a confiança das pessoas abordadas. Muitos desconfiam dos “coletes laranjas” do Centro Pop, associando-os a algum tipo de risco.
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Um dos princípios do grupo é preservar sua segurança, o que torna o mapeamento mais lento e desafiador. Até agora, o trabalho — iniciado em julho — já cadastrou 62 pessoas nos bairros Santo Afonso, Industrial, Liberdade e Rondônia. A meta atual é concluir a ação em Canudos, o bairro mais populoso de Novo Hamburgo.
Apesar dos obstáculos, desistir não é uma opção para os servidores do Centro Pop. “Tentamos de forma bastante humana acolher essas pessoas e oferecer os serviços do Centro Pop, porque a nossa ideia é que esses indivíduos possam se organizar, conseguir seus documentos e buscar tratamentos de saúde física e mental”, afirma Bett.
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A projeção da equipe é que a maioria das pessoas em situação de rua estejam na região central de Novo Hamburgo, mas o trabalho nos bairros é fundamental para um levantamento preciso. “Embora a comunidade muitas vezes tenha resistência em relação à presença de pessoas em situação de rua, é preciso vê-las como indivíduos que, em muitos casos, estão em extremo sofrimento”, reflete Bett.
O novo “perfil” nas ruas
O aumento de pessoas em situação de rua foi notável durante o período pandêmico. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que entre 2019 e 2022, o número subiu 38%, alcançando 281.472 pessoas no Brasil. No Rio Grande do Sul, as sucessivas enchentes desde o ano passado também foram responsáveis por ampliar esses números de forma expressiva.
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Segundo Juliane Maria Jacoby, coordenadora do Centro Pop, muitos dos afetados pelas cheias ainda não se reconhecem como pessoas em situação de rua. “A grande maioria das pessoas afetadas pela cheia não se identifica como população em situação de rua, elas se veem como alguém que perdeu a casa”, explica Juliane.
Para ela, essa perspectiva faz sentido, já que muitas famílias estão desalojadas, mas ainda assim precisam de acolhimento e conhecimento sobre seus direitos. “No Centro Pop, tudo parte do desejo do usuário. Ou seja, nosso papel é orientar, mas sem ações compulsórias”, observa a coordenadora.
O Centro Pop oferece atividades como banhos, cafés da manhã e atendimentos com assistentes sociais e psicólogos para os assistidos. “O mapeamento nas ruas visa justamente entender e alcançar a população em situação de rua que ainda não acessam esses serviços. Em geral, quem conhece esses serviços são os moradores da região central”, esclarece Juliane.
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Preocupação com o futuro
Ao fim do levantamento, que ainda não tem prazo para conclusão, a equipe do Centro Pop espera obter uma estimativa mais precisa da população em situação de rua em Novo Hamburgo. “Para que existam políticas públicas, precisamos conhecer a demanda”, afirma Juliane.
A expectativa dos servidores é que o trabalho continue no próximo ano, quando o prefeito eleito Gustavo Finck (PP) assumirá a administração municipal. “O servidor sempre espera que o novo administrador tenha a sensibilidade de manter os projetos em andamento, para que não tenhamos que recomeçar do zero”, finaliza a coordenadora.
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