abc+

SUPERAÇÃO

Jovem do Case que conseguiu vaga em universidade federal recebe progressão de medida

Socioeducando será transferido para Santa Maria, onde poderá iniciar as aulas e também trabalhar

Laura Rolim
Publicado em: 21/02/2024 às 17h:19 Última atualização: 21/02/2024 às 17h:19
Publicidade

O tão esperado ingresso no ensino superior vai se tornar realidade para um jovem do Centro de Atendimento Socioeducativo de Novo Hamburgo (Case NH). Aprovado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o socioeducando, de 18 anos, recebeu a concessão para progredir na medida socioeducativa. A audiência ocorreu na terça-feira (20), e a titular da Vara da Infância e da Juventude de Novo Hamburgo, a juíza Ângela Martini, acatou o pedido do jovem, que será transferido para a unidade em semiliberdade de Santa Maria.

Jovem de 18 anos do Case Novo Hamburgo conquista vaga em universidade federal | abc+



Jovem de 18 anos do Case Novo Hamburgo conquista vaga em universidade federal

Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Agora, o adolescente vai poder realizar o sonho de cursar uma faculdade, que, para ele, estava bem longe de acontecer. “Não pensei que fosse conseguir. Parei no tempo quando recebi a nota. Pensei em tudo que passei. E a faculdade pode mudar a vida da pessoa”, afirma.

Ele conta que antes não pensava em estudar, só queria viver, “sem pensar no amanhã”, mas conseguiu mudar o pensamento através do viés da educação. “O estudo ninguém vai me tirar. Não é fácil quando a pessoa está sozinha. Mas com uma faculdade, posso ter um trabalho. Vai ser algo que vai me ajudar”, diz. Ele também já pensa em cursar outra faculdade depois que finalizar essa. Para preservar a identidade do jovem, o curso não será divulgado.

A progressão de medida, segundo o jovem, “foi a melhor notícia possível”. Ele estava esperando por ela para iniciar a faculdade. “Agora, realmente, o sonho vai virar realidade.”

O jovem revela ansiedade para iniciar as aulas, conhecer a estrutura acadêmica e criar vínculos com os futuros professores e colegas. “Não vejo a hora de começar as aulas presenciais e aprender cada vez mais. Acordei muito feliz. Foi um dia iluminado”, completa. Ao resumir a audiência, ele finaliza: “Falei a verdade sobre o arrependimento que tinha, da vida que eu quero e do que eu penso para o meu futuro. Fui sincero”, diz.

Judiciário concedeu o pedido de semiliberdade

Conforme a juíza Ângela Martini, as audiências de revisão de medidas acontecem sempre em no máximo seis meses, mas podem ocorrer antes, com o pedido da equipe técnica. “Chamamos o socioeducando e ouvimos ele enquanto sistema de Justiça, sem os técnicos, sem os agentes da Fase, pois esse é um momento da gente poder ouvi-lo sem constrangimento. É uma conversa mais informal, para que ele possa reportar e falar um pouco da história”, explica Ângela.

Segundo a titular da Vara da Infância e da Juventude, a aprovação na universidade federal foi determinante para a progressão de medida. “O fato dele ter mostrado esse empenho, de ter conseguido a vaga, fez com que o Ministério Público, que normalmente tem uma postura mais rigorosa, também concordasse que o adequado para ele seria essa progressão para esse regime mais brando, para que possa fazer o curso e, enquanto isso, ter o apoio de transição do meio fechado para o aberto”, ressalta.

Com a progressão da medida, o jovem será transferido para uma unidade de Santa Maria, onde ficará durante o dia em liberdade e, à noite, voltará para dormir no local. Segundo o jovem, até uma oportunidade para trabalhar de garçom já surgiu.

Ângela destaca a evolução do jovem durante o período internado no Case e como a história dele serviu de inspiração para outros adolescentes. “Foi um caso bem emblemático. Infelizmente, é uma história que não é muito comum. As próprias técnicas do Case falaram sobre o quanto isso foi inspiração para outros meninos, para entenderem que basta acreditarem que existe outra alternativa”, comenta.

A pedagoga Liana Lemos, do Case NH, conta que a audiência foi muito bonita. “Ele levou todas as reportagens para mostrar para ela [Dra. Ângela] e para o promotor”, conta. Para Liana, é mais uma pessoa acreditando na educação. “A educação fez ele amadurecer, ter planos. A educação vai fazer com que ele dê uma virada na vida dele. Isso incentiva muitos outros adolescentes a estudarem e se empenharem, e até mesmo pessoas da sociedade”, ressalta.

Ângela também salienta a importância do judiciário se manter sensível ao lado humano. “Saímos de lá, enquanto sistema de Justiça, muito sensibilizados e felizes pela história de superação. A prova de que ser bem tratado, ter seus direitos garantidos, ter esse olhar sensível e não só técnico para a história de cada um deles, é muito importante para a execução de medida. Tentamos contemplar o jovem, como pessoa de direito, e não o ato em si”, finaliza.

Publicidade

Matérias Relacionadas

Publicidade
Publicidade