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NOVO HAMBURGO

"Isso nos entristece muito": Descarte irregular de roupas pode desestimular futuras doações, temem entidades

Além disso, local pode trazer riscos à saúde de quem entra em contato com o material

Laura Rolim
Publicado em: 20/08/2024 às 21h:41 Última atualização: 20/08/2024 às 21h:42
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O descarte irregular de roupas em uma área de transbordo utilizada para depositar entulhos recolhidos da enchente no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, segue acontecendo. Mesmo que o número de peças até tenha diminuído desde domingo (18), quando a reportagem registrou a situação pela primeira vez, nesta terça-feira (20), novos sacos com roupas foram deixados no local.

Roupas seguem sendo descartadas no bairro Santo Afonso | abc+



Roupas seguem sendo descartadas no bairro Santo Afonso

Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Com a chuva de segunda-feira a noite (19) e desta terça, as roupas depositadas na área, agora, além do contato com o chão e com outros resíduos, também estão molhadas. Mesmo assim, moradores seguem vindo de outros bairros para buscar as peças de roupas descartadas por outras pessoas.

Além do problema relacionado ao desperdício de roupas, já que a suspeita é que sejam itens doados durante a enchente do mês de maio, outra preocupação vem à tona: o impacto negativo que isso causa em novas campanhas de doações, como no caso de entidades que dependem da solidariedade da comunidade para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social.

LEIA MAIS: Moradores catam roupas em meio a restos de comida, insetos e entulhos da enchente: “Vou lavar e usar tudo”

A coordenadora do Programa Conexão Esperança, da Paróquia Luterana Primavera, Claudete Schneider, realiza periodicamente brechós solidários com roupas oriundas de doações, em que todo o valor é revertido para compra de alimentos. Ela lamenta o que está acontecendo em Novo Hamburgo.

“Isso nos entristece muito. Sem falar na situação de ver essas pessoas aqui cantando. Não é assim que elas merecem receber roupas”, reclama Claudete. Ela relata que durante a enchente, o grupo criou o Conexão Humanitária, em que receberam muitas doações de roupas para repassar aos atingidos pela enchente.

“Tudo o que sobrou nós encaminhamos para outras comunidades e cidades. Além disso, aquelas roupas que não podem ser aproveitadas, uma possibilidade é fazer roupas para cachorros. Nunca precisa ser descartado, de chegar nesse ponto que estamos vendo aqui”, reforça a coordenadora.

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A preocupação da voluntária é que a situação dificulte a chegada de doações para quem trabalha ajudando a comunidade. “Esse fato isolado não pode representar o nosso município e o trabalho lindo que tantas entidades fizeram. Quem fez isso deveria ser identificado e responsabilizado. Nós esperamos que isso não desestimule as pessoas a doarem”, reforça Claudete.

No caso do Brechó Conexão Esperança, a principal fonte de arrecadação para o projeto é oriunda de doações, pois as vendas são feitas com roupas doadas, vendidas a partir de R$ 5, em que todo o valor é destinado à compra de alimentos. “Essas famílias vão precisar de roupas para o verão também, assim como outras comunidades que dependem de doações”, diz.

Ela observa também que durante a tragédia, milhares de pessoas foram solidárias e o Estado recebeu doações de vários lugares do Brasil. No entanto, alguns locais não se preocuparam com o excesso de roupas recebidas. “Nós recebemos muita oferta de roupas, mas muitos pegaram com irresponsabilidade, pois pegaram e não sabiam o que iriam fazer com elas”, expõe Claudete.

“É tão absurdo”, diz professora de Engenharia Civil e Ambiental

Outro problema da área de transbordo em que a população está tendo livre acesso, tanto para descarte como para recolher itens, já que o local não possui cercamento em uma parte, é que o local pode trazer riscos à saúde de quem entra em contato com o material.

Conforme a professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos) Luciana Paulo Gomes, se tratando de um local para descarte de materiais da enchente, a área pode estar contaminada.

“Esse local pode ser vetor de outros animais, como ratos e baratas, que também circulam por outros locais e podem contaminar essas áreas. É totalmente inadequado. Se o poder público não mantém um serviço de limpeza urbana, essas áreas só aumentam, e isso desenvolve esse ciclo de doenças”, afirma.

Ela reforça também que é preciso fiscalização para que o descarte irregular pare de acontecer. No caso das roupas, ela observa que a população passou a identificar o local como um espaço de descarte e de disposição de resíduos.

“No caso de estarem descartando pilhas de roupas, já é uma outra linha, quase que social, de um descaso e desrespeito com quem eventualmente tenha doado no período da enchente. Não sei nem como responder. Isso não pode acontecer. No ponto de vista de ser prejudicial às pessoas, as roupas, em princípio, estavam limpas. Mas provavelmente elas estão em contato com outros resíduos que já estavam naquela área”, completa Luciana.

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