A tentativa do término de um relacionamento que não estava mais dando certo resultou na morte de Paula Gabriela Bairros, de 20 anos. O crime aconteceu no começo da madrugada da última quarta-feira (19) no bairro Rio Branco, em Novo Hamburgo. Mateus Ornélio Dias, 23, matou a namorada com golpes de faca e depois com o mesmo instrumento tirou a própria vida. Eles estavam juntos a cerca de quatro anos e deixaram uma filha de um ano e seis meses.
Cerca de duas horas antes do crime, a vítima do feminicídio conversou com o irmão por chamada de vídeo. “Eu e ela eramos apegados”, conta o agricultor Gean Marcos Bairros, 30. Ele lembra que na ligação da caçula de 14 irmãos estava alegre, pois havia conseguido trocar de turno no trabalho. A jovem era operadora de caixa de uma rede de supermercado há cerca de três meses.
“Ela estava feliz porque tinha conseguido mudar o horário do serviço dela, pois ela poderia passar mais tempo com a filha dela, pois ele [Mateus] iria embora do apartamento e ela poderia levar a filha dela de volta”, lembra o irmão. A criança estava morando com a avó materna e o tio por decisão da própria mão, devido a episódios de agressividade do companheiro.
Paula teria dito ao irmão que Mateus iria embora na próxima segunda-feira, pois a relação não estava dando certo. Porém, Paula não relatou qualquer problema naquele momento. “Ela só me disse que ele estava lá dentro. Que ele tinha pedido para ficar lá, só que ele estava em um quarto e ela em outro”, conta.
Apesar da perspectiva de separação e uma vida normal, o irmão conta que na ligação que durou cerca de 30 minutos, após as 22 horas da terça-feira (18), tentou convencer Paula a voltar para Vale do Sol, no Vale do Rio Pardo, onde a família reside e a jovem foi sepultada. “Eu disse ‘Paula, quem sabe deixa tudo e vem pra cá’. A gente tinha entrado em um acordo que ela viria embora nesta sexta-feira (21)”, lamenta. Um pouco após a meia-noite ela foi assassinada por Mateus.
“Ele não vai me fazer nada”
A frase acima era dita por Paula à família, segundo Gean. A operadora de caixa já relatava o desejo de separação. “Ela nunca disse o motivo”, detalha. Porém, ultimamente, ela contava sobre a mudança de comportamento de Mateus, que até então, para os parentes dela, “era um cara calmo”.
No entanto, o irmão de Paula lembra que quando o casal morava em Novo Cabrais, a família precisou sair da cidade onde mora, durante a madrugada, para buscá-la, pois ele teria agredido ela. Esse fato aconteceu em março de 2022.
Desde que relatou o desejo de separar, Gean fala que a família apoiou a decisão de Paula. “Era um relacionamento que tinha os seus altos e baixos. Uma hora estavam bem e na outra nem tanto”, conta. “As brigas já eram constantes, mas ela não tomava as medidas que tinha que tomar.”
Quando Paula começou a falar sobre a agressividade e a não aceitação do término por parte de Mateus, a família pediu que ela procurasse ajuda da polícia. “Vai lá e faz uma ocorrência e pede uma medida protetiva. Mas ela dizia que ‘não, ele não vai fazer nada’”, recorda. “A gente [família] acreditou também que ele não faria, pois ele era um cara calmo”, disse o agricultor. De fato, a jovem nunca registrou boletim de ocorrência contra ele.
Mudança para Novo Hamburgo
Gean conta que apesar da relação em crise, a irmã tentava dar chances a Mateus. Inclusive teria se mudado para Novo Hamburgo pelo desejo dele de tentar um recomeço na cidade do Vale do Sinos. Eles foram morar com uma irmã de Paula e Gean, onde o crime aconteceu.
Inicialmente, a filha do casal veio junto. Mas depois passou a ficar com a avó e o tio materno, devido as brigas constantes do casal. A mãe de Paula trazia a criança para visitá-la, em média, a cada 15 dias. “Não dava para a Paula vir pra cá por causa do trabalho, pois geralmente ela tinha folgas nos domingos, mas saia tarde do trabalho no sábado e na segunda já tinha que trabalhar. Então para ela aproveitar mais tempo com a filha, a minha mãe levava a criança”, explica.
A última visita aconteceu no final de semana que antecedeu o crime. “A mãe foi para lá no sábado e voltou na terça pra cá. Pegou o ônibus em Novo Hamburgo às 10h15 e chegou aqui a tarde”, relata Gean.
A irmã que morava com Paula e Mateus estava em casa no momento do crime. A mulher de 43 anos disse à Polícia que ouviu uma discussão seguida de silêncio. “Elas está arrasada”, conta Gean. A família ainda está em choque com crime. “Foi um choque, tanto é que até agora não consegui me refazer”, fala sobre a perda.
“Ela só vivia para a filha dela, nem pensava mais nela”
Antes de ser mãe, Gean conta que Paula gostava de dançar. Fazia aula em Centro de Tradições Gaúchas (CTG) e também gostava de teatro. Mas a maternidade sempre foi um sonho. “Ela era uma excelente mãe, bem carinhosa, ela amava a filha dela”, afirma. “Ela era uma pessoa bem carinhosa, extrovertida, prestativa… o que precisasse dela estava sempre pronta para ajudar. Se ela pudesse, ela se dividia em dez, cem, mil para poder ajudar todo mundo”, descreve o irmão.
Gean conta que a filha do casal permanecerá com ele e a mãe de Paula. Ele conta que embora não tenham proximidade com a família de Mateus, apesar da circunstância, não impedirão o convívio da criança com a família paterna.
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“Não temos relação com a família deles lá. Da minha parte nem quero contato. Mas vamos respeitar o direito dos outros avós em ter contato com ela, é direito dela também”, finaliza.
Denuncie
Denúncias de violência familiar e doméstica contra mulheres podem ser feitas, inclusive de forma anônima, pelo Disque 100. Também é possível relatar casos para a Brigada Militar em caso de emergência, pelo 190, ou acionar o Conselho Tutelar da sua cidade. A Polícia Civil do RS dispõe também dos fones (51) 2131-5700 (para Porto Alegre), 0800 642 6400 e (51) 98418-7814 (WhatsApp e Telegram).