A Praça CEU, no bairro Boa Saúde, foi palco de uma celebração de cultura, música e cidadania, com o evento *Hip Hop pela Paz* nesta terça e quarta-feira (6). A ação foi promovida pela Prefeitura de Novo Hamburgo em parceria com a OIM (Agência da ONU para as Migrações) e diversas entidades locais, com o intuito de fomentar a integração dos imigrantes e a inclusão social no município.
A programação, que contou com apresentações musicais, oficinas e atividades culturais, teve como objetivo não apenas celebrar a cultura do hip hop, mas também oferecer apoio e serviços à população imigrante que reside na cidade. O evento recebeu shows do grupo Preconceito Zero e performances de DJ’s como Djan Costa, Eduardo Tamborero, Mano Cascata, Cassinho e Ice Graffiti, além de oficinas de MC, breaking e graffiti, que envolveram crianças e adultos.
Coordenador de políticas públicas de igualdade racial de Novo Hamburgo, Jeferson Mendes destacou a importância do evento como um “mutirão” para atender a população imigrante e promover a inclusão. Segundo ele, a parceria com a OIM, ONU, FGTAS, Cadastro Único, Senac e Universidade Feevale foi essencial para oferecer serviços como orientação sobre o mercado de trabalho, cursos de português e acesso a documentos essenciais, como CPF e certidão de nascimento. “Tivemos cerca de 50 atendimentos, sendo 30 imigrantes de países como Egito, Venezuela, Senegal, Cuba e Peru, com um número expressivo de venezuelanos, que são muitos no bairro Boa Saúde”, comentou Jeferson.
O foco da ação foi levar esses serviços para um local afastado do centro da cidade, onde muitas vezes a população enfrenta dificuldades para acessar serviços básicos. Além disso, o evento também ofereceu um espaço de convivência cultural, com música, dança e graffiti, promovendo o hip hop como ferramenta de transformação social.
Hip Hop como cultura de paz
Eduardo Tamborero, proponente cultural e morador do bairro Santo Afonso, explicou o conceito por trás do Hip Hop pela Paz. “Esse projeto, através da Lei Paulo Gustavo, busca trabalhar os conflitos geracionais, econômicos e culturais, e como o hip hop contribui para mitigar esses conflitos de violência, criando uma cultura de paz. A ideia é transformar ambientes violentos em espaços de convivência, algo que começou em Nova Iorque, em 1973, e que trazemos para a realidade de Novo Hamburgo”, afirmou Tamborero.
Através de diversas formas de expressão artística, como o graffiti e a música, o evento estimulou a reflexão sobre a importância da arte no enfrentamento de questões sociais, promovendo a integração das diferentes culturas presentes na cidade.
O grafiteiro Paulo Ice, com 25 anos de carreira, deixou sua obra em uma das paredes do local e compartilhou sua visão sobre a importância do graffiti na formação cultural e social. “O graffiti não é só uma forma de ganhar dinheiro, mas também uma maneira de devolver algo à sociedade. Quando faço um graffiti, sempre busco incluir personagens negros ou mestiços, porque me identifico com isso. A arte pode ser uma ferramenta para tirar os jovens do crime e mostrar outro caminho, seja pelo graffiti ou pela música”, afirmou Ice, que enfatizou a importância de dar exemplo para as novas gerações.
O artista também destacou o papel do graffiti como uma forma de expressão que vai além da estética, abordando temas de inclusão e diversidade. “Eu sou daltônico, mas não deixo de trabalhar com cores. O graffiti é uma maneira de mostrar que todos têm potencial, independentemente das dificuldades. Eu mostro às crianças que eu vejo o mundo de uma forma diferente”, explicou.
A coordenadora da Praça CEU, Gisele Pires, falou sobre a participação ativa das crianças no evento. “Eu nunca tinha pego numa lata de tinta, mas pude grafitar também, e foi isso que as crianças fizeram. Elas sentem esse desejo de participar, de estar conectadas com a arte e com a cultura”, disse Gisele, ressaltando a importância de proporcionar aos jovens um espaço para a criatividade e a expressão.