CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Feira do Livro Afro em Novo Hamburgo evidencia protagonismo dos negros na literatura

Evento da Escola de Samba Protegidos ocorreu nesta quarta-feira (13), no bairro Rondônia

Publicado em: 13/11/2024 18:33
Última atualização: 13/11/2024 18:33

Aproximar crianças e adultos à literatura negra é o objetivo da 4ª Feira do Livro Afro da Escola de Samba Protegidos, que ocorreu nesta quarta-feira (13), na sede da Escola, no bairro Rondônia, em Novo Hamburgo. Destinado às escolas do Município e para o público em geral, a programação contou com apresentações culturais, contação de histórias e muito aprendizado sobre a cultura afro-brasileira.


Feira do Livro Afro da Escola de Samba Protegidos Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Durante o dia, as crianças aproveitaram para conhecer o espaço da sede da Protegidos e ter contato com leituras que evidenciam os negros como protagonistas das obras. Na quadra de ensaio, as crianças ouviram a professora da Escola de Aplicação da Feevale Fernanda Rodrigues contar a história do livro “O pequeno príncipe preto”, do autor Rodrigo França.

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“Meu interesse de passar a contar histórias assim é sempre lembrando da minha infância, que a gente não tinha grandes referências na literatura infantil. Poder sonhar com livros que os personagens se parecessem comigo e com os meus iguais era difícil. E hoje a gente vive um momento em que existe toda uma publicação da literatura negra e afrocentrada, e isso é fundamental”, destaca Fernanda.

Ela observa a importância das crianças negras poderem se enxergar em lugares de reis e rainhas, como no caso da história do livro narrado para os estudantes. “Também é importante para as crianças brancas entenderem que isso também faz parte do que é ser brasileiro e poderem presenciar o negro em outros espaços”, afirma Fernanda.

Apesar de existirem escritas que contam a história do povo negro, é comum que eles sejam do ponto de vista do escravo ou da pessoa que serve. Para a professora, quando as crianças escutam histórias que trazem um negro como protagonisita, a relação é de encantamento.

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Do ponto de vista de auto-estima, ela ressalta o quanto é significativo as crianças negras saberem exaltar a própria beleza e fortalecer a autoestima. “A gente sabe quanto o racismo afeta diversos aspectos na vida de uma pessoa. Essas histórias são muito importantes para esse auto reconhecimento. A história que eu contei era sobre amar os outros, sobre afeto, mas também era sobre se amar”, completa Fernanda.

Feira Afro insere Protegidos na roda educacional

Lana Flores, presidente da Escola de Samba Protegidos, evidencia a transformação que a educação é capaz de proporcionar nos estudantes que participaram. “Essa feira é o nosso presente. A educação vai nos transformar em algo muito maior. Trazer as crianças para cá, para ouvirem sobre pauta racional, é uma aula de história, de geografia, de portugues. A nossa contrapartida é saber que um dia eles poderão voltar aqui e vão lembrar que participaram de um evento, e quem sabe não vão desfilar pela escola?”, considera.

Literatura negra repercute na visão de mundo dos estudantes

Na semana que vem, no dia 20 de novembro, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, e para o estudante do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Básico Jorge Ewaldo Koch, Henrick Batista, 11 anos, a Feira do Livro Afro trouxe reflexões importantes. “Eu nunca participei de algo assim. Está sendo bem legal para a gente refletir, porque tem muitas pessoas que falam que não são racistas, mas que no dia-a-dia falam coisas racistas”, comenta.

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Ele observa que ter contato com a literatura negra acrescenta uma visão diferente para as pessoas. “Todo mundo tem o direito de ser criativo. E o jeito do negro se expressar é diferente. Nós somos brancos e estamos acostumados a ouvir histórias que não são contadas por pessoas negras”, define Henrick.

Já a estudante Eduarda Soares Mesquita, 11 anos, completa que tinha uma expectativa muito boa para participar da feira. “É muito legal falar sobre isso, assim como o dia da consciência negra, que representa muito para a nossa pele, e para que as pessoas não sofram racismo”, comenta.

Para ela, ouvir histórias que retratam a própria identidade traz uma representatividade muito importante. “A gente consegue se sentir como se estivesse dentro do livro, se sentindo aberto para que a pessoa possa contar a história, e isso é muito legal para poder representar nossa cor de pele negra”, complementa Eduarda.


Eduarda Soares Mesquita e Henrick Batista Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Livros evidenciam trajetória de negros e indígenas na sociedade

Rosi Diaz, expositora e integrante do Coletivo Kindez, trabalha com uma curadoria de livros que resgatam a memória dos povos originários, africanos e afro-brasileiros. “Ter uma literatura afrocentrada e indigena é extremamente importante para ajudar nessa construção de uma nova sociedade, pensando nas relações etnico raciais”, observa.


Rosi Diaz Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Ela ressalta que a curadoria de livros com personagens negros, escirtos por autores negros, reverbera diferente do que autores brancos escrevendo sobre pessoas negras. “Dentro da literatura que temos, trazemos para as feiras bons personagens, bons autores, que vão trazer toda a sua ancestralidade, vão escrever sobre o povo negro, não a partir da escravização, mas uma história amorosa, que traz ciência, com temática”, afirma Rosi.

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