Em mais um evento em celebração aos 200 anos da imigração alemã, foi inaugurada a exposição “Arte, Memória, Identidade e Territorialidade”, no Espaço Cultural Feevale, situado no quarto andar do Teatro Feevale. A mostra, que abriu ao público nesta terça-feira (10), é um projeto que destaca o impacto da imigração alemã no Vale Germânico por meio da arte contemporânea.
Curadora da exposição, Amanda Becker, que também é aluna da Feevale e atua como galerista e representante das artes visuais no Conselho Municipal de Políticas Culturais, explicou que a iniciativa surgiu da ideia de celebrar o bicentenário com uma abordagem artística. “O objetivo não é apenas recontar a história dos imigrantes, mas mostrar o que foi construído em termos de arte ao longo desses 200 anos no Brasil”, afirmou.
A exposição, que conta com obras de mais de 50 artistas, será exibida simultaneamente em cinco locais diferentes de Novo Hamburgo. O Espaço Cultural Feevale serve como o principal espaço, apresentando uma obra de cada artista participante. Outros espaços de exibição incluem a Casa das Artes, o Glass Mall, a Pinacoteca do Campus I da Feevale e a Casa CDL. Cada local receberá uma seleção de obras para proporcionar uma experiência diversificada ao público.
Becker também destacou a importância da ocupação de múltiplos espaços para a ampliação do alcance da exposição. “Queremos que essa celebração ocupe toda a cidade. Além do Teatro Feevale, estamos colaborando com outros parceiros, como a CDL e a prefeitura, para garantir que a exposição alcance uma audiência ainda maior”, disse.
Arte para todos os gostos
A mostra inclui uma variedade artística, como pinturas, esculturas, fotografias e gravuras. Becker mencionou que a diversidade de técnicas e suportes – desde acrílico e óleo sobre tela até gravura experimental – reflete a riqueza da arte contemporânea. “Temos uma gama muito ampla de trabalhos, desde pinturas e gravuras até fotografias com diferentes abordagens”, explicou.
Entre os artistas, Martina Berger, de 28 anos, traz uma perspectiva pessoal e profunda para a mostra. Natural de São Leopoldo e formada em Artes Visuais pela Feevale, Berger baseou sua contribuição na memória e na história de sua família.
A artista apresenta a obra Vamos Passear na Floresta, inspirada nas histórias e canções que sua avó lhe contava. O “objeto”, como descrito por ela, faz um resgate poético das memórias familiares, combinando fotografias de família com ninhos de sabiá encontrados em galpões antigos. Para Berger, o ninho simboliza o ventre dos pássaros, assim como sua avó é o ventre de sua família, refletindo a conexão entre passado e presente. As obras incorporam elementos de ressignificação, transformando imagens e objetos antigos em novas expressões artísticas.
Também está na mostra o trabalho de Ariadne Decker, de 64 anos, uma artista com uma carreira que começou na infância e se profissionalizou aos 17 anos. Decker traz uma obra que destaca sua longa exploração do tema dos calçados, utilizando diversas formas e técnicas para explorar os materiais e processos associados a esse objeto cotidiano.
“Eu trabalho com o tema do sapato há muito tempo. Esta é uma das várias obras que apresento, todas mostrando diferentes formas de apresentar os materiais, as caixas e a interação com o sapato, refletindo o aspecto comercial e a bagunça humana sem a presença direta das pessoas”, explica Decker.
Para a exposição, que celebra os 200 anos da imigração alemã, Decker escolheu uma obra que destaca a importância histórica dos sapateiros imigrantes, que foram pioneiros na indústria calçadista local e contribuíram para o desenvolvimento da cidade. “Os primeiros sapateiros foram os imigrantes. Esse tema é uma forma de reconhecer e celebrar essa herança cultural alemã, que teve um impacto profundo na nossa identidade e desenvolvimento”, conclui.
União de crenças e culturas
O escritor responsável pelo texto de abertura da exposição, Henrique Schneider, disse ter ficado emocionado e honrado pelo convite. Em suas palavras, Schneider destacou a importância de reconhecer o papel crucial da imigração alemã na formação do Vale dos Sinos, sem desconsiderar as contribuições de outras culturas e crenças. “Eu abro meu texto dizendo que, da mesma forma que é preciso uma aldeia para criar uma criança, acredito que é necessário um pouco de cada cultura para criar uma arte de muita resistência, diversidade e força”, afirmou Schneider.
O escritor elogiou tanto a existência quanto a qualidade da exposição, ressaltando a importância da exposição na celebração do bicentenário da imigração alemã. “A existência da exposição já é uma maravilha por si só, mas a qualidade das obras é impressionante”, completou Schneider. Para ele, a exposição é um reflexo poderoso da força e da riqueza da arte que emerge da integração cultural ao longo dos 200 anos de história no Brasil.
A noite também contou com apresentações do Coral da Feevale e presenças ilustres como a do presidente da Comissão Oficial do Bicentenário, Rafael Gessinger, do reitor da Feevale, José Paulo da Rosa, além de alunos e professores da Universidade, comunidade e os próprios artistas.
A exposição “Arte, Memória, Identidade e Territorialidade” estará aberta ao público até novembro. O próximo local a ser aberto será a Casa das Artes, na sexta-feira (13), seguido pelo Glass Mall (18/09), Casa CDL (26/09) e Pinacoteca (27/09). Mais informações podem ser conferidas através do instagram @galeriasfeevale.