Uma das grandes preocupações de quem sofre com as enchentes é olhar para tudo que construiu tomado pela água e lama.
Nesse cenário, é comum que a população olhe para eletrodomésticos sujos como perdidos. Contudo, estudantes, professores e voluntários do campus de Novo Hamburgo do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) se uniram para recuperar geladeiras, microondas e outros itens que para muitas pessoas representa a luta de muitos anos para conquistar.
Desde terça-feira (21), já foram encaminhadas para conserto 35 geladeiras, 40 microondas e 25 lavadoras de roupas. Muitas dessas já foram entregues, mas outras seguem sendo verificadas pela equipe de 19 voluntários, entre professores, alunos e membros da comunidade escolar.
O processo é bastante trabalhoso e, antes mesmo que possam iniciar a avaliação dos eletromédicos, são necessárias duas etapas de limpeza. A primeira é para retirar os rastros de lama da parte externa e realizar também a limpeza interna, mas só ela não será suficiente. Feita essa parte, é hora do eletrodoméstico passar pela última etapa de higienização dentro da câmara de desinfecção que utiliza luzes ultravioletas para concluir o processo.
“A luz ultravioleta produz ozônio, juntando assim duas ferramentas para descontaminação, o que no caso de uma câmara de desinfecção ele é perfeito”, explica o doutor em elétrica e professor de mecatrônica no IFSul Novo Hamburgo, Sérgio Severo. Essas luzes têm o efeito semelhante a uma câmara de bronzeamento artificial. Assim, as ondas que chegam são semelhantes às emitidas pela luz solar.
A necessidade de desinfecção, especialmente de geladeiras, ocorre porque muitas ficaram dias fechadas e com alimentos. Dessa forma, o refrigerador acaba ficando infectado na parte interna, o que pode ser comprovado pelo cheiro. O forte odor que sai desses objetos, podendo ser também outros eletrodomésticos, é a prova da limpeza interna.
Voluntários
A medida começou nas cidades de Lajeado, no Vale do Taquari, e Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. Os dois municipios também foram atingidas pelas enchentes, levando a criação desse projeto, que em Novo Hamburgo conta atualmente com 19 voluntários, sendo oito professores, inclusive de outros campus do IFSul, nove alunos e duas pessoas da comunidade que aderiram ao trabalho. “Como a inundação chega depois, a gente viu a dificuldade na pele. É muita gente precisando de uma geladeira, e os técnicos não dão conta de consertar tudo”, relata Severo.
Como responsável pela ação em Novo Hamburgo, ele percebe um grande compromisso de todos para auxiliar a comunidade. “Quem vem aqui e se dispõe a trabalhar está fazendo com satisfação. Se sente pertencente”, aponta Severo. De acordo com o professor, muitas das geladeiras abandonadas nas ruas podem ser consertadas sem grandes problemas. O maior cuidado a se tomar é mesmo com a contaminação.
Como limpar
Para quem está em Novo Hamburgo e deseja fazer a higienização de sua geladeira, basta entrar em contato com o IFSul através do WhatsApp (48) 99801-9273. Basta mandar uma mensagem e agendar um horário. Contudo, o IFSul não retira nem entrega o produto direto na casa do solicitante. Todo o serviço de higienização e conserto, quando preciso, é gratuito.
Já para quem não mora em Novo Hamburgo e vai limpar a própria geladeira, a melhor recomendação é utilizar cloro, embora esse possa ser prejudicial para as paredes do refrigerador. E para ter o mesmo efeito da câmara de desinfecção, a dica é secar bem a geladeira e, após isso, deixá-la à mostra do sol. O efeito é o mesmo, mas bem mais demorado, podendo levar até três dias.
Severo garante que a higienização das geladeiras pode ser suficiente para retomar o uso do produto. De acordo com ele, as geladeiras acabam sendo os itens com menor risco de estrago grave.
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