ECONOMIA
Entenda o que é mineração de criptomoeda e como funciona este mercado de investimento
Especialista André Luis Momberger explica as vantagens e os riscos que envolvem esse tipo de aplicação
Última atualização: 19/06/2024 10:16
Uma mineração de criptomoeda foi descoberta e fechada em Morro Reuter na última terça-feira (1). A atividade não é irregular no Brasil, mas o proprietário da chácara onde funcionava o esquema foi preso por furto de energia elétrica, tendo em vista que, conforme a Polícia Civil, uma ligação clandestina foi feita no local.
Para entender o que é uma mineração de criptomoeda e como funciona o universo de investimento digital conversamos com André Luis Momberger, especialista e proprietário de uma empresa de investimentos.
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
JNH – O que é e como funciona uma mineração de criptomoedas?
André - A mineração de criptomoeda é justamente o sistema que cria o enfileiramento de dados, que é o blockchain. A medida que você vai minerando, você vai criando esses códigos que geram os blocos, que garantem a segurança das criptomoedas. É um processo bastante complexo de se fazer, precisa de muita, muita máquina, e precisa de uma energia ’bizarra’, muita energia.
Atualmente, por exemplo, no Brasil, o custo da energia gerada, da energia elétrica principalmente, não viabiliza mais a mineração. Tem muitas mineradoras se transferindo para o Paraguai e outros países onde tem a energia um pouco mais barata. Há casos de mineradoras colocando máquinas embaixo do oceano para que haja resfriamento mais rápido dessas máquinas e elas consumam menos energia.
JNH – Mas o que são criptomoedas e como elas funcionam?
André - Criptomoedas são nada mais, nada menos, que moedas virtuais. São utilizadas como qualquer outra moeda como meio de pagamento, só que ela tem algumas características que diferenciam do dólar, do euro… Ela é descentralizada. Não tem um banco central que comanda o controle de uso dessa moeda. Em anonimato, você recebe uma chave. Você pode transacionar recurso de um lugar para outro sem que saibam que é você. Não tem custos de transação. Por exemplo, quando você vai fazer uma remessa de dinheiro para o exterior, você tem que fazer uma operação de câmbio e tem a taxa do banco. Nesse caso, não teria nada. O que está por trás da tecnologia, chamada de blockchain, o próprio nome diz: é uma cadeia de dados e ela fica fica espalhada no mundo inteiro, o que permite que seja inviolável. Por isso é altamente segura.
JNH – Existem tipos de moedas diferentes? Quais os principais?
André – Existem vários tipos de criptos. Só para se ter uma ideia, já há catalogado em torno de 17 mil tipos diferentes. Então, praticamente todos os dias surge alguma criptomoeda nova no mundo. Não significa que são moedas confiáveis e utilizáveis, mas são tentativas de diversos players de colocar isso no jogo. A principal e mais conhecida moeda é a Bitcoin, que foi a primeira e hoje representa boa parte do movimento de transação no mundo. Mas também a Ethereum, Cardana, Natcoin que são as mais famosas. E depois tem ‘n’ outras pequenas moedas. E agora tem as NFTs também, que são aquelas moedas utilizadas em jogos e, possivelmente, também nesse universo do metaverso que está bastante em voga.
JNH – Existe alguma legislação ou órgão que regule este mercado?
André – É um mercado descentralizado. A gente chama de autorregulado. Não existe uma regulação específica. No caso de tributação como ativo, ele sofre a mesma tabela de tributação de qualquer ativo. Se compra e tem um resultado, você vai pagar o imposto de renda sobre o lucro, conforme qualquer ação, títulos de renda fixa. Então, a legislação tributária é a mesma. Mas não existe uma legislação que regula, por exemplo, a emissão dessas moedas.
JNH – Como os investidores desse mercado atuam?
André – Tem várias formas de atuar neste mercado. A primeira delas é direto, através de uma corretora de criptos. Existem corretoras específicas que transacionam essa moedas. Tem que abrir uma conta como abre em uma corretora normal, em banco. Vai ter todo o cardápio de criptomoedas disponíveis para comprar e transformar a tua moeda - no caso, o Real -, na moeda que queres comprar. Por exemplo, entra lá e quer comprar uma quantidade ‘x’ de Bitcoin: paga ela em Reais e transforma em Bitcoin. Essa é a forma direta. Existem formas indiretas, que é através de fundos que investem em criptomoedas.
No Brasil, tem algumas gestoras que oferecem várias alternativas de fundos, 100% em criptomoedas ou uma mistura de cripto com um pouco de renda fixa, para ser um pouco menos volátil.
E ainda tem uma terceira forma: através das ETFs, que são papéis listados na Bolsa de Valores (na B3 aqui no Brasil), e elas representam uma cesta de criptomoedas. O principal ETF no Brasil hoje é o Hash11, que é composto de 80% de Bitcoin, 15% de etéreo e 5% divididos em mais 20 criptomoedas. Então, se você quiser comprar essa cesta, não precisa entrar em uma corretora ou abrir conta, vai na B3 e compra um Hash, que você já está com a representatividade em suas moedas. Na B3, compra e vende na hora que quiser, assim como nas corretoras de cripto.
JNH – Como se faz a cotação do valor dessas moedas?
André – A cotação dessas moedas é o mercado, como se diz, ela tem a cotação em bolsa. Funciona como as ações na B3. Você entra em uma plataforma, escolhe uma conhecida, por exemplo, a Binance, que é uma das maiores plataformas do mundo, você consegue ver o preço online, em tempo real, de todas as criptos do mundo. Então, você tem a cotação naquele segundo daquela criptomoeda.
JNH – Quais são as vantagens e as desvantagens de investir em criptomoedas?
André – A grande vantagem, em um segundo olhar, acaba sendo uma desvantagem também. As criptomoedas são altamente voláteis, justamente por ser um mercado ainda não regulado. Existem criptomoedas que podem subir 100%, 200%, 500%, 1000%. Então, imagina que você coloca R$ 10 mil em um determinado tipo de criptomoeda, ela sobe 1000% e você transformou R$ 10 mil em R$ 100 mil. Com essa volatilidade, dependendo do seu nível de risco, nível de apetite para correr esse tipo de risco, pode até ficar rico do dia para a noite. Então, tem uma vantagem intrínseca nisso.
A desvantagem é que, assim como para o bem, ela pode ter volatilidade para baixo. Daquelas 17 mil moedas que existem, 16,5 mil é o que o mercado chama de ‘criptolixo’. Então, se você compra a moeda errada, ela vira pó. Se você coloca os R$ 10 mil, perde os R$ 10 mil, pode perder 100% do teu investimento. Tem a vantagem de poder ganhar muito dinheiro ou o risco de perder tudo. Com o Bitcoin, vai acontecer isso? Não. O Bitcoin, por ter uma presença muito relevante no mundo, já ter compradores e vendedores frequentes todos os dias, já não acontece mais isso. Da mesma forma que você não vai dar uma ‘boletada’ de multiplicar por 10, 20 vezes, mas dificilmente verá seu dinheiro virar pó.
Outra desvantagem é que, por ser um mercado ainda não muito conhecido, ele é um pouco mais complexo de operar, pois terá que abrir uma conta em uma corretora específica, vai ter que fazer um curso para entender, pois tem muitas ofertas no mercado. Ou conta com a ajuda especializada ou provavelmente vai fazer alguma coisa muito errada. Não é um mercado fácil de operar.
JNH – Existe valor mínimo para investimento?
André – Não existe valor mínimo [para investimento], obviamente que existem valores mínimos para a transação. Mas dá para começar com R$ 100, R$ 200, R$ 500, R$ 1000. Não que tenha uma limitação, mas não recomendo começar a menos que isso.
JNH – Como evitar golpes?
André – A primeira dica é, se for operar direto no mercado de criptos, só operar através de uma corretora já conhecida no mercado. No Brasil, o mercado Bitcoin é uma das maiores corretoras, tem a Binance, que uma das maiores do mundo. São duas corretoras que, quando meus clientes pedem, eu indico sem medo. Esse é o cuidado número um que tem que se ter.
O segundo cuidado é não cair em conversa de pessoas que dizem que vão pegar o teu dinheiro e vão garantir resultado positivo para ti. Então, ele diz: 'Eu vou negociar para ti no mercado de cripto e garanto que eu te pago 15% ao mês'. Isso definitivamente não existe, isso é golpe, é estelionato, é pirâmide disfarçada de investimento em criptomoeda. Se aparecer alguém garantindo resultado, pula fora porque vai ser roubado.
E o terceiro cuidado é estudar um pouco, ler um pouco, tem muito material gratuito na Internet hoje. Então, dá uma pesquisada sobre como é que funciona este mercado, quais são os principais players, porque aí dificilmente vai cair em golpe. Mas operando através de uma corretora conhecida ou operando através da própria B3 e não acreditando em milagres, dificilmente você vai cair em golpe.
Uma mineração de criptomoeda foi descoberta e fechada em Morro Reuter na última terça-feira (1). A atividade não é irregular no Brasil, mas o proprietário da chácara onde funcionava o esquema foi preso por furto de energia elétrica, tendo em vista que, conforme a Polícia Civil, uma ligação clandestina foi feita no local.
Para entender o que é uma mineração de criptomoeda e como funciona o universo de investimento digital conversamos com André Luis Momberger, especialista e proprietário de uma empresa de investimentos.
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
JNH – O que é e como funciona uma mineração de criptomoedas?
André - A mineração de criptomoeda é justamente o sistema que cria o enfileiramento de dados, que é o blockchain. A medida que você vai minerando, você vai criando esses códigos que geram os blocos, que garantem a segurança das criptomoedas. É um processo bastante complexo de se fazer, precisa de muita, muita máquina, e precisa de uma energia ’bizarra’, muita energia.
Atualmente, por exemplo, no Brasil, o custo da energia gerada, da energia elétrica principalmente, não viabiliza mais a mineração. Tem muitas mineradoras se transferindo para o Paraguai e outros países onde tem a energia um pouco mais barata. Há casos de mineradoras colocando máquinas embaixo do oceano para que haja resfriamento mais rápido dessas máquinas e elas consumam menos energia.
JNH – Mas o que são criptomoedas e como elas funcionam?
André - Criptomoedas são nada mais, nada menos, que moedas virtuais. São utilizadas como qualquer outra moeda como meio de pagamento, só que ela tem algumas características que diferenciam do dólar, do euro… Ela é descentralizada. Não tem um banco central que comanda o controle de uso dessa moeda. Em anonimato, você recebe uma chave. Você pode transacionar recurso de um lugar para outro sem que saibam que é você. Não tem custos de transação. Por exemplo, quando você vai fazer uma remessa de dinheiro para o exterior, você tem que fazer uma operação de câmbio e tem a taxa do banco. Nesse caso, não teria nada. O que está por trás da tecnologia, chamada de blockchain, o próprio nome diz: é uma cadeia de dados e ela fica fica espalhada no mundo inteiro, o que permite que seja inviolável. Por isso é altamente segura.
JNH – Existem tipos de moedas diferentes? Quais os principais?
André – Existem vários tipos de criptos. Só para se ter uma ideia, já há catalogado em torno de 17 mil tipos diferentes. Então, praticamente todos os dias surge alguma criptomoeda nova no mundo. Não significa que são moedas confiáveis e utilizáveis, mas são tentativas de diversos players de colocar isso no jogo. A principal e mais conhecida moeda é a Bitcoin, que foi a primeira e hoje representa boa parte do movimento de transação no mundo. Mas também a Ethereum, Cardana, Natcoin que são as mais famosas. E depois tem ‘n’ outras pequenas moedas. E agora tem as NFTs também, que são aquelas moedas utilizadas em jogos e, possivelmente, também nesse universo do metaverso que está bastante em voga.
JNH – Existe alguma legislação ou órgão que regule este mercado?
André – É um mercado descentralizado. A gente chama de autorregulado. Não existe uma regulação específica. No caso de tributação como ativo, ele sofre a mesma tabela de tributação de qualquer ativo. Se compra e tem um resultado, você vai pagar o imposto de renda sobre o lucro, conforme qualquer ação, títulos de renda fixa. Então, a legislação tributária é a mesma. Mas não existe uma legislação que regula, por exemplo, a emissão dessas moedas.
JNH – Como os investidores desse mercado atuam?
André – Tem várias formas de atuar neste mercado. A primeira delas é direto, através de uma corretora de criptos. Existem corretoras específicas que transacionam essa moedas. Tem que abrir uma conta como abre em uma corretora normal, em banco. Vai ter todo o cardápio de criptomoedas disponíveis para comprar e transformar a tua moeda - no caso, o Real -, na moeda que queres comprar. Por exemplo, entra lá e quer comprar uma quantidade ‘x’ de Bitcoin: paga ela em Reais e transforma em Bitcoin. Essa é a forma direta. Existem formas indiretas, que é através de fundos que investem em criptomoedas.
No Brasil, tem algumas gestoras que oferecem várias alternativas de fundos, 100% em criptomoedas ou uma mistura de cripto com um pouco de renda fixa, para ser um pouco menos volátil.
E ainda tem uma terceira forma: através das ETFs, que são papéis listados na Bolsa de Valores (na B3 aqui no Brasil), e elas representam uma cesta de criptomoedas. O principal ETF no Brasil hoje é o Hash11, que é composto de 80% de Bitcoin, 15% de etéreo e 5% divididos em mais 20 criptomoedas. Então, se você quiser comprar essa cesta, não precisa entrar em uma corretora ou abrir conta, vai na B3 e compra um Hash, que você já está com a representatividade em suas moedas. Na B3, compra e vende na hora que quiser, assim como nas corretoras de cripto.
JNH – Como se faz a cotação do valor dessas moedas?
André – A cotação dessas moedas é o mercado, como se diz, ela tem a cotação em bolsa. Funciona como as ações na B3. Você entra em uma plataforma, escolhe uma conhecida, por exemplo, a Binance, que é uma das maiores plataformas do mundo, você consegue ver o preço online, em tempo real, de todas as criptos do mundo. Então, você tem a cotação naquele segundo daquela criptomoeda.
JNH – Quais são as vantagens e as desvantagens de investir em criptomoedas?
André – A grande vantagem, em um segundo olhar, acaba sendo uma desvantagem também. As criptomoedas são altamente voláteis, justamente por ser um mercado ainda não regulado. Existem criptomoedas que podem subir 100%, 200%, 500%, 1000%. Então, imagina que você coloca R$ 10 mil em um determinado tipo de criptomoeda, ela sobe 1000% e você transformou R$ 10 mil em R$ 100 mil. Com essa volatilidade, dependendo do seu nível de risco, nível de apetite para correr esse tipo de risco, pode até ficar rico do dia para a noite. Então, tem uma vantagem intrínseca nisso.
A desvantagem é que, assim como para o bem, ela pode ter volatilidade para baixo. Daquelas 17 mil moedas que existem, 16,5 mil é o que o mercado chama de ‘criptolixo’. Então, se você compra a moeda errada, ela vira pó. Se você coloca os R$ 10 mil, perde os R$ 10 mil, pode perder 100% do teu investimento. Tem a vantagem de poder ganhar muito dinheiro ou o risco de perder tudo. Com o Bitcoin, vai acontecer isso? Não. O Bitcoin, por ter uma presença muito relevante no mundo, já ter compradores e vendedores frequentes todos os dias, já não acontece mais isso. Da mesma forma que você não vai dar uma ‘boletada’ de multiplicar por 10, 20 vezes, mas dificilmente verá seu dinheiro virar pó.
Outra desvantagem é que, por ser um mercado ainda não muito conhecido, ele é um pouco mais complexo de operar, pois terá que abrir uma conta em uma corretora específica, vai ter que fazer um curso para entender, pois tem muitas ofertas no mercado. Ou conta com a ajuda especializada ou provavelmente vai fazer alguma coisa muito errada. Não é um mercado fácil de operar.
JNH – Existe valor mínimo para investimento?
André – Não existe valor mínimo [para investimento], obviamente que existem valores mínimos para a transação. Mas dá para começar com R$ 100, R$ 200, R$ 500, R$ 1000. Não que tenha uma limitação, mas não recomendo começar a menos que isso.
JNH – Como evitar golpes?
André – A primeira dica é, se for operar direto no mercado de criptos, só operar através de uma corretora já conhecida no mercado. No Brasil, o mercado Bitcoin é uma das maiores corretoras, tem a Binance, que uma das maiores do mundo. São duas corretoras que, quando meus clientes pedem, eu indico sem medo. Esse é o cuidado número um que tem que se ter.
O segundo cuidado é não cair em conversa de pessoas que dizem que vão pegar o teu dinheiro e vão garantir resultado positivo para ti. Então, ele diz: 'Eu vou negociar para ti no mercado de cripto e garanto que eu te pago 15% ao mês'. Isso definitivamente não existe, isso é golpe, é estelionato, é pirâmide disfarçada de investimento em criptomoeda. Se aparecer alguém garantindo resultado, pula fora porque vai ser roubado.
E o terceiro cuidado é estudar um pouco, ler um pouco, tem muito material gratuito na Internet hoje. Então, dá uma pesquisada sobre como é que funciona este mercado, quais são os principais players, porque aí dificilmente vai cair em golpe. Mas operando através de uma corretora conhecida ou operando através da própria B3 e não acreditando em milagres, dificilmente você vai cair em golpe.
Para entender o que é uma mineração de criptomoeda e como funciona o universo de investimento digital conversamos com André Luis Momberger, especialista e proprietário de uma empresa de investimentos.