Novo Hamburgo é a segunda cidade do Rio Grande do Sul, em números absolutos, com o maior número de casos de dengue, segundo o painel disponibilizado pelo governo do Estado. A cada semana, as confirmações aumentam na região.
No Estado, foram registradas quatro mortes por dengue, 5.208 casos confirmados e 11.824 notificações até terça-feira (20). Apesar do avanço da doença, conforme o virologista e professor da Universidade Feevale, Fernando Spilki, o mês de março deve concentrar o pico de casos.
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Em São Leopoldo, após registrar mais de 250 casos na cidade, o prefeito Ary Vanazzi declarou situação de emergência, no âmbito da saúde pública, em razão do risco de epidemias por doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, em especial, a dengue.
Já em Novo Hamburgo, que continua como cidade da região onde há mais casos da doença, até a tarde desta terça-feira (20), o município contabilizava 559 pessoas positivas para dengue, 744 notificações e 164 em investigação. Já na quarta-feira da semana passada (14), havia 390 pessoas contaminadas. Atualmente, três moradores estão internados por dengue, todos com quadros estáveis e em recuperação.
Com o aumento de casos, a prefeitura informa que o Comitê Intersetorial contra a dengue, que une várias secretarias no alinhamento de estratégias de atendimento à população, segue multiplicando ações contra a dengue. Além disso, na próxima semana, os agentes de saúde e outros servidores da atenção primária em saúde passarão por capacitação acerca das arboviroses (doenças causadas pelos arbovírus, que incluem os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela).
Prefeitura projeta pico de casos entre abril e maio
Questionados sobre novas medidas e até a publicação de um decreto, a exemplo do que fez São Leopoldo, a administração pública hamburguense respondeu por meio de assessoria que “em Novo Hamburgo ainda não foi decretado estado de emergência devido à organização e estratégias prévias de todo o sistema de saúde”.
A prefeitura informa ainda que “o município já possui comitê de arboviroses instituído, e as articulações com a atenção primária de saúde, média e alta complexidade estão bem fortalecidas. No entanto, considerando que o período de pico para as arboviroses deve se dar entre abril e maio, o município segue atento e mantém a possibilidade do decreto como mais uma medida dentro do plano estratégico a ser adotada a qualquer momento”.
Segundo a prefeitura, o município vem registrando uma queda na curva de aumento de casos.
“O trabalho de ações rigorosas realizadas no município, envolvendo diferentes estratégias, pode ter contribuído para uma redução no percentual de crescimento. Mas os números ainda são altos e continua sendo fundamental a participação dos moradores no combate à proliferação do mosquito, limpando seus pátios e evitando água limpa parada”, ressalta a prefeitura, em nota.
Testes rápidos sob indicação médica
Novo Hamburgo também adquiriu testes rápidos para diagnóstico precoce da dengue. Conforme a Prefeitura, os testes estão disponíveis nas unidades de atenção básica, UPAs e Hospital Municipal. A utilização é feita a partir da indicação do médico, o que possibilita uma triagem mais rápida e um manejo adequado da doença.
Saiba como denunciar focos do mosquito
A reportagem recebe diariamente relatos – inclusive fotos – de moradores que denunciam focos de mosquito da dengue em pátios e residências de Novo Hamburgo. No município, ações de dedetização têm sido feitas para minimizar o problema. Nesta terça-feira (20), houve pulverização com caminhonete na Vila Diehl e, ao longo do dia, ocorreu aplicação nos chamados pontos estratégicos (floricultura, cemitério, borracharia e presídio).
Nesta quarta-feira (21), ocorre pulverização com caminhonete no bairro Boa Saúde e, na quinta (22), novamente em pontos estratégicos. Os bairros Vila Diehl, São José e Boa Saúde concentram mais de 70% dos casos de dengue no município.
Segundo a prefeitura, denúncias sobre possíveis focos do mosquito Aedes aegypti, piscinas com água parada, garrafas expostas ao relento com seu gargalo recebendo água da chuva, pneus expostos em terrenos baldios, caixas d’ água destampadas e acúmulo de água sem o devido escoamento deverão ser realizadas diretamente para a Ouvidoria do SUS (Telefone: 99831-6500).
Virologista projeta pico “ao redor de março”
O virologista e professor da Universidade Feevale, Fernando Spilki, afirma que, conforme o histórico dos últimos dois anos, seja aqui ou em outros locais, há um estabelecimento da dengue. “Os casos aparecem no início do verão, e há uma dinâmica de crescimento durante a temporada, mas vamos encontrar esse pico mais pra frente, ao redor de março”, diz.
Spilki avalia que podem haver variações, mas conforme as projeções nacionais, que indicam que ainda estamos no meio da epidemia, a tendência é um aumento nos números, ao invés de queda.
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“Se tivermos alterações climáticas e o engajamento das pessoas para eliminar os focos de mosquito da dengue, podemos ter reversão. Mas, se cumprirmos o comportamento natural, de temperaturas mais altas e a não colaboração da população, teremos números maiores”, salienta.
O virologista analisa que os números do Rio Grande do Sul começaram a ser comparados com regiões do norte do Brasil em 2022. “Há uma introdução massiva do mosquito. Isso se encontra por conta das condições climáticas e replicação do vírus, que permite que seja o transmissor”, diz. A temperatura é um dos fatores que corrobora para o aumento dos casos.
Cuidados devem ser redobrados
Spilki ressalta a importância dos cuidados feitos pela administração municipal, mas alerta para a atenção redobrada que a população deve ter. “O que é feito pela Prefeitura de Novo Hamburgo, de olhar para os focos, isso é fundamental e é comprovadamente eficaz, pois muitos surtos no passado e ainda hoje são controlados dessa forma. Adicional a isso, também precisamos das pessoas em questões de proteção individual”, afirma.
Com isso, Spilki recomenda a utilização de repelentes testados e autorizados, especialmente em horários em que o mosquito está mais ativo, como início da manhã e final da tarde, não mais do que três aplicações ao dias.
“Repelentes elétricos nos ambientes também são eficazes. Entender que o vírus não está só no pátio, também pode estar dentro de casa, na água do gato, do cachorro, em um vaso de planta. Pode estar em casa ou apartamento. Há a necessidade de fiscalizar o entorno e o interior de sua casa”, recomenda o virologista.
Caso se detecte uma fonte de disseminação, Spilki indica que se busque o poder público para tomar ações. “Tem que ter a participação de todos. Está comprovado essa participação em minimizar os efeitos da dengue, mas se não forem tomadas as medidas, tanto o mosquito, quanto o vírus, vão conseguir desempenhar todo o potencial e o surto vai ser de todo o tamanho”, alerta.