POPULAÇÃO NOS ABRIGOS

CATÁSTROFE NO RS: De hospital de campanha a "UPA" improvisada, saúde é prioridade nos abrigos

Municípios reforçam estruturas de saúde para atender tanto a população abrigada por conta da enchente, quanto aos demais serviços

Publicado em: 10/05/2024 17:56
Última atualização: 10/05/2024 21:10

O atendimento básico à saúde da população atingida pela enchente exigiu articulações que envolvem desde servidores dos municípios, voluntários, universidades e até o Exército. O acolhimento de pessoas com sintomas de saúde mental e a distribuição de medicamentos, principalmente os de uso contínuo, estão entre os serviços mais procurados. E a chegada do frio também se soma aos cuidados médicos.

Além das unidades de saúde dos bairros, cidades como São Leopoldo, Novo Hamburgo e Canoas – com os maiores contingentes de pessoas em abrigos – mantêm estruturas extras de atendimento nos abrigos.

No maior espaço de acolhimento de Novo Hamburgo, a Fenac, foi montada uma espécie de “UPA”. Com funcionamento 24 horas, voluntários da área da saúde e funcionários municipais se revezam no atendimento às pessoas que estão abrigadas nos pavilhões.


Atendimento de saúde no abrigo da Fenac para abrigados da enchente Foto: Susana Leite/GES-Especial

Houve momentos, no início do acolhimento, que as equipes chegaram a atender até 500 pessoas em um dia. Quem busca atendimento passa por triagem, consulta e já recebe a medicação.

Há uma farmácia montada e até um serviço de urgência. Mas quando é necessário é feita remoção para o hospital. Os abrigos em Novo Hamburgo oferecem, além de atendimento clínico, suporte de saúde mental, com psicologia e psiquiatria.

Em São Leopoldo, funciona desde sexta-feira (10), o Hospital de Campanha do Exército Brasileiro, cuja entrada é pela Avenida Unisinos esquina com Avenida Theodomiro Porto da Fonseca, no portão lateral do 16º GAC, e atenderá das 8h às 19 horas. O atendimento é de livre demanda por chegada.

Os profissionais de saúde avaliam cada situação e estão em permanente contato com o Hospital Centenário ou o Centro de Saúde Feitoria para casos mais graves.


Hospital de Campanha em São Leopoldo começou a funcionar na sexta-feira (10) Foto: Valentin Thomaz/Prefeitura de São Leopoldo

O Hospital de Campanha conta com 20 leitos de observação, funcionando de domingo a domingo. “Aqui teremos acolhimento, hidratação, aplicação de medicamentos, verificação de pressão, entre outros serviços. Os atendimentos de urgência e emergência continuam contando com amparo do Samu, do Hospital Centenário e do Centro de Saúde Feitoria”, explica o secretário de Saúde de São Leopoldo Júlio Dornelles, em divulgação da prefeitura na semana passada. A ideia foi reforçada pela presidente da Fundação Municipal da Saúde, Paula Silva.

“Mais um ponto que vai dar suporte e se soma às equipes volantes. Quando o atendimento não puder ser feito dentro do abrigo, será trazido para cá com mais estrutura”. O atendimento à população desabrigada pela enchente em Canoas conta com dois hospitais de campanha.

O último foi montado no último dia 9, junto ao Hospital Nossa Senhora das Graças na Av. Santos Ferreira, 1864, bairro Marechal Rondon, vai operar das 8h às 18h. O primeiro Hospital de Campanha foi montado no dia 5 de maio junto à Ulbra. A estrutura conta com triagem realizada pela Cruz Vermelha e atendimentos da Força Nacional do SUS, especializada em enchentes.

Além das estruturas extras para atendimento da população que está nos abrigos, os municípios mantêm atendimentos nas demais unidades que não foram atingidas pelas cheias. Em alguns casos, houve unidades que tiveram de passar por mudanças pontuais, contudo o atendimento à população que está em suas casas segue ocorrendo.

Acolhimento completo para quem está no abrigo

Voluntário no atendimento médico no abrigo da Fenac, o psiquiatra Andrés Killing afirma que o serviço prestado naquele espaço é “o 5 estrelas” do que pode ser oferecidos aos desabrigados. O padrão de atendimento a que se refere Killing está no acolhimento. O espaço tem triagem, onde é aferida a pressão arterial e verificados sinais de saúde; consulta com médicos e também com estudantes de medicina e entrega de medicamentos.


Atendimento de saúde no abrigo da Fenac para abrigados da enchente Foto: Susana Leite/GES-Especial

Há uma farmácia montada com remédios que vieram ou por doação ou do próprio estoque da prefeitura. De acordo com o secretário de Saúde de Novo Hamburgo, Marcelo Reidel, quase toda a necessidade de medicamentos é suprida pelo estoque na Fenac.

Além disso, tem o serviço de ambulatório para aplicação de medicamentos ou soro, se necessário. Um veículo da Universidade Feevale, equipado com uma unidade de médica também serve de apoio para casos mais urgentes.


Atendimento de saúde no abrigo da Fenac para abrigados da enchente Foto: Susana Leite/GES-Especial

A gerente de Saúde Mental de Novo Hamburgo, Sayonara de Matos, explica que o atendimento de saúde mental está estruturado para atender as demandas, como os casos de pacientes com sinais de ansiedade ou casos preexistentes de depressão. Mas o espaço pretende ir além.

“Queremos implantar a promoção da saúde mental, com atividades culturais”, afirma. “Todas as famílias que estão aqui, de uma forma ou de outra, foram assistidas. As pessoas com doenças crônicas receberam as medicações de uso contínuo”, aponta Killing sobre os atendimentos prestados.


Universidades prestam apoio aos atendimentos de saúde

As universidades Feevale e Unisinos prestam apoio aos atendimentos de saúde em Novo Hamburgo e São Leopoldo. Equipes médicas, enfermagem, fisioterapia, psicologia e farmacêutica atuam em um grande mutirão.

Coordenadora do curso de medicina da Unisinos, Cláudia Stadtlober explica que as equipes de saúde atendem pessoas abrigadas nos dois ginásios da universidade.

São os mais variados tipos, desde piolho a situações graves que requerem remoção para o hospital. Crises de ansiedade são recorrentes, assim como doenças crônicas, em função do contingente de idosos que estão abrigados.


Equipes do curso de medicina da Unisinos atendem pessoas abrigadas nos ginásios da institução Foto: Unisinos/Divulgação

Mas a aproximação dos dias frios impõe outros cuidados, sobretudo com as crianças e atenção especial para os casos de bronquiolite e pneumonia.

“Temos preocupação com essas doenças, por isso pedimos doações de antibióticos e também os técnicos em enfermagem já estão fazendo ações preventivas, como aspiração das crianças e a lavagem nasal com soro”, explica Cláudia.


Cies da Feevale presta apoio com atendimentos médicos para a comunidade em Novo Hamburgo Foto: Andrieli Siqueira/Universidade Feevale

Além de acolher famílias e seus animais desabrigados pelas enchentes na região, a Universidade Feevale encaminha os casos de atenção em saúde ao Centro Integrado de Especialidades em Saúde da Instituição (Cies), em Novo Hamburgo, e ao Hospital Veterinário Feevale, em Campo Bom.

Além de atendimento médico, odontológico e oftalmológico, equipes do curso de Psicologia estão prestando atendimentos na Fenac, no Câmpus I e no Cies. Já o curso de Farmácia está produzindo medicamentos antitérmicos e kits de higiene para as pessoas e camas para animais resgatados.  

Atendimento para a população em geral

Novo Hamburgo – para os moradores de Novo Hamburgo, que estão em suas casas, os atendimentos em saúde seguem normalmente nas Unidades Básicas de referência, bem como as Upas. Há exceções, porém, naquelas unidades de saúde que foram afetadas pela enchente, estas seguem fechadas: UBS Santo Afonso, USF Kroeff, USF Getúlio Vargas, USF Rondônia 1, USF Liberdade, UBS Liberdade e UBS Rincão. A UBS Lomba Grande abre na segunda-feira (13).

São Leopoldo – A Secretaria da Saúde, em parceria com Fundação Municipal de Saúde (FMS) abrirá 10 unidades básicas de saúde (UBS) para atender a população nos bairros: Rio Branco, Baum, Santo André, Cohab Duque, Cohab Feitoria, Santa Marta, Parque Mauá, Imigrante, Jardim América e Centro do Idoso. O expediente será das 8h às 17h, com intervalo do meio-dia às 13h. Além disso, o Zap da Saúde São Léo, no canal de WhatsApp (51 9 9560-6794), agora inclui o atendimento médico virtual para renovação de receitas de medicamentos de uso contínuo. Desde sexta-feira, o hospital de campanha, montado na esquina nas avenidas Unisinos e Theodomiro Porto da Fonseca, se somará aos cuidados com a população de São Leopoldo. O local atenderá das 8h às 19 horas em todos os dias da semana.

Canoas – Os serviços de saúde das regiões secas de Canoas estão em funcionamento e com atendimento à população. Oito unidades de saúde – Santa Isabel, Estância Velha, São Vicente, Olaria, São José, Igara, Caic e Guajuviras –, a UPA Boqueirão e a tenda que fica anexa, o Hospital Nossa Senhora das Graças e o Hospital de Campanha, junto à Ulbra, contam com triagem realizada pela Cruz Vermelha e atendimentos da Força Nacional do SUS, especializada em enchentes.

Campo Bom – Todas as unidades estão abertas, menos a ESF Operária, que foi afetada pela enchente. O atendimento deve ser retomado nesta semana. Neste sábado, a UBS Celeste abre para dar suporte ao Pronto Atendimento (PA). As Unidades Básicas de Saúde abrem sempre de segunda a sexta-feira, mas sempre uma unidade é escolhida para abrir aos sábados.

Sapucaia do Sul – As Unidades de Saúde estão em funcionamento, embora operem com pessoal reduzido devido às dificuldades de deslocamento dos profissionais. Devido à falta de energia na ESF Fortuna, o atendimento foi realocado para o Cras Oeste, enquanto a UBS Cohab Blocos está fechada, pois os profissionais estão trabalhando nos abrigos. Tanto a UPA quanto o hospital estão operacionais, porém também com uma redução no quadro de funcionários.

Esteio – Os atendimentos tiveram de ser reorganizados. UBS Novo Esteio e Pedreira estão atendendo na UBS Centro; UBS Esperança atende na UBS Claret; UBS Votorantim atende na UBS Sabiá. As demais UBS e outros serviços de saúde atendem com equipes reduzidas, priorizando as demandas aos atingidos pela enchente.

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